A difícil arte de fazer acontecer
Nada de: "bom pessoal, daqui para frente vocês tocam, porquê eu já fiz a minha parte...!". Ninguém terá feito a sua parte enquanto o projeto não tiver sido concluído.
Pense um pouco e responda depressa: de quantos planos, programas, campanhas e projetos você já tomou conhecimento nas empresas e que não aconteceram? Muitos, não é mesmo? Não se preocupe. Isso não ocorre somente na sua empresa, nas empresas em que atuei também aconteciam. Em qualquer organização, a coisa mais fácil do mundo é dar idéias e sugestões - faladas ou escritas. Transformá-las em realidade é que são elas!
Neste momento em que tanto se fala de Gestão / Avaliação / Seleção / Remuneração - tudo isso e muito mais - por competências, eu fico me perguntando: será que estão incluindo no meio das competências essa difícil e tão pouco praticada 'Arte de FAZER Acontecer'? Na política têm-se o o costume de dizer que as coisas não acontecem porquê "falta vontade política". Que tipo de vontade falta quando as coisas não acontecem numa empresa? Na verdade, eu acredito que essas questões - a de fazer ou não acontecer nas organizações - deve ser abordada sob dois ângulos.
Um primeiro ângulo é de natureza constitucional. Não! Nada a ver com a respeitável Constituição Brasileira. Refiro-me à constituição, enquanto estrutura mental, intelectual, psicológica, emocional e até física (leia-se: energia e disposição) dos autores das brilhantes idéias que costumam surgir nas reuniões ou constar nos relatórios e business plans.
Sejamos realistas: em toda empresa há pencas daqueles profissionais conhecidos como 'salto alto', aquele que odeia ou não sabe 'meter a mão na massa', arregaçar as mangas ou 'trocar a obra' - permitam-me as expressões populares.
E isto nem é uma questão de incompetência, é questão de falta de estrutura mesmo, de característica pessoal. O sujeito é "marcha lenta" por natureza e o que ele gosta de fazer é pensar e propor. Fazer, que é bom, não é sua praia. Geralmente bem falante e de vasto vocabulário, este profissional costuma impressionar nas apresentações de trabalho. Depois, impressiona mais ainda quando entrega à diretoria o 'resumo' da apresentação, uma coleção de pelo menos três grossos e pesados volumes. Um verdadeiro trabalho de peso!
A partir daí, a diretoria tem nas mãos um problemaço: "e agora, o que é que vou fazer com isso?". Quase sempre a solução é criar um grupo de trabalho para se encarregar da implantação daquele projeto. Ou seja, acaba de ser decretado o arquivamento do mesmo. Porque quem não participou da elaboração do trabalho não vai entender o espírito, a essência, o processo de quem usou os neurônios e assim vai ter imensas dificuldades para colocar tudo aquilo em prática. Que eu saiba, já passou o tempo de se acreditar de que 'quem planeja não executa'. Aliás, é justamente o contrário: não há ninguém melhor para executar do que aquele que planejou. Não há nenhuma incompatibilidade que impeça músculos e neurônios de trabalharem juntos.
O que podemos concluir com isso? Que a teoria é ótima quando pode se tornar prática. Se não, continuará teoria e de pouco valerá nestes tempos de acirrada competição mercadológica, que cobra objetividade e pragmatismo em todas ações organizacionais. Nestes casos, é preferível dar mais atenção àquele colega que costuma dizer "eu tenho a solução na cabeça, mas o diabo é que não seu colocá-lo no papel".
Vamos ao segundo ângulo da questão, que, em minha opinião, é de natureza psicológica: tema ver com insegurança, com medo de se expor, com desejo de resguardar-se de eventuais fracassos. E explico porque: é muito comodo apenas dar a ideia, e se o resultado não for o esperado, sair-se com "ah, claro que não ia funcionar mesmo! Vocês não seguiram direito as instruções do Manual que preparei...".
Sabe aquela história do técnico de futebol que, mesmo depois da derrota do tima, insiste em dizer que taticamente o time esteve perfeito, mas... O que ele está querendo de fato dizer? Que ele, o técnico, não teve culpa, os jogadores é que não souberam finalizar o chute e fazer gol... E quando a 'casa cai?' "Vejam, os cálculos estruturais da obra estão perfeitos, agora, com essa mão-de-obra que vocês pegaram não sei de onde, não há muro que fique de pés"! Ou ainda: "Meu plano de vendas está perfeito, mas com essa equipe que vocês contrataram, pelo amor de Deus!". Claro que estes são meros exemplos para ilustrar o meu ponto de vista; sei que não cabe ao técnico de futebol fazer o gol e nem ao engenheiro civil levantar o muro. Mas quanto ao gerente de vendas...
Espero que me entendam, é muito mais fácil fabricar culpados quando o gestor ou a própria empresa divide a responsabilidade da missão em times isolados: há os que têm a ideia, os que a colocam no papel, os que fazem os cálculos e projeções, os que compram os recursos e que efetivamente executam o trabalho. Eis o clima ideal para se praticar a "Teoria de Noé", isso é 'nóe' comigo.
A solução? Simples! Sinergia e união. Todos fazem parte de um mesmo cesto. Podem nele existir maçãs, pêssegos, figos, uvas importadas ou bananas tupiniquins. Mas estão todos juntos num mesmo cesto. Podem dar uma saborosa salada - mas se um apodrecer vai todo mundo para o buraco. O nome disso é equipe! Todos pensam juntos e todos fazem acontecer juntos. Em equipe, os envolvidos sugerem, discutem, discordam, concordam, rediscutem e quando chegam à decisão final, TODOS são responsáveis pela execução, por FAZER ACONTECER. Nada de: "bom, pessoal, daqui para frente vocês tocam, porque eu já fiz a minha parte!... Ninguém terá feito a sua parte enquanto o projeto não tiver sido concluído.
Os especialistas em processos organizacionais, marketing e planejamento estratégico são unânimes em afirma que, hoje, leva vantagem não necessariamente aquela empresa que faz o melhor, mas aquela que faz primeiro. Pois então, só fazendo acontecer é possível a uma equipe ou a uma empresa fazer primeiro. Caso contrário, enquanto alguns profissionais se debatem em infindáveis reuniões de planejamento, a concorrência já está no mercado, faturando. E quando finalmente aquela turma de teóricos chegar num acordo e decidir pôr a ideia em pratica, o produto ou serviço já estará obsoleto.
Portanto, eis aqui minha dica da vez: ao fazer sua avaliação de desempenho por competências, convém à empresa saber quem entre seus colaboradores passivamente deixa as coisas acontecerem, concretamente faz as coisas acontecerem ou simplesmente nem sabe que as coisas estão acontecendo!
Agente de Correios-Tratamento na Empresa Brasileira de Correios e Telegrafos
8 aMuito bom artigo, excelente reflexão.