| EDUCAR |

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Agora que chega ao fim mais um ano escolar, dei por mim, nos últimos dias, a refletir sobre a educação que recebi dos meus pais, a mesma que partilho com os meus filhos.

A arte de educar é um processo de aprendizagem constante, não apenas para as crianças, mas essencialmente para nós, pais. Leio, observo, questiono, e faço uma constante reflexão sobre o paradoxo do que nós, pais, na realidade desejamos e estamos a construir para deixar como legado.

Claramente, vivemos numa sociedade altamente competitiva em que parece que nada chega, onde o egoísmo é a palavra de ordem criada ao redor de qualquer passo que possamos dar. 

Vivemos sufocados, como li há uns dias, com a sensação de que se não colocarmos baterias nos filhos eles ficam em último, lá para a cauda e, consequentemente, ultrapassados por outras crianças supostamente melhores do que eles…. Será mesmo assim? Haverá na infância e no crescimento de uma criança o sentido de quem fica à frente e quem fica atrás…? Haverá na realidade umas crianças melhores do que outras?

Os chamados pais modernos fazem questão de traçarem uma meta, desejam que os seus filhos sejam os primeiros, os melhores, os reis das notas. E as crianças que não estão no quadro de honra? São piores que as outras?! Será que em adultos algumas destas coisas farão sentido se não forem felizes?

Para o conseguirem, por diversas vezes os pais não olham a meios. Preparam o caminho até aos limites do inacreditável, e se por hipótese, conquistarem o primeiro lugar… não duvido de que possam achar que é o melhor para os seus filhos esta competição, mas tantas e tantas vezes assisto que o fazem a qualquer preço.

Respeito, mas não replico. Comigo, as minhas crianças estarão certas que eu não lhes devolveria uma pressão ou frustração minha de pai. Talvez aqui resida a diferença, a perspetiva que eu tenho de melhor. Aqui entra novamente o privilégio do Pai que me educou, o meu Pai nunca roubou-me a infância. Vivi a mesma com tudo o que tinha direito, e estou aqui, serenamente, como um adulto feliz.

Porque haveria eu agora, na tentação do mundo em que vivemos, incutir uma pressão desnecessária ao Afonso e à Leonor que hipotecasse ou lhes retirasse a infância. 

A infância é um período de aprendizagem constante, mas também de alegria e diversão. Os meus filhos devem aprender de maneira divertida, devem errar, perder o tempo com as pequenas coisas sãs e inocentes da sua idade, navegarem pela sua imaginação, brincarem e jogarem com outras crianças. 

Não espero que as minhas crianças sejam as melhores – não coloco nem tenho expectativas sobre como serão valorizadas mais do que pela sua essência – e claro que preocupo-me com o futuro, mas não lhes roubo o presente em detrimento do que um dia possam vir a ser. Quero que vivam hoje o seu momento. Crianças na sua mais simples forma de ser, vivendo a sua infância. Serei um pai irresponsável? Acredito que não…

Os meus pais criaram três crianças desta forma, na qual acredito e revejo-me. Eu e os meus irmãos fomos, orgulhosamente para os nossos pais, crianças no passado e adultos felizes no presente.

Para mim, as crianças não necessitam de ser as melhores, somente necessitam de ser felizes. Quando há alguns anos, no início da escola, solicitaram que eu e a Catarina escrevêssemos o que desejávamos que a escola ajudasse o nosso filho a ser no futuro, escrevemos, convictamente, que o que desejávamos no final do caminho escolar era que o nosso Afonso fosse uma criança feliz.

Quando voltarem a questionar-me sobre o que desejo para os meus filhos quando forem grandes, continuarei a responder: Felizes! Escandalosamente. Felizes!

Hoje tenho a certeza de que os meus filhos podem não ser os melhores aos olhos da nossa sociedade, mas são muito felizes!

Pedro Miguel Pires

Senior IT Project & Service Delivery Manager

2 a

Concordo em absoluto. O nosso sistema de ensino está criado para que uns sejam vistos como melhores que outros quando na realidade somos todos diferentes e todos iguais.

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