Empreendedorismo em tempos de proibição
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Empreendedorismo em tempos de proibição

Alheio à estagnação causada pela criminalização do cultivo e consumo de cannabis, o empreendedorismo canábico encontra caminhos e maneiras de se desenvolver mesmo onde a legalização ainda parece muito distante. 

Na minha jornada como ganjapreneur, sempre apoiei meus projetos em bases teóricas e práticas muito firmes. Já participei de dois processos de aceleração de startups, uma voltada para mobilidade, pela Startupbootcamp Copenhagen, e outra focada no mercado canábico, na CanopyBoulder.

Nesses processos, entendi os principais caminhos para administração de startups através de técnicas usadas no Vale do Silício, como as apresentadas por Eric Ries, autor do livro “The Lean Startup”, ou “A Startup Enxuta” que, em sua essência, abraçam os principais desafios que envolvem um mercado de risco, como instabilidade, dinamismo e incertezas – palavras que têm tudo a ver com maconha. 

É importante entender o empreendedorismo como o processo de identificação de um problema, ou oportunidade, e o desenvolvimento de uma solução que gere um impacto positivo sobre a questão. Não é apenas criar uma startup genial que será vendida por bilhões – também, mas não só. E, nesse movimento, há espaço para iniciativas muito diversas, como o empreendedorismo social, aplicado em organizações sem fins lucrativos, assim como a mentalidade empreendedora dentro de uma grande empresa, que segue os moldes tradicionais de negócios. Eu me considero um empreendedor serial, porque meu perfil é o de quem tem uma ideia, valida o projeto com dados que são resultados de diversas frentes de pesquisa, prepara a startup para os próximos passos e, no momento correto, entende quando é preciso deixar na mão de outro profissional capaz de gerir o projeto – outra faceta que pode ser incluída no conceito de empreender. 

O empreendedorismo canábico é autenticado como um instrumento que pode gerar a mudança esperada para um problema enfrentado. O fato é como fazer isso da melhor maneira, e dois exemplos atuais nos trazem alguns insights – o regulamentadíssimo mercado de Boulder, no Colorado (EUA), e a informalidade de Vancouver, uma cidade canadense que já normalizou a cannabis, mas cuja indústria continua ilegal – a previsão de legalização completa da maconha no Canadá é em julho deste ano. 

Morei nas duas cidades no último ano e pude comparar as principais características destes mercados. Enquanto, em Boulder, a organização começa no cultivo, com o rastreamento e a documentação de cada planta até o dispensário, em Vancouver a maior parte dos cultivos ainda é ilegal e, portanto, não operam com padrões estipulados. 

Quando se comparam os dispensários, então, percebemos a importância da regulamentação. No Colorado, além de haver fiscalização sobre quem pode realmente consumir cannabis, existe toda uma lógica de atendimento, que todos os dispensários seguem. A profissionalização de colaboradores e o uso de tecnologia levam o consumo de cannabis a outro nível – e empoderam os consumidores, que sabem o que estão consumindo e podem finalmente fazer um uso consciente e responsável da planta. Em Vancouver, o comércio ocorre em feiras de rua, com preços e condições que variam tanto quanto o produto.

Essa simples análise mostra a importância da regulamentação para a formação de um mercado organizado, efetivo e, principalmente, que se importa com o consumidor – o melhor beneficiário da situação regulamentada. E é isso que esperamos no Brasil, enquanto vemos o florescimento de um mercado estruturado (e legal) que circunda o universo da cannabis e que, ao que parece, está se preparando para o inevitável processo de legalização por aqui.

Já é possível empreender no mercado canábico no Brasil, seja socialmente, seja de maneira comercial. As head shops, focadas em vender parafernália ligada ao consumo da cannabis, são o principal exemplo. A primeira do Brasil, a Ultra420, fundada por Alexandre Perroud há 23 anos, já está em um estágio mais avançado, que é o processo de franquia – e impressiona pelo profissionalismo, identidade e comunicação. É um bom exemplo de empreendedorismo canábico a servir de inspiração por aqui.

Para além disso, há ainda as grow shops, que vendem insumos para o cultivo, mas ainda sofrem mais obstáculos ligados à regulamentação e importação de produtos, os meios de comunicação, que são fundamentais para o processo de legalização no Brasil, os produtores de acessórios canábicos, como pipes, bongs, sedas, piteiras, kits, além da indústria fashion e de lifestyle, que já abordam os consumidores de cannabis como targets do mercado.  

Um mercado volátil, em rápida transformação e cheio de incertezas só poderia combinar com a lógica das startups. Se você entender como criar um projeto empreendedor canábico dentro dessa lógica, as chances de que você consiga acompanhar as mudanças do mercado certamente aumentam.

Imagens: Ganja Talks


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