Empreender: sonho ou pesadelo?
Se você já empreende ou empreendeu sabe do que vou falar agora. Leia e identifique-se. Se ainda não ou pretende, conheça um pouco dessa realidade cheia de altos e baixos, vitórias e derrotas, infinitos desafios.
Se você procurar estudos relacionados ao empreendedorismo no Brasil, as estatísticas chocam (ou no mínimo desanimam): um terço das empresas abertas fecham em até 2 anos; 60% fecham em até 5 anos. O sonho de empreender dura pouco para a maioria das pessoas.
Mas também não é pra menos. No Brasil, nem sempre empreender é sinônimo de uma boa ideia de negócio. Muitas vezes, pelo contrário, é um plano de ação de pessoas desesperadas pela falta de oportunidades que decidem "caminhar pelas próprias pernas". E existe um grande perigo nisso: falta de informação, formação e no mínimo feeling são vistos todos os dias nas ruas de nosso país. Quem nunca, andando por aí, viu uma lojinha nova se abrindo e deu "x" dias de sobrevivência para a coitada? Negócio estranho, no ponto errado, trabalhado da forma errada, existe aos montes por aí...
Mas meu foco hoje não é ser um crítico do mercado, do Brasil ou da conjuntura econômica. Meu foco é compartilhar sentimentos.
Quando decidi empreender, há 15 anos, tinha muitas ideias na cabeça. Medos, sonhos, metas e tudo mais. Por um lado, não tinha muito a perder: era um récem-formado com 21 para 22 anos. Mas por outro, meus sonhos não eram os mais ousados. Queria fazer diferente do que o mercado oferecia, mas nunca quis ser o maior nem nada neste sentido. Queria "apenas" ser uma referência em qualidade no meu segmento, a partir de uma forma diferente de ver a Comunicação.
E essa trajetória, embora sensacional, está longe de ter sido (e estar sendo) tranquila. Quantas angústias, dificuldades e novos desafios todos os dias.
Teve de tudo nestes 15 anos: faltou dinheiro para pagar salário, sobraram noites viradas, mudamos de sede para crescer, mudamos de sede para retroceder. Conquistamos grandes clientes. Perdemos. Botamos o trem no trilho e recuperamos. Da pequena sede alugada partimos para a grande sede própria. Um cliente gigante! :) Foi embora :( Outros gigantes apareceram! E ficaram!
Brinco com meus amigos e colegas de trabalho que sou meio bipolar no ambiente profissional (e, por consequência, na vida). Tem dias e semanas que termino realizado, feliz, contente, esbanjando otimismo e energia. Em outros, bate aquele medo, aquela tristeza, uma chuva de interrogações. Vale a pena tudo isso? Estou no caminho certo? Onde isso vai dar?
E tantas indagações acontecem por diversos motivos: a dificuldade no equilíbrio com a vida pessoal, a dificuldade em treinar pessoas que você gostaria que atuassem como você, o medo de decepcionar inúmeras pessoas que confiam em você todos os dias, sejam eles clientes, colaboradores, amigos ou família. É uma história que se constrói diariamente, sem uma certeza de final feliz.
Essa angústia, caro leitor, não é medo de decrescer. A vida já me ensinou a "jogar nas onze", ter humildade, colocar a mão na massa e pegar o boi pelo chifre. Inclusive, foi assim que minha empresa cresceu. A minha angústia mais íntima vem de meu compromisso. Meu comprometimento com quem confia em mim. Tenho todos os dias novas e grandes responsabilidades em minhas mãos. E me sinto muito mais do que desafiado. Não me sinto no direito de não corresponder à altura.
Nos dias em que vivo o sonho, vivo intensamente. Nos dias em que vivo o pesadelo, penso até mesmo em desistir.
Mas como o sangue que corre nas veias é lutador, otimista e competitivo, o pesadelo vem e passa. E o sonho continua sendo o que me alimenta para construir algo maior e melhor: para meus clientes, minha equipe, minha família... para mim mesmo.
Empreender, então, é um grande misto de sonhos e pesadelos. Cabe a cada um saber viver de forma intensa, para fazer dar certo; mas com equilíbrio, para ser feliz.