E se você não quiser ser promovida(o) a líder? É possível recusar?

Um dos dogmas do mundo corporativo diz que para crescer na empresa é preciso se tornar líder. Mas e se eu não quiser ser líder? Posso recusar? E se eu preferir ganhar um aumento como forma de reconhecimento do meu trabalho mas não assumir a gestão de pessoas? Tudo bem? Pois é. Infelizmente muita gente acha que isso é falta de ambição, motivação ou que a síndrome do impostor está falando mais alto.

Mas não se trata de ter medo em assumir a liderança. Pelo contrário. É uma decisão extremamente corajosa.

Aqui há um problema se as pessoas ao seu redor forem imaturas. Muitos profissionais que tomam essa decisão sabem que estão correndo o risco de “se queimarem” com os chefes da empresa. Mas ainda assim, entendem que estão ganhando muito mais do que perdendo.

Em diversas empresas a convivência entre os colegas liderados é muito melhor do que a convivência entre os pares que são líderes. Conheço empresas onde se tornar líder é assinar uma sentença de Burnout. Hiper competição, excesso de cobranças, abstinência da vida familiar, estresse e outros motivos parecidos fazem com que vários profissionais prefiram dizer: Não, obrigado! Ser líder nestes casos não é preferir não “sair da zona de conforto”, é entrar na zona da morte física, mental e espiritual.

Então, me “deixe quieto(a) onde estou. Sou muito mais feliz e produtivo(a) fazendo meu trabalho do jeito que estou".

E olha que a maior parte das pessoas que se recusam a liderar, possuem pré-requisitos de sobra para se tornarem excelentes líderes. Tenho o costume de perguntar a essas pessoas que recusaram a promoção quais são seus motivos. "Prefiro ser feliz” - é o que mais ouço. Veja que interessante. Para muita gente, se tornar líder é abrir mão da felicidade. Isso é curioso, pois fica claro que, para elas, a liderança é um preço caro a ser pago, ao menos na empresa onde estão.

“Quero ser líder, mas não aqui.”

E muita gente fica assustada ao saber que Fulano ou Fulana recusaram o cargo de liderança. E são as mesmas pessoas que que dizem que as vontades das pessoas precisam ser respeitadas. Mas na hora de saberem que alguém disse “não” para uma responsabilidade maior, julgam e discriminam. Temos um caminho longo para entender os motivos e limites de quem trabalha conosco.

Se tornar líder é opcional. Você não precisa aceitar. E se você já é líder, saiba que pode pedir para “deixar de ser líder” se não estiver mais a fim. Sua vontade precisa ser respeitada. Vão te perguntar os porquês, e também não se sinta na obrigação de dizer tudo o que pensa. Nem sempre vale a pena. O que quero dizer aqui é: Seja dono das decisões de sua carreira. A vida é sua.

Se você optar por assumir uma liderança, faça seu melhor, mas o faça de maneira prazerosa. Conheço diversos líderes que são infelizes e que dariam o mundo para voltar a ser “apenas” liderados. E se você quiser ser líder, faça também seu trabalho de maneira prazerosa, tal qual.

O que está em discussão aqui é ser feliz. Sendo líder ou não.

Nem tudo é culpa da empresa. Pode ser que o ambiente da sua empresa não seja tóxico. Pode ser que seus futuros pares sejam legais. Mas pode ser que seu momento de vida seja outro. Seu casamento está em crise, está com seu pai no hospital, ou mesmo se dedicando a uma pós-graduação. Pode ser que sua vida pessoal te induza a optar por não querer ser líder.

Ouça seu coração sem medo de julgamento. Se ele optar pelo “Não”, então, diga “Não”.

Você saberá o melhor momento de assumir essa responsabilidade. E dane-se o que os outros pensem. Você não está sozinho. Muita gente não quer ser líder. E tudo bem. Seja feliz do jeito que você quiser. Liderança não é certeza de felicidade. Felicidade é ter certeza de que tomou a melhor decisão.

Alberto Roitman é Chief Chaotic Officer da Escola do Caos, autor dos livros Você é o que Você entrega e A Última Chance. Podcaster no Caos Corporativo (Spotify), sócio do Armazem e LinkedIn Creator.