Dizer ou não dizer. Eis a questão.
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Dizer ou não dizer. Eis a questão.

Tenho uma amiga que adora fazer piadas.

Não, peraí: Tenho uma amiga que adora enviar imagens que deveriam ser uma piada.

Melhor: tenho uma amiga que adora enviar imagens de pessoas sendo humilhadas pela internet que deveríamos achar engraçado.

Hmmmmm: Conheço uma pessoa que acha engraçado imagens que humilham outras pessoas pela sua condição física ou psicológica, e gosta de enviar pela internet como se fosse piada.

Pensando melhor: Existem pessoas que não percebem como é doloroso para quem é o alvo da "piada", ser tratado como motivo pros outros rirem. Muitas vezes por uma condição física que está fora do seu controle ou que não deveria ser estranho, como um defeito congênito ou o tom da pele ou ser mulher, por exemplo.

O bom humor não pode ser justificativa para humilhar, diminuir ou expor ninguém. Trabalhei durante muitos anos da minha vida em agências de publicidade, um local que tem a fama de ser um ambiente moderno, mas que na verdade usa da desculpa "você não entende porque é careta" para apresentar trabalhos que usam esse tipo de piada para vender produtos e serviços.

Quando as discussões eram acaloradas dentro da agência entre quem achava que era normal e quem defendia que era desrespeitoso, já era um bom sinal. Mas geralmente reinava a lei do mais forte, ou do mais poderoso. E algumas vezes fui apresentar peças e campanhas com vergonha de mim mesma, confesso. E me questionava se o problema não era eu.

Maravilha! Vemos um grande movimento de agências e marcas revendo conceitos tradicionais, como as cervejas e os carros, por exemplo. Mesmo que seja porque o público está mudando e quem quiser continuar no jogo precisa acompanhar. Tudo bem. É válido e justo! Conhecer os anseios do público sempre foi uma premissa da comunicação.

Mas pra mim, a grande batalha agora é travada nos grupos privados de conversa. Tenho tido a atitude de me posicionar quando alguém joga aquela piada racista, sexista e sem gracista no grupo, tentando explicar o que sinto, sem ser agressiva, pra que não se torne algo pessoal. Mas não tem jeito, duas coisas sempre acontecem.

Sou taxada de chata politicamente correta ou/e o grupo ganha baixas, a minha ou a da pessoa que se sente ofendida. Paciência. Prefiro ter uma posição clara sobre o assunto, fazendo até que as pessoas pensem duas vezes antes de reproduzir discursos esquisitos onde estou presente, do que ficar engolindo em seco e somatizando ódios que não são meus.

Pra mim, posicionar-se é o novo pretinho básico e que faz a gente se sentir linda e poderosa!


Ana Julieta Teodoro Cleaver

Public Policy and Management Officer, currently serving at the Brazilian Ministry of Management and Innovation in Public Services

7 a

"Posicionar-se é o novo pretinho básico e que faz a gente se sentir linda e poderosa!" -- Arrasou!!!! Padeço do mesmo bem querer à minha volta, em que pesem as baixas e ser tachada de chata, careta, feminazi, etc...

Clarissa Teixeira

Designer Gráfica e Diretora de Arte em Cinema e Propaganda

7 a

É isso mesmo!

Heloisa Rocha

Comunicadora digital, estrategista, criadora de narrativas, podcaster, conexões criativas, curadoria e manualidades.

7 a

Chata e brava! Rs

Claudia El-moor

Designer de Marcas + Sócia da Eye Design + Papelaio

7 a

Brava!

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