Não é que você não sabe ler

“O modo como nossos pacientes apresentam suas ideias espontâneas, no trabalho psicanalítico, nos fornece a oportunidade para algumas observações interessantes. ‘Você agora vai pensar que eu quero dizer algo ofensivo, mas não tenho de fato essa intenção.’ Compreendemos que é a rejeição, através da projeção, de um pensamento que acabou de surgir. Ou: ‘Você pergunta quem pode ser esta pessoa no sonho. Minha mãe não é’. Corrigimos: então é a mãe. Tomamos a liberdade, na interpretação, de ignorar a negação e apenas extrair o conteúdo da ideia. É como se o paciente houvesse dito: ‘É certo que me ocorreu minha mãe, em relação a esta pessoa, mas não quero admitir esse pensamento’.”
(FREUD, 1925, p. 276)

Dizemos mais do que queremos dizer. E naquilo que dizemos sem querer podemos ser pegos em flagrante. Pronto: fomos traídos por nossas próprias palavras.

Exemplos não faltam: “jamais diria que você é uma péssima funcionária” ou “longe de mim dizer que você é um amante sem sal e sem açúcar”. Nesses dois exemplos, se anularmos as expressões “jamais diria que” e “longe de mim dizer que”, encontraremos o conteúdo que o sujeito falante não quer reconhecer.

As negações revelam os conteúdos que preferimos não reconhecer como nossos. Por outro lado, também apontam para a nossa censura, que nos impõe regras de conduta e de comportamento.

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