"E a empatia, como vai?"
Tenho transtorno do pânico desde os 16 anos de idade e completo 30 este ano. Metade da minha vida foi marcada por inúmeros episódios de crises severas, acompanhamentos psicoterápicos, etc. Iniciei a vida adulta já tomando medicamentos controlados - necessários para a minha recuperação - e fazendo a terapia com a abordagem indicada ao meu caso.
Catorze anos depois, ainda hoje me vejo às voltas com momentos ruins, que às vezes chegam, inclusive, a serem altamente incapacitantes temporariamente. O transtorno do pânico, em si, não é tão conhecido como a depressão e isso afeta no modo como as pessoas ao redor lidam e, claro, como eu preciso lidar com elas até que conheçam.
Por conta do intenso tratamento lá do início, nada é igual ao que eu passei lá atrás. Nem eu, tampouco, sou mais a adolescente que ainda cursava o Ensino Médio e viu a própria vida virar de cabeça pra baixo. A vida agora é outra: casei, mudei o foco da minha carreira, saí da assessoria de imprensa e mergulhei de cabeça no Marketing, tudo isso depois de ter mudado duas vezes de estado, sendo uma dessas mudanças pra região Sul do Brasil, um choque cultural bastante grande pra mim, que sou nordestina.
Esta é uma rede social corporativa... Esses assuntos geralmente não se falam por aqui. Mas acho válido relatar experiências pra pessoas que estão passando por estes tipos de problemas consigam enxergar possibilidades. Por isso, eu gostaria de levantar a questão: como as empresas estão lidando com pessoas que estão com problemas de saúde mental?
Apesar de ser bastante aberta pra conversar sobre, entendo o quão tabu ainda é este assunto. Não existe uma caixa mágica que faça com que nenhum ser humano, durante o horário comercial, possa depositar todos os seus problemas e performe no auge da sua capacidade produtiva. Existe uma série de problemas de saúde que são, inclusive, causados pelo excesso de trabalho.
No mundo da produção constante e comunicação ininterrupta, existe até a culpa de desligar-se ou de relaxar, como se não estar 24/7 produzindo fosse sinônimo de falta de comprometimento. Existe bastante constrangimento envolvido e estabelecer uma comunicação sobre o tópico não é tarefa fácil, ainda mais ela sendo uma que exige uma grande dose de empatia.
Como ligar para seus superiores e comunicar que você teve uma crise tão forte e repentina que não consegue comparecer ao trabalho ou entregar uma tarefa, se o diálogo sobre saúde mental não estiver presente? "Como será a reação? Devo falar a verdade?"
É um desafio de mão dupla, já que o diálogo é o ponto chave pra que as pessoas recebam o apoio que necessitam.
Já passei por situações profissionais tão duras nesse sentido que o próprio trabalho se transformou em um gatilho instantâneo pra uma situação de crise. Já ouvi que as pessoas não se importariam. Já senti que meu relato foi considerado como um “corpo-mole”, mesmo sempre dando o máximo de mim. Já cheguei até a pensar em desistir da minha carreira. Já ouvi que o funcionalismo público seria a única forma de ter um trabalho. A verdade é que agora mesmo, milhões de pessoas estão trabalhando e dando o melhor de si ou o melhor que podem dar no momento. Eu mesma estou dando o melhor de mim agora mesmo. Não é fácil, eu sei. Acreditem... EU SEI.
Hoje, tenho a sorte de estar numa empresa que respeita a minha saúde, inclusive a mental. Já cheguei a ter episódios dentro da empresa e fui compreendida, respeitada, ajudada e acolhida. Em um deles, inclusive, um dos diretores da empresa chegou a presenciar, o que me fez temer, mas ele apenas conversou com meus pares que me ajudavam no momento e disse: “Falem pra ela que eu estou à disposição pra o que ela precisar”. Isso é ouro.
Nesse dia, não saí com medo de perder meu emprego, mas feliz por saber que aqui eu sou mais que o meu transtorno: sou um ser humano que merece dignidade e respeito.
Mas quantas pessoas podem dizer o mesmo? O que estamos fazendo pra mudar isso?
Fortinet | Regional Account Manager | Ajudando a proteger pessoas, dispositivos e dados em todos os lugares.
4 aSuper texto Jamila! Admiro e agradeço por expor algo que muitas pessoas acabam escondendo para não sofrer preconceito ou por medo de julgamentos. Pessoalmente adoro a pessoa e a profissional que você é. Parabens!
Diretor de Negócios na TELTEC SOLUTIONS;
4 aJamila Carvalho, que o conhecimento sobre esse assunto gere reflexão e empatia. Obrigado por compartilhar e por estar conosco. Desejo toda a saúde, muitas realizações em sua jornada e aproveito para dizer que seus textos e narrativas são muito bons. Parabéns!
Excelente artigo Jamila. Parabéns por levantar essa bandeira. Certamente que outras pessoas vão se identificar, e encontrar um caminho saudável para conviver com a doença.