Emergent Literacy: Estimulando o Letramento em Crianças Ainda não Alfabetizadas
Antes de entrar em nosso tópico principal, eu te pergunto: você sabe a diferença de alfabetização e letramento? A alfabetização é o ensino da habilidade de ler e escrever, ou seja, o ato de aprender a codificar e decodificar as letras e símbolos. Já o letramento vai além disso - ele se ocupa da função social de ler e escrever. A diferença está no domínio que o sujeito tem sobre a leitura e escrita. Aquele que é letrado possui controle destas nas mais diversas situações e práticas diárias.
Após uma breve e simples apresentação da diferença entre a alfabetização e o letramento, peço que reflitam a respeito da seguinte pergunta: É possível uma criança ser letrada antes mesmo de estar alfabetizada? Para quem entendeu o significado de cada um destes conceitos, a resposta é clara: sim!
“Emergent Literacy”, conforme o próprio nome já sugere - Letramento Emergente - descreve o processo inicial, de longo prazo e contínuo de aprender a entender e utilizar a linguagem, seja ela oral ou escrita, que começa no nascimento e continua até os primeiros anos da infância. Conforme citado anteriormente, o letramento consiste na compreensão da função social do sistema letrado, ou seja, na aplicação das letras em nosso dia-a-dia. A criança é perfeitamente capaz de entender estas funções a partir da observação constante de bons exemplos durante sua primeira infância, antes mesmo de serem introduzidas à codificação e decodificação destes símbolos.
Durante este primeiro período de vida, as crianças aprendem primeiro a usar as formas orais da linguagem (ouvir e falar) e depois começam a explorar e a compreender as formas escritas (ler e escrever). Cabe a nós estimularmos desde o nascimento a aquisição desta habilidade inicial, que é a linguagem oral, e apresentar o mundo letrado de maneira mágica e prazeirosa, de modo que a criança se sinta cada dia mais atraída a esta realidade e, quando chegar a hora da alfabetização formal, esta seja apenas uma das tantas etapas do letramento.
Crianças que ainda não escrevem, mas que elaboram por meio de desenhos ou garatujas cartas ao Papai Noel, à Fada do Dente, a familiares e amigos, já compreendem uma das funções da escrita: transmitir uma mensagem. Outros ainda acompanham uma lista de compras no mercado, ou até elaboram as suas próprias listas por meio de ilustrações dos produtos faltantes em sua casa. Estes também já aprenderam algo importante: a escrita pode nos ajudar na organização diária e no planejamento de nossas tarefas. E aqueles que são capazes de nomear os outdoors ou títulos de lojas e marcas famosas, sem antes poder decifrar os códigos presentes neles? Já puderam compreender que as letras podem dar nomes aos objetos, aos lugares e também a pessoas. Que fantástico! Veja o quanto os nossos pequenos “analfabetos" são capazes!
Pensando em um contexto escolar, precisamos ter em mente que o letramento deve ser trabalhado desde os primeiros níveis, sejam eles com um, dois ou até mesmo três anos de idade. Professores de diferentes turmas precisam estar em constante diálogo e trabalhar em parceria, de modo que a responsável pelo maternal, por exemplo, saiba quais são os objetivos do primeiro ano. Desta maneira, seu planejamento pedagógico e as expectativas da fase em que leciona estarão caminhando juntas com os demais níveis, contribuindo para a "preparação do território” e proporcionando os estímulos propícios para um avanço contínuo, ano a ano, da imersão ao mundo letrado.
Vamos agora entender de forma prática como podemos ajudar as crianças desde o nascimento até os primeiros anos escolares a criar uma cultura letrada, estando imersos em um mundo que lhes causará aos poucos muita curiosidade e, em breve, será integralmente desvendado por meio da alfabetização formal.
BABY (0-2 anos)
É difícil acreditar que a oralidade apresentada aos bebês possa ajudar no processo futuro de alfabetização. A comunicação com os pequenos, mesmo que ainda não compreendam tudo, é essencial para que explorem as possibilidades de sua própria linguagem, emitindo sons, diferentes fonemas e tentando pronunciar novas palavras e vocabulários necessários para se comunicar. A brincadeira com a linguagem oral e a exploração de sua capacidade sonora deve ser algo bem explorado e divertido para os bebês, tornando cada etapa de desenvolvimento prazeirosa.
