Eletrônicos: vilões ou mocinhos. Você sabe lidar?

Eletrônicos: vilões ou mocinhos. Você sabe lidar?

Sabe quando você está em casa com tempo disponível e fica o tempo todo no celular? 

Infelizmente, esse tem sido o comportamento da maioria dos pais. Não porque não estejam interessados em seus filhos, mas porque a tecnologia e os smartphones estão muito evoluídos e permitem quase tudo. Desde ao que, originalmente, foi o motivo de sua invenção que é realizar uma ligação, a uma operação financeira. 

Percebo em bares, cinemas, teatro e até em reuniões de família, as pessoas utilizando o celular compulsivamente. Não conseguem permanecer minutos sem voltar os olhos para a tela e verificar se chegou alguma mensagem ou quantas curtidas receberam na rede social.  

Para se ter uma ideia, de 2011 a 2017, o número de celulares em residências cresceu de 52% para 98%. Temos 447 milhões de dispositivos digitais (computador, notebook, tablet e smartphone) em uso no Brasil (corporativo e doméstico), ou seja, mais de 2 dispositivos digitais por habitante em junho de 2022. A Anatel informou, em janeiro 2022, que há 251,3 milhões de smartphones em uso no Brasil, ou seja, mais de um por habitante.

Resultado: o pouco tempo que os pais têm acaba sendo consumido por este recurso que, na verdade, existe para facilitar e tornar nossa vida mais ágil e dinâmica. Porém, o que os pais não percebem é que esta postura afasta e diminui a interação com as crianças e entre os pares.  Se você age desta forma, preste atenção, pois seu filho pode estar sentindo sua falta. As crianças adoram brincar com os pais e inventar histórias e aventuras. 

Recentemente, foi publicada uma pesquisa americana, no Vale do Silício, na Califórnia que trata sobre o comprometimento e danos causados ao desenvolvimento emocional e educacional de crianças até os 11 anos, com uso indiscriminado aos eletrônicos.  

Lá, em Palo Alto, o uso de tecnologia não é permitido até a 4ª série primária. E isso não se restringe somente aos celulares. Vai além! A pesquisa demonstra que o uso indiscriminado de tecnologia como celulares, calculadoras eletrônicas e “tablets”, por exemplo, pode distorcer a curva de aprendizado infantil. Os especialistas afirmam que a utilização excessiva de eletrônicos pode elevar os riscos de suicídio, depressão, ansiedade, problemas na visão e distúrbios do sono. Isso mesmo!! A luz do celular ou do tablet penetra nos olhos e confunde o cérebro e o relógio biológico.  

Outros estudos realizados pela da BBC Brasil afirmam que crianças que usam o celular antes de dormir podem apresentar riscos de obesidade, baixa imunidade, redução de crescimento e depressão. Noites mal dormidas afetam a estabilidade dos hormônios como: melatonina, leptina, cortisol e GH - hormônios do sono, saciedade, emoções e imunidade e crescimento, respectivamente.   

O uso demorado do celular antes de dormir pode, ainda, deixar o cérebro em constante alerta, prejudicar o processamento da memória, interromper a noite de sono várias vezes, afetar a concentração durante as aulas e alterar o comportamento da criança, entre outros. 

Outro dado interessante é que 57% das crianças até os 5 anos de idade usam aplicativos, mas 14% não sabem arramar seus cadarços dos tênis. 

Para agravar o cenário, uma pesquisa indiana comprovou que 65% das crianças estão viciadas em dispositivos eletrônicos, devido ao isolamento provocado pela pandemia do coronavírus, já que as crianças têm utilizado mais os celulares, tabletes e jogos eletrônicos.  

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, o tempo de uso diário de telas na infância deve ser liberado de acordo com a faixa etária de cada criança, recomendando que até os 2 anos, os pais não devem liberar o contato com os dispositivos; dos 2 aos 6, podem acessar até 1 hora por dia, dos 6 aos 11 anos, 2 horas e, a partir dos 12, até 3 horas diárias. 

Eu proponho aqui uma reflexão com você: quem manipula quem? Quem toma a decisão de ligar ou desligar o eletrônico? Somos nós que decidimos o tempo de uso ou estamos “dominados” pelos equipamentos? Nos tornamos reféns da tecnologia? Um recurso cujo objetivo é libertar e aproximar as pessoas por meio da comunicação e do conhecimento tem sido usado como isolamento e prisão.  

Como forma de compensar a ausência, muitos pais acabam investindo, excessivamente, em brinquedos ou outros bens de consumo e não percebem que a atenção dada aos seus filhos é o maior dos bens. Terceirizam integralmente a educação de seus filhos, trabalham fazendo horas extras em casa, respondendo e-mails pelo celular. O que fazer, então, para evitar tais danos? Seguem algumas estratégias como sugestão para você adotar: 

  • Mostre interesse pelo dia a dia da criança e peça para ela descrever como foi. Incentive o diálogo de uma forma divertida e leve.
  • Organize programas ao ar livre, como parques, caminhadas, praia, trilhas leves, jogar bola, andar de bicicleta, patins. O contato com a natureza faz bem para a mente e para o corpo.
  • Libere a sua criatividade e invente brincadeiras dentro de casa. Use jogos, conte histórias, leia um livro, crie artesanato, pratique cozinha infantil, monte uma peça de teatro. Cante e dance!  A música é excelente para estimular o aprendizado da criança. Uma sessão pipoca vendo um desenho ou filme infantil vai aproximar vocês, além de acalmar os pequenos.
  • Converse sobre a internet e seu uso. Riscos e ganhos. Estejam conectados com seus filhos. 
  • Denuncie “cyber crimes”. Isso vai ajudar a reduzir os perigos de utilização e proteger seus filhos.  
  • Evite deixar a criança usar o celular entre 30 minutos e 2 horas antes de dormir. Eu sei que é difícil, mas você pode tentar! 
  • Reduza o brilho da tela. Alguns aparelhos possuem configurações programáveis para períodos noturnos. 
  • Desligue os aparelhos em vez de somente silenciar, porque os alertas luminosos podem acordar a criança. 

Por fim, mas não menos importante, seja o exemplo. Evite usar a máxima “eu posso porque sou adulto”. No mais, brinquem com seus filhos! 

Lembrando que estou no Instagram, Facebook, Spotify, no meu site e no YouTube da Academia de Pais Conscientes.

Um abraço e até o próximo artigo! 

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