Em busca do Mito Pessoal
Quando nos deparamos com um mito, uma lenda, ela nos toca porque fala de algo que existe em nosso interior, em nossa psique. O mito fala sobre nós, não é algo criado no passado e sem sentido. É só vermos o que Freud tem a dizer sobre Édipo e Narciso. Quando nos interessamos por um mito, é porque ele ressoa em nosso interior. As religiões tem força justamente por estarem baseadas em mitos que transcendem tempo e espaço e dão respostas as nossas ansiedades e medos.
Porém, em nossa sociedade, existe um erro de compreensão das tradições míticas. O crente acredita que os símbolos da mitologia se referem a eventos históricos concretos (dogmas). Como não acreditamos piamente nisso, pois a ciência desmente a realidade concreta do símbolo como dogma (travessia do mar morto, dilúvio, nascimento virginal, etc...), ocorre uma dissociação simbólica onde perdemos a noção do símbolo, e como este se refere a algo dentro de nós enquanto representante de nossa psicologia, perdemos a oportunidade de, através do símbolo, penetrar em nosso inconsciente, nossa alma. Da mesma forma o não crente, por não acreditar na religião, e, portanto, em seus símbolos, perde, assim como o crente, a oportunidade de aproveitar o valor de metáfora da mitologia.
Esse é o grande mal de nossa civilização e nos deixa mais desamparados.
A mitologia oferece modelos para nos ajudar a compreender qual o sentido de estar vivo. O antropólogo Adolf Bastian propôs que os mitos ao redor do mundo são baseados nas mesmas “ideias elementares” , que Gustav Jung, por sua vez, chamou de arquétipos, que estão na base do inconsciente e coletivo - pensamento local, folclórico, popular (localização cultural do mito) e um pensamento elementar (transcende o espaço e o tempo - arquétipo). Quando analisamos o mito devemos buscar seu significado elementar, arquetípico para poder compreender seu aspecto transcendente. Desse modo a mitologia apresenta o campo de possibilidades nas quais podemos viver a nossa vida.
Porém, como recuperar o sentido perdido do Símbolo e utiliza-lo para nosso crescimento pessoal ? Esse é um tema para um próximo post.