Diga-me como argumentas e te direi quem és
As redes sociais nos expõem diariamente a uma massiva quantidade de informações. Para cada uma dessas informações, formulamos um juízo de valor de forma quase automática. Isso é característico do ser humano, é parte do que somos e nos fez chegar até aqui, tanto individualmente quanto em sociedade.
Acontece que além do juízo de valor, para vários dos tópicos mais polêmicos da atualidade, especialmente os que dizem respeito a nossa vida em sociedade, se faz necessário um estudo mais aprofundado. Nossas opiniões deveriam ser fundamentadas em estudo e conhecimento se quisermos construir um arcabouço de ideias consistente. Duas consequências negativas ocorrem quando construímos nossas argumentações sem bases sólidas: criamos uma premissa falsa e, portanto, frágil e fácil de ser derrubada. A outra é transmitir uma imagem negativa de nós mesmos.
Essa imagem negativa advém do fato de que se a premissa foi construída sob argumentos falsos, ou o indivíduo não se deu ao trabalho de tentar compreender genuinamente o que está sendo exposto, atacando uma ideia distorcida daquela que está sendo apresentada, ou é desonesto em sua argumentação propositalmente. Essa prática é conhecida como a Falácia do Espantalho, onde se cria um espantalho das ideias expostas de modo a tornar mais fácil sua refutação, ainda que sacrificando a lógica.
Não é difícil encontrarmos exemplos destas situações atualmente. Estatuto do desarmamento, confusões entre punição e prevenção em crimes, privatizações e vários outros temas nos quais o adversário prefere atacar o espantalho do que estudar de fato as premissas e construir sua crítica em cima do que de fato está sendo proposto. Mas este texto não é para você, cidadão comum que ouve um veículo de comunicação qualquer e forma sua opinião a partir disso. Falo com você que se julga formador de opinião e reproduz essas falácias.
A única conclusão possível neste caso é a de que pessoas que têm essa prática são desonestas e de caráter deplorável. Palavras duras não é mesmo? Se você não desistiu da leitura até aqui, vai conseguir entender o porquê de um texto tão contundente.
Mentir para defender sua agenda demonstra no mínimo um caráter autoritário. Afinal, se vale tudo para que a minha vontade seja imposta, não importando o que os dados e as estatísticas mostrem, meu compromisso é apenas comigo e com os meus comparsas. Demonstra também um desprezo pelo futuro, já que ao agir de modo egoísta há um risco de que estas ações tenham consequência graves mais a frente, e sempre tem. Não há ação sem consequência, uma hora a conta chega.
Não há como pensar que alguém com este perfil não seja um mau caráter. Temos acesso a informações contra e a favor de praticamente quaisquer assuntos que você queira formar sua opinião. Construir textos, peças ou até mesmo memes (não se enganem, os memes são mais poderosos que os artigos de opinião) dessa forma falam muito sobre a personalidade de quem as faz. Passou da hora das pessoas se posicionarem de forma mais incisiva sobre o modo como produtores de conteúdo e formadores de opinião mentem descaradamente e ainda tem credibilidade e microfones abertos na mídia tradicional.
Sem meias palavras, quem age de forma canalha é canalha, quem age de má fé é desonesto. Semântica importa, vamos começar a dar nome aos bois, só assim poderemos identificar as pessoas pelo que elas de fato são. Se associar a elas a partir daí dirá muito sobre quem somos.