Em busca dos pontos de convergência: por que é tão difícil poder expressar livremente nossas opiniões?
Bastou eu postar uma foto no Facebook e no Instagram ao lado do Caio Coppolla – comentarista político do programa Morning Show da rádio Jovem Pan – e recomeçaram as indiretas por parte de colegas de trabalho e de conhecidos identificados com o balaio de gatos que virou a esquerda brasileira.
Na verdade, dias atrás, por causa de um post meu no Facebook sobre feminismo tóxico – que de post está virando algo bem maior, aguardem – já havia recebido indiretas questionando meu caráter e também as condições da minha massa encefálica e se referindo a mim como “indigente intelectual”. Ninguém até agora se atreveu a usar as acusações escalonadas de machista, imperialista, entreguista, fascista, bolsominion, nazista, etc porque existe uma coisinha chamada “vida real” que refuta qualquer um desses rótulos: eles simplesmente não colam em mim pois meu comportamento, minha ética, meus valores perante minha família, meus amigos, minha comunidade mostram na prática que tento construir dia a dia o mundo de igualdade e de justiça social tão sonhado pelos projetos de esquerda. Infelizmente sei que minha postura esquiva a certas agendas e narrativas totalitárias e radicais me tornou uma espécie de pária no meu meio de atuação profissional (tradução, mercado editorial, comunicação e ensino de idiomas).
O que confunde muitos dos meus colegas de trabalho e conhecidos é a minha agenda liberal, a total ojeriza a um Estado inchado e ineficiente, o meu repúdio absoluto a um projeto socialista que prega uma igualdade artificial imposta pela restrição de liberdades individuais e do livre mercado dentro da sociedade. De resto, eu me identifico com causas justas que foram tomadas como lutas exclusivas da esquerda, como o combate ao racismo, ao machismo, à homofobia, à degradação do meio-ambiente e o apoio a uma educação pública de qualidade, a uma cidade com menos carros e mais favorável à mobilidade do pedestre, ao direito a serviços de saúde e de saneamento básico apropriados aos menos favorecidos.
Percebe-se que, no fundo, todos nós queremos o mesmo mundo, só que por meios diferentes. Enquanto a turma #LulaLivre fecha os olhos à corrupção em nome de um santo político todo-poderoso – portanto, populista - no comando da mão forte do Estado, eu prefiro acreditar no poder da sociedade organizada na qual cada indivíduo – respeitando leis bem elaboradas e princípios éticos e morais justos e livres de dogmas religiosos – cuide do seu crescimento e da busca pela felicidade sem ferir o direito de outros membros de sua comunidade. Parece simples, não é? Só que a falta de condições para um debate realmente construtivo tornou o entendimento entre visões diferentes algo impossível. Primeiro te acusam do pior que podem imaginar, para depois – se houver chance – te ouvir e entender as razões que te levam a pensar diferente, a não seguir cartilhas e agendas, a ter independência de pensamento, algo que parece raro num Brasil dividido entre dois grupos radicais barulhentos e praticamente idênticos no desprezo pelo bom senso.
Infelizmente, desde o recrudescimento do debate político que começou em 2014 na época da reeleição de Dilma Roussef (quando já era possível perceber que estávamos condenados graças ao segundo turno disputado com um pulha como Aécio Neves), divergir desses grupos antagônicos com relação aos meios para se chegar a um Brasil melhor parece crime. O termo “isentão” virou ofensa, quando na verdade deveria ser elogio a quem consegue ver o que há de bom nas propostas de um lado e de outro, sem estar preso a uma ideologia ultrapassada ou a grupos conservadores, ambos anacrônicos.
Estamos no século XXI há quase duas décadas. Já era para termos mais maturidade no debate político e econômico. O que será que aconteceu? Eu me faço essa pergunta quase que diariamente.
Um princípio de explicação para este fenômeno está na imaturidade do lema “inimigo do meu inimigo é meu amigo”: os grupos se unem sempre contra alguma coisa, e jamais a favor. O pior é que essa animosidade toda faz qualquer um ter medo de expressar suas ideias, suas opiniões. Há uma falsa liberdade de pensamento e de expressão no ambiente corporativo e em nossas redes de contatos. Que época triste de se viver em que ter opinião e saber ouvir a opinião do outro – qualidades básicas numa sociedade desenvolvida – é motivo para atrito, para conflito e rupturas unilaterais. Como bem disse o Caio Coppolla no painel, bastam poucos minutos de conversa franca à mesa de um bar para que dois supostos antagonistas encontrem uma base de entendimento. Pena que isso está cada vez mais raro.