Do Limão à Limonada
Nesta semana, ante ao encerramento de um ano absolutamente atípico que em certo momento muitos previam ser de resultados desastrosos em praticamente todos os segmentos, fui convidado para analisar a questão do comércio eletrônico no país e seu impacto quanto ao saldo do varejo como um todo. E se normalmente um tema como esse parece árido, falar de modo acessível e completo foi particularmente desafiador.
O comércio eletrônico tem inúmeras vantagens sobre o varejo tradicional. Mas comparado a outras geografias no Brasil há desafios adicionais de tamanha monta que poderiam perfeitamente colocar a afirmação inicial em cheque, como é o caso da falta de acesso universal à internet, de sua extensão territorial continental, de gargalos logísticos seríssimos, de um sistema de Correios tão ineficiente como ultrapassado, da falta de de mão de obra qualificada, além dos desafios quanto ao comportamento do consumidor si, como é o caso da adaptação ao uso dos meios online, bem como da falta confiabilidade e de problemas de segurança quanto às transações. Ainda assim, o comércio eletrônico não parou de surpreender e crescer, tendo se tornado já hoje variável imprescindível para as empresas que operam no país.
Os enormes saltos tecnológicos que têm sido presenciados nos últimos anos, introduzindo inovações que abrem a possibilidade do surgimento de soluções que têm mudado para melhor nossas vidas, trazendo facilidade, simplificação ou mesmo resolvendo problemas que sequer sabíamos existir, são elementos absolutamente fundamentais para entendermos o sucesso do comércio eletrônico no país. Como resultado, entre os meses de janeiro e novembro de 2020 o comércio eletrônico cresceu 70,3% em volume, chegando a 274,3 milhões de transações (compras), com um total de R$ 115,3 bilhões transacionados.
Vale adicionar que nesse período, ante à obrigação do distanciamento social, muitos brasileiros que ainda não faziam compras online se viram obrigados a encontrar novas formas para manter seus hábitos e atender às novas aspirações que surgiam com o momento atípico por que todos tivemos de passar, impulsionando a entrada de novos usuários no e-commerce. Por sua vez, não foram poucos os comerciantes que da noite para o dia se viram obrigados a iniciar - ou mesmo, acelerar - seus negócios online de modo a que tivessem a possibilidade de pagar suas contas em virtude das perdas e restrições ao varejo tradicional impostas pela pandemia.
Com isso, foram particulamente demandados os marketplaces, lojas que vendem por meio de e-commerces não somente produtos próprios, mas de terceiros, como é o caso de Magazine Luiza, Amazon e Mercado Livre. Para ilustrar, de acordo com BigDataCorp, os marketplaces aumentaram 120% na comparação com 2019, cruzando a impressionante barreira de 200 mil lojas virtuais vendendo por meio deles, tornando-se não somente uma alternativa vital no esforço de compensar o desastroso desempenho do varejo tradicional, como um meio que abre um enorme leque de oportunides para empresas.
E para superar o gargalo logístico no país e viabilizar as entregas dos produtos físicos, muitas empresas com operações online passaram a demandar por soluções fora da alçada dos Correios, com a contratação de transportadoras e a construção de centros logísticos próprios. Além disso, um expressivo número de empresas passou a criar programas internos de capacitação de profissionais, dada a enorme escassez de mão de obra qualificada.
Não há dúvida de que há muita coisa boa ainda por vir! Nesse ano o comércio eletrônico não somente demonstrou a que veio, como provou a todos os que ainda tinham dúvida, ser em uma fantástica oportunidade de geração de receita, como de novas formas de criação e entrega de valor. Dessa forma, se os desafios sanitários por que todos temos passado em decorrência do surgimento do novo coronavirus trouxe não pouca dor e sofrimento, aos que tiveram olhos para ver, mostraram também oportunidades absolutamente fantásticas para converter alguns limões amargos, em um suco farto e doce.