Do Pódio à Liderança: transformando competitividade e agressividade em cooperação
Esta imagem que escolhi para ilustrar este artigo mostra muito de nossa tendência em replicar comportamentos. Mas não precisa ser assim, nós podemos evoluir.
Você já deve ter escutado muitos atletas contando suas histórias. A trajetória de um atleta olímpico é marcada por disciplina, dedicação e uma competitividade incessante. Eu mesmo me vi por anos neste ciclo diário, buscando meus resultados a qualquer custo. No entanto, a transição de uma carreira esportiva para uma função de liderança pode apresentar desafios inesperados, principalmente se queremos apenas replicar comportamentos passados. A minha jornada do pódio à liderança não foi exceção. Esta é a história de como a transformação da competitividade e da agressividade esportiva em cooperação não só salvou minha carreira, mas também revolucionou a maneira como eu lidero pessoas.
O Início: da glória ao caos
Como nadador olímpico e duas vezes recordista mundial, minha vida era definida por metas claras e a constante busca por superação. A rotina e intensidade do trabalho diário ditavam a evolução. No entanto, quando minha carreira nas piscinas chegou ao fim, enfrentei um período tumultuado de adaptação. Experiências frustrantes na gestão da empresa da família e na Secretaria Estadual de Esportes agravaram minha depressão e dificultaram meu recomeço além da vida de atleta.
Foi somente ao assumir o cargo de Gerente de Natação no clube onde passei grande parte da minha vida como atleta que comecei a encontrar o caminho. Inicialmente, tentei aplicar a mesma intensidade e competitividade que me levaram ao sucesso nas piscinas na minha nova função. Contudo, percebi que essa abordagem não estava surtindo efeito. A competitividade extrema que funcionava no esporte estava minando a moral e a performance da equipe. Eu estava, literalmente, na contramão do resultado esperado.
A Virada: investindo em autoconhecimento
Em 2017, reconhecendo a necessidade de mudança, decidi investir no autoconhecimento e em novas abordagens não só de liderança, mas de vida. Mergulhei em estudos de psicologia, comportamento humano e técnicas de liderança colaborativa. Descobri que ao invés de competir entre si, os membros de uma equipe precisariam trabalhar juntos, apoiando-se mutuamente para alcançar objetivos comuns. Mesmo nos casos em que disputavam uma mesma vaga ou uma mesma prova.
A transformação começou com pequenos passos. Introduzi reuniões regulares para discutir abertamente os desafios e sucessos, promovendo uma cultura de feedback construtivo. Incentivei a comunicação transparente e a troca de ideias, assegurando que todos se sentissem valorizados e ouvidos.
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Além disso, desenvolvi programas de mentoria onde atletas experientes ajudavam os mais jovens, promovendo um ambiente de aprendizado contínuo e apoio mútuo. Essas iniciativas começaram a transformar o clima organizacional, gerando um senso de comunidade e pertencimento.
Nem sempre era fácil. Ainda existe uma cultura muito forte de competitividade. As pessoas, usualmente, utilizam as vitórias como a comprovação de seu valor no mundo e passam a buscar isso e somente isso. Volta e meia algumas pessoas retornavam a este comportamento competitivo. Mas cabia à gestão levá-las novamente ao caminho da cooperação.
Os resultados dessa mudança foram surpreendentes. Na última Olimpíada, as duas únicas medalhas da natação brasileira foram conquistadas por atletas do nosso clube, participantes desse novo modelo de trabalho cooperativo. Esse sucesso não foi apenas uma vitória esportiva, mas uma prova concreta de que a cooperação pode levar ao sucesso sustentável e ao alto desempenho.
A nova carreira e a missão da ECO
Após o ciclo olímpico, decidi encerrar minha carreira como gestor esportivo e compartilhar minhas experiências diretamente com pessoas e empresas, principalmente através de palestras, treinamentos e consultorias. Fundamos a empresa ECO (Ecossistema Cooperativo) e começamos a ajudar outras organizações a implementar uma cultura de cooperação.
A missão da ECO é transformar ambientes organizacionais, promovendo práticas colaborativas que melhoram o clima de trabalho e a saúde mental dos colaboradores. Enfatizamos a importância do autoconhecimento e da comunicação aberta, mostrando como a cooperação pode ser um catalisador para a inovação e o sucesso.
Minha jornada do pódio à liderança é um testemunho do poder transformador da cooperação. Ao abandonar a competitividade extrema e adotar uma abordagem colaborativa, não só encontrei um novo propósito de vida, mas também ajudei outros a alcançarem seu potencial máximo. As duas medalhas em Tóquio foram uma prova disso. A cultura de cooperação é muito mais do que uma simples estratégia de gestão. É um caminho para um ambiente de trabalho saudável, produtivo e gratificante, além de mais rentável. A cooperação pode elevar de 20 a 25% a produtividade média, de acordo com a Mckinsey, além de aumentar em até 22% a rentabilidade, conforme estudos da Gallup.
Estou comprometido em promover essa visão, ajudando organizações a criar ecossistemas de trabalho resilientes, bem-sucedidos e romper ciclos de comportamento passados. Bora?