DOSES DE EMPATIA
Os calçados que vestem meus pés nesta foto não são meus. São do “seu Cláudio”, um senhor de 67 anos que perdeu a esposa e duas filhas em um acidente de trânsito. Horas depois, retornando para seu lar após ir reconhecer os corpos, Seu Cláudio viu que sua casa havia sido arrombada e que todos os seus pertences haviam sido roubados. Restou-lhe apenas uma filha que não estava no acidente, pois estava visitando parentes em outro estado. Sozinho, triste e sem nada, seu Cláudio sucumbiu e virou mais um morador de rua. Eu chorei ao saber da história do Seu Cláudio. Sabe quando o conheci? Nunca!
Estes sapatos me foram dados em um projeto itinerante que estava sendo realizado no Parque Ibirapuera, em São Paulo, uma mostra/instalação denominada “Caminhando em seus sapatos”, dentro do Museu da Empatia. A proposta era deixar seu calçados e calçar os de outra pessoa. Os sapatos do seu Cláudio eram os que tinham o tamanho mais próximo do meu. Um número menor, na verdade. Confesso que doeu um pouco, mas menos do que a história de Seu Cláudio. Bem menos! Junto dos calçados entregarem-me fones de ouvidos e ouvi na voz do próprio o relato de sua vida. A proposta do projeto era baseada em um provérbio que menciona: “nunca julgue um homem até você ter andado uma milha em seus mocassins (sapatos)”.
Andar uma milha com aqueles calçados para então me colocar no lugar do seu Cláudio? Eu não precisei. Sentei, coloquei os fones e me transportei em pensamento. Eu que nunca fui casado, perdi ali minha esposa. Eu que nunca fui pai, perdi ali duas filhas. Eu que nunca morei na rua, senti ali a dor que também me arrastou até a sarjeta e me deixou desnorteado. Por pouco mais de vinte minutos minha vida não tinha mais sentido e eu não queria mais viver...
Ah, ainda naquele relato ele comentava que sua vida havia dado uma melhorada, tendo deixado as ruas, o alcoolismo e encontrado um pouco de dignidade. E como ele fez isso? Alguém teve empatia, estendeu-lhe a mão, ensinou-lhe um ofício e ofereceu-lhe um lugar para morar. Coisas muito pequenas para a maioria de nós. Coisas grandiosas para Seu Cláudio. É, tal como a empatia que, para uns é tão natural e, para outros, infelizmente é apenas uma palavra com significado desconhecido.
Mas então o que é empatia? Empatia é a capacidade de colocar-se no lugar do outro. Empatia não é remédio, mas acredite em mim, ela pode curar dores profundas. Empatia, talvez, nem sempre salve vidas, mas pode ter certeza que a falta dela pode levar à morte. E ainda falando em remédio, seria tão bom se empatia o fosse, pois melhoraríamos nosso mundo de forma bem simples, dia a dia, com pequenas DOSES DE EMPATIA...