Em tempos de Covid não limpe suas "armas"​
Provérbio português

Em tempos de Covid não limpe suas "armas"

Provérbios, segundo estudiosos, têm seu rastro na história lá atrás, no século XII. Mas admite-se que sua origem é ainda mais remota. Não sendo possível registrá-los, ficaram apenas na tradição oral, sendo difícil datá-los com maior acuidade. Seus congêneres, os seybats, seriam ainda mais longínquos, da era aC. De origem filosófica ou religiosa, ou ambas, eles aí estão até hoje, nos trazendo pensamentos, orientações conselhos, ensinamentos, a palavra de sábios ou até a palavra de Deus.

Essa introdução tem um propósito, a de evidenciar a sabedoria que cada provérbio tem em si mesmo. Em tempos de covid-19, um em especial me veio à mente. Você certamente conhece, eventualmente já citou: "Em tempo de guerra não se limpam armas". Se entendido ao pé da letra, esse provérbio - tudo indica, de origem lusa - não faria sentido nesta guerra que vivemos atualmente contra o coronavírus. Afinal, o que mais fazemos é limpar tudo, o tempo todo*.

Sucede que, tal qual uma tradução entre dois idiomas, o literal, na maioria dos casos, não traduz o real sentido. O que esse famoso ditado nos diz é que não devemos dar trégua para o inimigo. Em situação de necessidade ou de conflito, devemos estar sempre alerta e usar todos os recursos que tivermos ao nosso alcance, mesmo os mais drásticos. A vitória virá da vigilância e da ação. Por isso mesmo, estando no campo de batalha, não "perca" tempo limpando suas armas, use-as.

Tenho percebido o exercício desse provérbio nos últimos tempos. Muito presente nos cuidados pessoais, nas interações sociais, na empresa onde trabalho (o que muito me orgulha). Ouso dizer que a pandemia criou um pandemônio e dele nasceu uma nova civilidade e um respeito maior pelo ser humano. Posso ser otimista demais - o sou, por natureza, mas essa é minha visão. Vejo as pessoas mais recolhidas, mas também mais altruístas. Mais focadas no essencial e até no trivial, como um lanche com a família numa tarde de domingo.

No banco onde trabalho vejo uma liderança verdadeiramente empática, que se desdobra pra acompanhar a evolução da pandemia e as recomendações de órgãos de referência da saúde, pra definir os rumos, para ativar "escudos protetores" de seus colaboradores. Muita gente trabalhando em casa, conectado, em rede. Uma nova rede se fortalece. Com um pé na home, um pé no office. Longe do local habitual de trabalho, da equipe, mas perto, graças à tecnologia. Um novo modus operandi de produzir se expande. E, com isso, muda-se a cultura de uma empresa. Estar presente, entregar, não implica - necessariamente - em proximidade física.

Para os clientes, além de toda a proteção envolvendo os funcionários, que chega até eles, um portfólio de canais alternativos de atendimento e as melhores condições em serviços e produtos pra que a vida siga seu rumo, sem mais sobressaltos, além dos trazidos pela pandemia.

O vírus parece ter nos invadido para infectar, mas também pra nos desinfetar de uma jornada de ritmo frenético alucinante, em que a luz do dia se apaga muito antes de pararem de brilhar as luzes azuladas das telas de computadores, celulares... Uma agenda cheia, tantas vezes vazia de significado. Passamos por uma espécie de depuração. Teremos o mundo antes da covid e depois da covid. Um novo aC e dC. E se a palavra de Deus está mesmo na origem dos provérbios, então fique em casa e limpe suas mãos, mas não limpe "suas armas".

*Utilidade pública: use água e sabão, abundantemente, ou passe álcool 70.


 

Perfeito, Inês! Sábias palavras! Espero que saiamos dessa situação com um foco maior no que de fato tem importância.

Larissa Novais

Diretora de Clientes Varejo PF no Banco do Brasil, CCA IBGC, Conselheira de Administração.

4 a

Inês Saldanha excelente artigo.👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼 .Vejo mais empatia e altruísmo também. Acredito mesmo num novo “a.c /d.c” tamanhas mudanças de comportamento que estamos vendo e vivendo. 👊🏼😊🙏🏼

Kelly Natanry Miranda

Gestora no Cesup Infra Grandes Prédios

4 a

Amei o texto Inês. Concordo plenamente contigo. Quando essa crise passar o mundo será outro e nós teremos mudado também. Gosto de ler e ouvir os otimistas, para além dos clichês de ver sempre o copo meio cheio, ou enchergar a oportunidade em toda crise, a verdade é que quanto mais escura a noite, melhor enxergamos as estrelas.

Fernanda Anchieta

Fundador F2 Consultoria Organizacional

4 a

Excelente reflexão! Obrigada por compartilhar conosco!

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