Don Diego.

Em minha profissão de redator publicitário, lido com o que hoje costumou-se chamar de storytelling. Por isso faz o maior sentido escrever aqui algumas linhas sobre Diego Armando Maradona. Sou suspeito em falar dele, porque eu o tenho como ídolo por um simples fato: ele foi muito mais de que um jogador de futebol de outro planeta.

Dieguito foi um exagerado, como diria outro gênio chamado Cazuza, e o foi na acepção da palavra. Justamente porque tratou até o jogo de futebol, dentro das quatro linhas, em verdadeiro teatro acima dos esquemas táticos sobre os quais os comentaristas adoram teorizar. E o fazia com picos que iam do desvio de caráter ao seu intenso brilho. Nenhum jogo resumiu todas as idiossincrasias e todo o significado do craque quanto Inglaterra e Argentina na copa de 1986, aquela em que ele ganhou quase sozinho. Em primeiro lugar porque era mais do que um jogo de copa. Havia ali ainda os ecos de “Las Malvinas”, o que transformava o embate em epopéia. Algo como uma última batalha por se travar na insanidade que foi aquela guerra.

Naquele jogo, Maradona foi o homem de caráter nem sempre reto, quando fez um gol com “La mano de Dios” e foi o gênio que brilhou mais que o sol quente daquela tarde quando driblou todos os atônitos ingleses que tentaram pará-lo sem sucesso. Ele só não entrou com bola e tudo por escolha própria. Até porque, ao contrário do Fio Maravilha da música do Jorge Ben, Maradona nunca teve humildade. E vivia bem com a falta dela. Porque os gênios têm este direito. Naquela tarde mexicana, Maradona resgatou a Argentina, dizendo a todos que as melhores batalhas são as que usam como armas o talento e, porque não, uma certa malandragem. De certo modo, o caso das Malvinas - ou Falklands, como queiram - acabou ali, naquele jogo, pelo menos na cabeça de milhões de argentinos.

Aquele jogo prova que Diego foi um tango, com todas as notas trágicas e intensas, indispensáveis a este estilo musical. Que foi um série, cheio de voltas e reviravoltas, dramáticas e até policialescas. Que foi um livro que conta a história de um homem que lutou com paixão pelas causas que acreditava, enfrentando FIFAs e afins.

Maradona não foi um bom moço. Foi algo muito melhor. Maradona foi um storytelling.

Maso Heck

Creative Director & Head of Art at INNOCEAN Berlin

4 a

👌🌟

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