Em busca da diferença

“O desejo do analista não é um desejo puro. É um desejo de obter a diferença absoluta, aquela que intervém quando, confrontado com o significante primordial, o sujeito vem, pela primeira vez, à posição de se assujeitar a ele. Só aí pode surgir a significação de um amor sem limite, porque fora dos limites da lei, somente onde ele pode viver.”
(LACAN, 1964, p. 267)

Depois mais de um século da publicação da obra A interpretação dos sonhos (1900), a psicanálise ainda é objeto de suspeitas, de olhares desconfiados. Seria por conta da formação dos psicanalistas? Talvez, pelo fato de a psicanálise prescindir dos estudos das neurociências, tão na moda nos dias de hoje?

Alguns pacientes reclamam que os psicanalistas não conversam com eles. Queixam-se dos prolongados silêncios. Preferem que o profissional lhes dê acolhimento, que lhes dê orientações. Por outro lado, há psicólogos que acusam a psicanálise de não ser uma ciência. Denunciam a ausência de metodologia experimental ou de fundamentação científica.

A psicanálise incomoda. Ao contrário de buscar fundamentação nas neurociências, a psicanálise denuncia psicoterapias que desconsideram a fala do paciente sobre seu próprio sofrimento. Ao contrário de buscar o ajustamento do paciente às demandas sociais, a psicanálise investe toda sua força na singularidade do paciente, em sua diferença absoluta.

A ética da psicanálise é a ética do desejo. Talvez, seja por isso que cause tanto incômodo.

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