Eles Preferem Suas Crenças. Não Fatos. Um pouco sobre a Pós-Verdade

Eles Preferem Suas Crenças. Não Fatos. Um pouco sobre a Pós-Verdade

Falar que a internet está simplesmente fervendo nos últimos dias e, acho, que assim vai permanecer por algum tempo ainda, não é lá grande novidade. Falo de forma específica do nosso país e seu momento eleitoral. Ambos os lados - se é que existem apenas dois - declaram seus apoios e reprovações na rede de diversas formas. A principal delas, como já é de costume na internet, a curadoria de conteúdo se apropriando de discursos de terceiros e se valendo dela para construir uma narrativa compartilhada. Histórias paralelas e simultâneas com agregação de sentido e transformação constantes. Tornar público sem amarras, chegando a uma sensação de liberdade quase lisérgica. Sem hierarquizar fontes, valorizando o tempo real dos acontecimentos e sem o mínimo de autenticação de fatos (ou informações).

Tudo isso que falei acima também não é novidade e já são características da cibercultura desde o seu início. Mas existe algo bem interessante a ser analisado. Não há mais a necessidade de veracidade, de conexão como fato, mas sim de uma afeição sentimental com crenças pessoais. Os discursos que vão se formando não se baseiam mais em algo comprovadamente verdade. Essa é a Pós-Verdade.

Não vai adiantar mostrar as dezenas de vídeos indo totalmente contra, por vezes, a própria liberdade de quem você conversa. A real é que existe uma conexão muito maior que une ele ao que ele acredita, suas emoções. Isso passa por religião, educação familiar, experiências de vida e uma série de outros fatores que nada têm a ver com fatos objetivos. Isso já vem acontecendo e o sintoma principal você já deve ter ouvido falar por aí, o tal Fake News. A proliferação de notícias falsas, aliada a uma propensão perigosa a acreditar em tudo que conversa com suas crenças oferece um desafio a ser vencido. Até mesmo para a imprensa, que vem perdendo bastante espaço na disputa com essa fábrica de discursos. Isso aconteceu na eleição do Trump nos EUA e vem se repetindo no Brasil. E, para deixar as coisas ainda mais quentes (leia-se confusas), os filtros provocados pelos algoritmos da internet vão oferecer cada vez mais conteúdos que corroborem com tudo o que o usuário pesquisa e já consome na internet, acirrando o discurso e o isolando em seu mundo ideológico. Entendeu o que está acontecendo? A Pós-Verdade está presente na eleição brasileira e está catalisada por uma série de outros “combustíveis” como um cenário políticos desacreditado e uma crise econômica que já se arrasta por anos no país.

Equilíbrio e temperança são coisas cada vez mais raras nos discursos e assim, creio, que vai ser muito tempo ainda. Esse acirramento, como já vemos todos os dias, é muito perigoso devido a uma série de motivos óbvios, mas são sim compreensíveis. Entender o que está acontecendo é um primeiro passo para evoluirmos como cidadãos, eleitores e, consequentemente, como país.


Quanto à liberdade de falar e acreditar em qualquer coisa, até ela pode ser perigosa. Inclusive contra si mesma. Equilíbrio e uma pitada de bom senso devem ajudar bastante daqui pra frente. Sigamos.

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