Eleições e queimadas

Eleições e queimadas

Eleições e queimadas - quatro propostas

Uma questão que preocupa a todos os cidadãos são as queimadas, que são causa e consequência do aquecimento global. As queimadas liberam gás estufa e destroem ecossistemas que absorvem CO2 da atmosfera; aumentando o aquecimento global. Que por sua vez aumenta a ocorrência de queimadas por conta das temperaturas mais altas e de secas mais prolongadas.

É um ciclo vicioso que impera ser revertido. A causa primária é a emissão do CO2 na atmosfera que aumentou nas últimas décadas. O Brasil em 1990 emitiu 197,9 Mt – milhões de toneladas, em 2000 313,7 Mt, em 2010 397,9 Mt e em 2020 414,1 Mt.

Em trinta anos, o Brasil mais do que dobrou as emissões de CO2. Nesse período, a participação das hidroelétricas na produção de energia caiu de 92,8% em 1990 para 61,8% na última mediação. A produção de energia com outras fontes renováveis subiu de 1,7% para 12,1% e a produção de energia com combustíveis fósseis aumentou de 4,5% em 1990 para 23,4% na última estatística.

Quando a produção de energia de fontes renováveis chega ao limite, é acionada a produção de energia com combustíveis fósseis que emitem CO2. Cada consumo a mais de energia é responsável por mais emissões de CO2 na atmosfera, mais aquecimento do planeta e mais queimadas.

A produção de energia é responsável por 26,3% das emissões, o transporte por 44,8%, a indústria por 20,6% e residências e comércios 4,8%. As cidades emitem CO2 e o campo arde. A questão é o que fazer. A solução é diminuir o consumo de energia e aumentar a eficiência de seu uso. Nesse sentido há medidas que os eleitos no pleito municipal podem adotar. Seguem quatro propostas:

I. Congelar São Paulo. A proposta é de congelar a área construída da cidade. O efeito mais importante dessa solução é que limitaria o crescimento da população da cidade e com isso restringiria o crescimento dos problemas. Uma lei congelando a área construída é viável legalmente, pois a concessão de alvarás de construção é uma prerrogativa da administração municipal. Basta apenas a vontade política.

A medida seria feita através de uma lei municipal que fixaria nos níveis atuais a área construída de cada bairro da cidade. Pela lei proposta, para conseguir a autorização para construir uma área em determinado bairro da cidade, seria necessária a comprovação de haver demolido a mesma área no bairro em questão. Dessa forma, a área construída em cada bairro ficará congelada, assim como os congestionamentos e as emissões que eles causam.

II. Imposto verde. Ajustar o IPTU de acordo com a quantidade de verde que cada terreno tem e o uso de painéis solares. Com mais verde aumenta a absorção de CO2 da cidade e com mais painéis solares diminui a necessidade de produção de energia com combustíveis fósseis.

III. Mudar a concepção de cidade feita para carros para cidade feita para pedestres e bicicletas. As cidades brasileiras foram desenvolvidas só para carros. Pedestres e bicicletas são “intrusos”. Falta uma concepção de cidades em que carros e bicicletas compartilhem as ruas em condição de igualdade.

O uso das bicicletas, apesar do aumento dos últimos anos é baixo. O potencial de crescimento de seu uso é elevado e as vantagens são consideráveis. O custo de uma bicicleta é cinquenta vezes menor que o de um carro popular. Ocupa menos espaço nas ruas e nos estacionamentos e não emite CO2.

A infraestrutura para bicicletas melhorou nos últimos anos. O Código de Trânsito tem o que é necessário; no artigo 58 diz que a circulação de bicicletas deve ocorrer nos bordos da pista de rolamento, com preferência sobre os veículos automotores; e no artigo 201, diz que é infração deixar de guardar a distância de 1,5 metros ao passar ou ultrapassar bicicletas. Nunca li uma notícia sobre algum motorista sendo multado por isso. Algo que pode ser corrigido.

Morre mais de um ciclista por dia em São Paulo. É um número que assusta e inibe pessoas de usarem bicicletas. Estudos apontam que nos países em que há um uso proporcional maior de bicicletas, a mortalidade de ciclistas é menor. Os motoristas passam a ter uma percepção maior dos benefícios das bicicletas compartilhando as ruas.

O uso de bicicletas está aumentando, especialmente com os mais jovens, mas num ritmo lento, ainda. Uma nova concepção das cidades brasileiras com carros e bicicletas compartilhando as ruas amigavelmente é necessária. É uma lacuna que pode e deve ser preenchida. Mudando a concepção, aumentará a proporção de bicicletas sobre carros, diminuirão a poluição e os congestionamentos.

IV. Campanhas de conscientização. O problema do aquecimento é global, mas a solução é local. Cada cidadão e cada localidade podem contribuir para melhorar a questão ambiental, na medida do possível, com ações como privilegiar o transporte coletivo, locomover-se a pé ou de bicicleta, economizar água e energia e os 3 Rs – Reduzir, Reutilizar e Reciclar. Urge divulgar as melhores práticas ambientais.

A mudança é possível. Um exemplo emblemático é Paris, com o plano "Paris, Prioridade ao Pedestre". O objetivo é aumentar o número dos deslocamentos de pedestres e de ciclistas. Medidas como limitar a velocidade de carros a 30km/h em muitas ruas, priorizar o uso de transportes coletivos e de bicicletas, limitar o uso de automóveis em certas ruas e a construção de mais ciclovias.  O resultado é palpável. Pôde ser observado nos jogos Olímpicos. Outras cidades como Milão, Sevilla e Bruxelas adotaram planos parecidos.

O momento para debater mudanças e como reduzir emissões é agora. O pleito municipal pode ser visto como um contrato com um fornecedor, com seus planos para melhorar o futuro da cidade. Exige uma escolha criteriosa, não há como cancelar o serviço durante quatro anos. São Paulo é a cidade que mais emite CO2 no Brasil, pode ser pioneira sendo a que mais vai reduzir as emissões nos próximos anos. Ganhariam os paulistanos, ganharia o campo brasileiro e ganharia o Brasil.

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