E o Juros? Sobe ou desce? | A emoção da "Montanha Russa SELIC"
É amigo investidor, você já andou de montanha-russa? Na nossa reflexão de hoje, vamos conversar sobre as idas e vindas da taxa básica de juro brasileira, nossa querida SELIC. Senta que lá vem história!
Como tudo começou?
Sempre gosto de explicar como estamos e como chegamos até aqui, é impossível conversar de taxa de juros sem falar de inflação, e é impossível falar de inflação sem falar de pandemia. Em 2020, muita coisa mudou, o mundo fechou, e as economias que tentavam se recuperar de anos de enfraquecimento, viram em 2018 e 2019 um respiro bom de crescimento, aqui no Brasil, era frequente ver o IBOVESPA em máximas históricas. No entanto, tínhamos uma pedra no meio do caminho, chamado COVID-19 (Primeira fase da nossa montanha-russa). Logicamente, além das intemperes, olhando o contexto sanitário - onde várias pessoas foram atingidas, a pandemia trouxe efeitos significativos a economia. Provavelmente nem eu e nem você acreditava que ficaríamos tanto tempo em quarentenas restritas com tanto tempo em casa. E aí, vem o primeiro fato gerador de inflação, muitos negócios e empresa precisaram, mesmo que de forma temporária, encerrar suas atividades, a demanda estava constante, mas a oferta, por sua vez, foi drasticamente reduzida (segunda fase da nossa montanha-russa). Além disso, provavelmente algo que você se questionou, que com a quantidade de pessoas que estavam em casa, como elas pagariam suas contas? Comprariam alimentos para sobreviver? Sem trabalho, a renda ideal das famílias seriam comprometidas, e aqui chegamos na terceira fase da nossa montanha-russa.
A saída inicialmente por parte de todos os bancos centrais, foi unanime, distribuir liquidez nos mercados, Brasil, Estados Unidos, Zona do Euro e demais, encontraram o caminho em distribuir benefícios, auxílios e liquidez para camadas mais pobres, de risco, estratégicas e empresas em geral, para garantir que a engrenagem da economia não parasse.
Ah e outro fato que não conversamos, nesse período as taxas de juro na totalidade estavam baixas, aqui no Brasil tínhamos a taxa básica de juros em patamares de 2,00% ao ano - a menor taxa desde a existência da SELIC. Lembra que conversamos que antes da pandemia os mercados e as economias estavam se recuperando? A taxa baixa de juro era para incentivar que o recurso fosse aplicado no que chamamos de economia real, é basicamente quando os investidores são incentivados a tirar dinheiro das aplicações financeiras (pois como a taxa de juro está baixa, a remuneração dos investimentos também estará) - o caminho é aplicar nas empresas ou negócios, seja através da bolsa de valores ou construindo seu próprio empreendimento.
Mas voltando ao nosso raciocínio - olha que combinação!!!! Juro baixo, oferta e demanda desregulada, e liquidez alta, (amigo investidor, essa aqui é a parte mais assustadora da nossa montanha-russa) - olha o que aconteceu:
A inflação explodiu!! E não foi só aqui no Brasil não viu! O gringo ficou desesperado!
A última vez que o americano viu uma inflação tão alta foi nos anos 70. Viu! A coisa foi séria! Mas você deve estar se perguntando, mas porque tanto medo da inflação? E é importante salientarmos aqui os motivos:
1º Inflação reduz poder de compra
2º Inflação cria mais inflação
3º Geralmente a camada mais atingida são os menos favorecidos.
4º Após um período é extremamente difícil encerrar um ciclo econômico inflacionário (Inflação galopante)
5º É possível quebrar um país por conta da inflação.
Ai não teve outra saída. Os bancos centrais precisavam tomar alguma medida urgentemente!
Você já tentou parar uma montanha-russa em movimento?
Parar a inflação não é um movimento fácil, mas existem alguns mecanismos são eficientes para ajudar, hoje falemos em específico da taxa de juro, sendo um dos melhores mecanismos para tal.
Mas como o juro altera a inflação? Imagine o seguinte, com a taxa de juro baixa, assim como já discutimos, as pessoas são mais propensas a investir em economia real, as taxas das aplicações estão baixas, e sobra espaço para a aplicação em empreendimentos. Por sua vez, o capital, em suma maioria, vai para a criação de empresas, que produtos/serviços, que empregam pessoas, e geram renda, esses indivíduos compram bens e alimentam a economia girando essa engrenagem.
Mas imagine o seguinte, todo mundo tem renda e acesso fácil para comprar todos os produtos, não haverá bens todos comprarem! (em outro texto explico o porquê). Aí entramos em um problema sério de escassez, e com isso, provavelmente o preço de tudo irá subir, gerando inflação.
Então vem o Banco Central e sobe juros, com isso isentiva a quem tem dinheiro, tirar da economia real e aplicar novamente no mercado de capitais ou no “rentismo”, “diminuindo” o dinheiro que de fato vai para a economia real. Fora que também o dinheiro fica mais caro para se emprestar, então as pessoas não irão se financiarem com dinheiro de terceiros, pelo custo elevado de fazer uma transação no cartão de crédito ou adquirir um empréstimo/financiamento.