TODDLER and PRESCHOOL (2-4 anos)
Ao mesmo tempo em que estão aprendendo sobre linguagem oral, as crianças pequenas precisam ser apresentadas ao mundo letrado que as rodeia. Ouvir histórias, reconta-las, brincar com blocos de letras ou letrinhas móveis, brincar de “escrever” com materiais como giz de cera, lápis e até teclado de computador, os ajudará a perceber como as letras fazem parte de nosso dia-a-dia, compreendendo sua importância e função em nossas vidas.
O BRINCAR
Crianças fazem inúmeras descobertas por meio da brincadeira e da interação com os amigos. Diversas habilidades são treinadas durante brincadeiras conduzidas, jogos e brincadeiras livres. E como o brincar pode nos ajudar a preparar nossos alunos para o processo de alfabetização?
Language Experiences: As crianças aprendem por meio de suas experiências coletivas, onde a linguagem oral pode ser usada a seu favor, promovendo momentos criativos de faz de conta e brincadeiras simbólicas.
Sorting, Patterning, Matching and Classifying: Nada mais é que organizar e agrupar botões, lápis, blocos, dentre outros pequenos objetos. Esta experiência pode também contribuir para o letramento inicial, já que a criança passa a entender o conceito de “sequência" e, posteriormente, compreenderá que as letras precisam estar organizadas para ganhar um significado.
Playdough: Rolar, apertar e criar com massinha contribui para exercitar destreza com os pequenos músculos (mãos e dedos), o que facilitará o manuseio de lápis, giz e canetinhas. Além disso, é comum ver crianças se aventurando na construção de letras de seu nome ou números com massa de modelar; basta criar oportunidades de sair do convencional, dando novos desafios e possibilidades de interação com este tradicional recurso!
Music and Movement: Além de ampliar repertório de vocabulário por meio de propostas lúdicas com música, ao seguir direções de movimentos presentes nela - como direita/esquerda, cima/baixo, frente/atrás - as crianças ganham experiência com organização espacial, o que os ajudará futuramente a se localizar e organizar na folha ou linhas, escrevendo da esquerda para a direita, de cima para baixo, etc.
Rhymes and Poems: Trabalhar com poemas e rimas em geral amplia a consciência fonológica das crianças ainda não alfabetizadas, auxiliando-as a reconhecer a relação entre a letra e seu som, conceito muito utilizado em processo de alfabetização em inglês, e também os fonemas emitidos ao pronunciar cada palavra. Ao refletir sobre os sons finais de cada rima, a criança passa a compreender que a fala e a grafia daquelas palavras têm uma importante conexão.
Own Names: Brincar com os nomes próprio das crianças e envolvê-los em o máximo de propostas possíveis - chamada, organização de grupos, ajudantes do dia, brincadeiras de rimas com os nomes da turma, etc - ajudará a criança a compreender que seu nome é estável, pois suas letras não sofrem alterações. Entenderão também que este tem um importante significado, pois representa uma pessoa especial e diferente de todos os demais. O trabalho com outros nomes, sejam estes de seus colegas de sala ou familiares, possibilitam também à criança a ampliação de ser repertório de letras, que futuramente será usado como referência em suas primeiras tentativas de escrita espontânea.
PRINT-RICH CLASSROOM
E por último, mas não menos importante, o ambiente alfabetizador rico! Segundo Emília Ferreiro (2007), criar um ambiente alfabetizador significa organizar a sala de aula de maneira que cada parte ofereça materiais que favoreçam a aquisição de conhecimentos. Cantos de leitura, diferentes portadores de texto expostos (jornais, revistas, dicionários, folhetos, embalagens, etc), alfabeto, sequência numérica, calendário, quadro de aniversariantes, painel de ajudantes, dentre outros estímulos visuais, possibilitam que a criança tenha diversas oportunidades de interagir com o mundo letrado.
Educador Gestão Mental, Comportamental e Corporativo; Palestrante; Consultor Educacional para Educação Básica e Ensino Superior, Pedagogia Educacional, Hospitalar e Empresarial
6 aSim totalmente possível, inclusive ensinar o bebê a ler e aprender outro idioma!