As diferenças do ensino universitário brasileiro e escocês
Tendo feito a maior parte da minha graduação em uma universidade federal brasileira e dois semestres dela na Escócia, é normal que me perguntem sobre as diferenças do ensino nos dois países. Por isso, decidi aproveitar esse espaço e escrever um pouco sobre isso. De antemão, quero deixar claro que nada que está escrito aqui foi resultado de uma pesquisa profunda e sim fruto das minhas experiências pessoais e conversas com colegas em situações similares.
A primeira diferença notável é na infraestrutura, principalmente na área de Tecnologia da Informação. Na University of Strathclyde, eram inúmeros laboratórios de computação, o que permitia que várias aulas fossem lecionadas com o auxílio de softwares de simulações e compiladores, algo muito útil para estudantes de engenharia, sem que os alunos precisassem levar seus computadores pessoais.
A biblioteca é um prédio de cinco andares que contem vários espaços diferentes, alguns para estudos em grupo, outros para estudos individuais, outros ainda chamados de espaços silenciosos, que devem ser previamente reservados e possuem isolamento acústico. A biblioteca conta com mais de 500 computadores para uso dos alunos, ao todo na faculdade, são aproximadamente 1500 computadores, com um sistema de monitoramento de ocupação online, para que o aluno saiba em quais prédios e salas existem computadores livres.
Não é de se surpreender que com tantos computadores disponíveis no campus, eles sejam muito aproveitados pelos professores durantes as aulas. Disciplinas que na UNIFEI são lecionadas no quadro negro, com a resolução de muitos cálculos e muita teoria, em Strathclyde são ensinadas quase inteiramente em softwares de simulação, focando menos na teoria e mais na aplicação prática. O fato das matérias focarem mais na parte pratica contribui com a redução do tempo do aluno em sala de aula.
Enquanto no Brasil é comum alunos com mais de 30 horas semanais dentro de sala de aula, na Escócia se tem um modelo muito diferente. Alunos regulares da faculdade tem em média 15 ou 16 horas semanais de aula. Alunos de intercâmbio, como era o meu caso, tem ainda menos, meu semestre com maior carga horária foi de 12 horas por semana. Além de uma carga horária reduzida em relação ao Brasil, um curso de graduação de engenharia lá dura quatro anos ao invés de cinco. Caso o aluno escolher permanecer mais um ano na universidade, ele já sai com um mestrado.
Segundo a metodologia de ensino deles, a cada hora que o aluno passa em sala de aula, ele deve reservar uma hora de estudos em casa, ou seja, um aluno com 15 horas de aulas semanais está, em teoria, estudando 30 horas na semana, algo similar ao tempo gasto em sala de aula no Brasil. A grande diferença é que ele tem a liberdade e a responsabilidade de organizar suas horas de tempo livre, lazer, estudo e projetos extraclasse da forma que achar melhor. Outra diferença é que, segundo os professores, utilizando o mesmo tempo de horas em sala de aula para estudo em casa, o aluno estaria pronto para as avaliações. Se a mesma conta fosse aplicada a carga horária brasileira, o aluno provavelmente gastaria 12 horas por dia estudando.
Ao contrário da UNIFEI e de outras faculdades federais e estaduais brasileiras, o ensino em Strathclyde não é gratuito, porém possui diferentes preços, dependendo da origem do aluno. Um escocês, ou morador de um país europeu que dá ensino grátis para escoceses, paga em torno de duas mil libras por ano para um curso de engenharia e muitas vezes começa a pagar somente alguns anos depois de formado. Já um aluno de fora da Europa paga em torno de 20 mil libras por ano para o mesmo curso.
Enfim, um aluno de engenharia na Escócia passa menos tempo dentro de sala de aula, se forma mais rapidamente e tem seu ensino mais orientado a aplicações práticas do que à teoria. Conversando com um professor da UNIFEI sobre isso, ele me disse que o ensino no Brasil costuma ser mais detalhado nos fundamentos e na teoria, enquanto que em outros países é comum um ensino mais voltado ao mercado de trabalho. A partir das minhas observações nesse ano em Strathclyde, eu seria induzido a concordar com isso, mas se esse é realmente o caso, como explicar o grande número de Prêmios Nobel e patentes vindos da Europa e América do Norte e ausência de prêmios similares a pesquisadores brasileiros?
Não é o meu intuito que esse texto seja uma crítica pesada a nenhum dos dois estilos de ensino, mas sim um incentivo a uma troca de ideias sobre o assunto.
Abraços
Thomas
Gerente de Projetos
6 aMuito interessante