Então basicamente o Juro funciona como uma torneira que permite se o dinheiro irá ou não correr de forma fluida na economia. Costumamos dizer no mercado, que a taxa básica de juros é o “custo do dinheiro”, quão mais caro o juros estiver, mais caro estará o dinheiro na economia, e logicamente quão maior for o custo, as pessoas utilizarão menos, causando um efeito de diminuição ou congelamento do ciclo do dinheiro.
Voltando para o Brasil
Então vamos lá, voltamos para o Brasil, e para nossa inflação altíssima que tivemos em 2021/2022, nossa montanha-russa tava nas alturas, prestes a entrar naquela descida que todo mundo tem medo. Então o COPOM decide, vamos aumentar juros!
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A última vez que assistimos uma taxa de juro tão alta, foi em 2016 com a saída da ex-presidente Dilma. Olhando hoje, foi extremamente crucial aumentar os juros, para que a situação econômica não ficasse fora de controle.
Uma curiosidade interessante, o Brasil foi um dos primeiros países que tomou a coragem de aumentar juro, países mais desenvolvidos aumentaram mais tarde, o que ocasionou um fato extremamente raro, o Brasil em uma determinada época (meados de 2023) possuia uma inflação de 12 meses menor que os Estados Unidos.
Com a escalada dos juros, como já conversamos, vem o congelamento da economia, na teoria é muito lindo, o juro sobe, a inflação cai, a população fica em festa, e sai todo mundo feliz. Correto?
ERRADO!! Por mais que inflação seja ruim, ninguém quer também que o custo do dinheiro fique caro, de ter mais dificuldade de tomar crédito com taxas altas, o empresário tem um custo maior nas suas atividades que envolvem tomar divida. Juro alto talvez seja um dos maiores dilemas da economia, é tipo tomar remédio com gosto ruim, a gente sabe que é para melhorar, mas toma de cara feia.
Chegamos (finalmente) nos dias atuais…
É Amigo investidor, então chegamos no nosso hoje, a inflação começou a cair com o juros alto. Mas tivemos outra pedra no caminho (mais uma fase de emoção na nossa montanha-russa) - Até quando reduzir? Já chegamos no patamar de estabilidade? São perguntas que sinceramente todos do mercado fazem e cada dia encontramos respostas diferentes.
É importante, antes de decidir tão pesada quanto essa de reduzir juros, se a economia irá comportar tais cortes.
É necessário entender de fato se a inflação foi embora,
Se o governo tá preparado para comportar seus gastos,
Entender em qual faixa o equilíbrio fica perfeito, entre mínimas e máximas de juros.
Em julho de 2023 começamos a realizar os cortes de juros aqui no Brasil, a expectativa que fechássemos o ano de 2024 com a taxa SELIC próxima de 9,00%. Mas a história foi diferente, o mercado, enxerga que para o futuro talvez tenhamos um cenário diferente do previsto.
O que justifica o movimento de interrupção é o cenário fiscal brasileiro, que por sua vez encontra dificuldade de acertar a mão nos gastos do governo, e como equilibrar as contas públicas.
O mercado por sua vez, vendo um estado mais endividado, vê mais risco, com isso irá precisar de mais taxa de juro para equilibrar as coisas. E mais uma vez tivemos momento de emoção na nossa montanha-russa - talvez vamos precisar subir juros outra vez.
Aqui temos uma expectativa de como deve fechar o ano de 2024, conforme o Boletim Focus, relatório oficial do Banco Central do Brasil.
Ao contrário do que se imaginava, há uma probabilidade de termos aumentos nas próximas 3 reuniões do ano, alcançando a taxa de 11,25% (provavelmente 3 aumentos de 0,25%).
Mas qual conclusão tiramos de tudo isso?
Amigo investidor, olha só quanta história contamos em 4 anos, viu quantas vezes nossa montanha-russa passou por altos e baixos? A lição que quero deixar é que, é normal ter momentos difíceis, voláteis, ou que a situação sai do previsto. Um bom investidor ou profissional do mercado, não é quele que “acerta tudo” - mas sim aquele que está preparado para todos os cenários.
Olhando para o futuro, é bem provável que o Brasil passe por um período ainda de estabilização econômica, aguardando um equilíbrio maior tranquilidade fiscal no país. Com isso será de extrema importância a reunião do COPOM de setembro/2024. Na qual entenderemos com maior firmeza, qual será o tom que o colegiado entenderá mais adequado seguir, e com a ata, documento oficial onde é divulgado o viés das decisões poderemos entender se o futuro da taxa de juro é de alta ou de baixa.
De qualquer forma amigo investidor, esteja preparado, tenha sempre na sua carteira investimentos diversificados, para que em um cenário como esse, você esteja com a cabeça tranquila.
Enquanto isso, continuamos a acompanhar o mercado! Forte abraço!
Will.
Assessor de investimentos | CEA | ANCORD | CPA-20 | MBAs
3 mParabéns irmão, excelente artigo!