Em busca da produtividade

Em busca da produtividade

São necessários quatro brasileiros para fazer o serviço de um americano ou quatro brasileiros precisam trabalhar 44 horas por semana para produzir o mesmo que um alemão produz em 38 horas. Esses são dados divulgados no The Conference Board Total Economy Database®, que mede através da relação PIB/Quantidade de empregados a produtividade per capta dos países.

Nesse estudo o Brasil aparece à frente apenas de China e Índia, estando atrás de seus vizinhos Chile e Argentina. A produtividade do trabalhador brasileiro regrediu a níveis da década de 1950, impulsionado pela crise econômica, que faz subir juros para conter a inflação alta, aumenta o risco cambial pela flutuação da moeda e faz sentir cada vez mais pesados os custos trabalhistas, uma vez que a rigidez da CLT trata linearmente todos os setores da economia, não permitindo nenhuma flexibilização em função da sazonalidade dos negócios.

Nos anos 2000 houve um ganho de produtividade no Brasil, motivado pela expansão da economia interna com base no consumo das famílias, mas que se mostrou insuficiente para compensar as perdas de competitividade verificada nas décadas de 1980 e 1990.

Os fatores são estruturais e já são bem conhecidos: baixo nível educacional e falta de qualificação da mão-de-obra, além dos gargalos na infraestrutura e os baixos investimentos em tecnologia e inovação. Não há solução de curto prazo para esses problemas, a única saída para as empresas nacionais, sobretudo aquelas menores e com menos acesso ao crédito, é buscar fazer mais com os recursos disponíveis.

A busca pela eficiência no uso dos recursos deve passar por uma revisão do funcionamento dos processos internos e de encontrar alternativas para seu aperfeiçoamento que permitam a redução do tempo de trabalho, através da eliminação de duplicidades, fragilidades e gargalos, e também da sua simplificação, sem perder de vista a necessidade de mantê-los/torna-los seguros.

Outra atitude é formalizar os processos em operação e que não estão formalizados, identificando o seu fluxo de atividades e os responsáveis pelas suas etapas. Reconhecidos e formalizados os processos é importante a sua padronização, em linguagem simples, através de normas e procedimentos, que possam ser seguidos pelos responsáveis pelas atividades. Isso facilita o processo de recrutamento e seleção e também o período de treinamento e adaptação de novos colaboradores, com inegável contribuição para a produtividade.

É claro que é desejável a automação de atividades, mas isso sequer foi mencionado até aqui. O que percebemos – muitas vezes – é que as empresas investem em ERP’s, mas continuam executando atividades manualmente ou com o uso de planilhas eletrônicas, sendo o ERP utilizado apenas para registro das operações.

A baixa utilização dos ERP’s é fator de baixa produtividade! Isso se dá em decorrência da falta de processos estruturados, que não podem ser executados no sistema, que passa a ser subutilizado. Tem-se aí um prejuízo duplo: o recurso investido na aquisição do ERP e a produtividade que pode até cair pela duplicidade de tarefas, isto é, tarefas realizadas manualmente e depois inseridas no sistema.

As pessoas são parte fundamental nesse processo de reestruturação. Neste sentido, precisam ser revistos os modelos de recrutamento e seleção, a partir de uma definição clara de atribuições e responsabilidades e adequação de perfil às funções. As pessoas que conhecem a sua atividade estão mais aptas a reconhecerem a sua responsabilidade por riscos e controles e a apresentarem soluções para controlar os seus resultados.

As fragilidades identificadas devem receber tratamento especial, haja vista que possuem potencial de gerar prejuízos ou perdas para o negócio ou ainda favorecer comportamentos indesejáveis na organização. O seu reconhecimento permite a priorização no tratamento e a discussão das melhores estratégias de controle.

As deficiências estruturais, como dissemos, não serão resolvidas no curto prazo, entretanto, elas afetam os negócios e as empresas de modo geral. Uma empresa melhor estruturada vai ter maior facilidade em lidar com os desafios da burocracia estatal ou os gargalos da infraestrutura, além de possuir maiores alternativas para tratar as questões fiscais e tributárias que seus concorrentes. Além disso, podem construir um ambiente empresarial motivador para os seus colaboradores e atraente para os talentos do mercado de trabalho. Isso vai aumentar a sua produtividade!

Átila Gomes

Consultor de Supply Chain | Professor Universitário | Gerente de Suprimentos | Gerente de Compras

8 a

Excelente artigo!!! Acrescentaria a falta de cultura de solução de problemas de forma estruturada onde se busca eliminar as causas raiz. Abraço Guilherme Machado Jr

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