"Dormir pra quê?"​
Foto: Yara Miranda

"Dormir pra quê?"

Nos últimos tempos, temos visto muitos discursos de "ode à insônia". Alguns influenciadores do mundo dos negócios fazem vídeos de madrugada ou se gabam por dormirem apenas 3h ou 4h de sono por dia... isso, quando dormem.

Em 2012, eu tinha 22 para 23 anos. Naquele ano, eu estava finalizando a continuidade de estudos na graduação (quando você pede mais algum tempo para conseguir uma segunda habilitação dentro do seu próprio curso); trabalhando em uma importante escola particular como professora de 17 turmas (cada uma com 35 alunos, e 19h de aula na semana ao total); atendendo a uma empresa como professora de português para empresários estrangeiros que trabalhavam em grandes empresas brasileiras; dando aulas particulares autonomamente e fazendo trabalhos voluntários. Foi nesse ritmo que eu comecei aquele ano.

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No mês de março, eu já estava muito doente. Acordava todos os dias, mesmo feriados ou domingos, às 6h da manhã, sem despertador, com o coração acelerado como se tivesse perdido a hora. Estava sempre em estado de alerta, não conseguia comer. Com o passar do tempo, já não acordava às 6h: eu simplesmente não conseguia dormir a noite inteira! Fui várias vezes de madrugada ao hospital, pensando que tinha algum problema no meu estômago por estar sempre com ânsia de vomitar. Meus pensamentos pareciam sempre agitados e eu sentia como se estivesse me perdendo de mim mesma, aos poucos.

Depois de muitas idas e vindas ao hospital, uma médica se sentou diante de mim e fez algumas perguntas: quantas horas você dorme por dia? Quantas refeições você faz? Como é a sua rotina? Qual é o seu lazer?

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Eu parei e, à medida que fui respondendo às perguntas, eu me assustei. Eu não tinha hora para comer e nem sabia dizer quantas refeições fazia por dia ou o que comia. Eu percebi que eu virava várias noites trabalhando e, quando dormia, era sempre 2h ou 4h por noite no máximo. Eu não sabia mais o que era lazer! Não dava tempo, porque feriados e fins de semana só serviam para adiantar as coisas para que todas as atividades da semana coubessem na minha agenda.

Procurei um psiquiatra que teve certa dificuldade para me convencer de que eu precisava de um atestado de 10 dias para que ele pudesse me "desacelerar" e começar um tratamento. Quando insisti muito, preocupada com que as pessoas achassem que aquele atestado era "corpo mole" ou algo do tipo, ele disse: "Yara, você pode parar um pouco, se cuidar, voltar bem e fazer um excelente trabalho. Ou você vai continuar nesse ritmo e vai morrer". Foi só assim que ele conseguiu me convencer.

Depois de iniciar o tratamento e começar a ver os resultados, eu prometi para mim mesma que eu jamais faria aquilo comigo de novo. Do que adiantaram as muitas noites sem dormir se precisei ficar parada quando o corpo não aguentou mais? Do que adiantou aquele frenesi se eu estava ficando doente e, com isso, impedida de estudar, trabalhar, sem energia ou prazer para desenvolver projetos que, outrora, eu havia amado?

Este foi, definitivamente, um marco na minha vida. E, na verdade, descobri que eu não preciso me matar para ser produtiva e alcançar meus objetivos: eu preciso me organizar, ter um planejamento e definir prioridades, sendo que, dentre essas prioridades, deve estar a minha saúde, o que inclui períodos de descanso.

Para você que se identificou com este relato, quero indicar uma palestra incrível do pesquisador Matthew Walker, cientista britânico e professor de neurociência e psicologia na Universidade da Califórnia, Berkeley. No TED Talk intitulado "Sleep is your superpower" ("Dormir é seu superpoder", em português), ele trata sobre os impactos da falta de sono para os seres humanos. Para além de impactos na saúde, ele trata de impactos negativos sobre a capacidade de aprendizagem e produtividade.

Dormir não é luxo e nem é hábito de preguiçoso. Dormir bem pelo tempo indicado pelos médicos e pela ciência é uma ferramenta poderosa para aqueles que querem aprender muito, produzir muito e viver muito, para conseguir fazer tudo isso.

E aí, você tem dormido o suficiente para para alcançar os seus objetivos?

Até a próxima,

Yara Miranda



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