Empregado velho de casa é folgado
Funcionário antigo é queixo-duro, manhoso e acha que sabe tudo. Não gosta de ensinar aos novatos e menos ainda, de se aprimorar, não aceitando as inovações impostas pelo mercado. Quer trabalhar da mesma maneira que há vinte anos. Está sempre amotinado, envenenando os mais novos, exaltando as falhas, os erros e desrespeitos da empresa, observados ao longo dos anos por ele próprio. É fiel defensor da teoria de que, se ele é funcionário mais antigo, deveria ter o maior salário da firma também. A indisciplina é seu forte, faz o que quer e não acata, de forma alguma, orientações de funcionários mais jovens, mesmo que hierarquicamente superiores. Já gastou todas as desculpas esfarrapadas para atrasos, faltas e falhas, mas continua repetindo-as como se ninguém percebesse essas inverdades. Nunca está satisfeito com nada, sempre reclamando e ameaçando se desligar do emprego, atitude que nunca executa. Na verdade se acha insubstituível, acredita que a empresa não viverá sem ele e que só terá valor no dia em que der as costas definitivamente.
Por que, então, manter esse indivíduo dentro do quadro de funcionários? Simples, pois embora as características mencionadas sejam um consenso entre boa parte dos empregadores, não são verdades absolutas. Muitas destas características têm origem no próprio meio, potencializadas pela forma como a empresa foi conduzida ao longo dos anos. Os veteranos presenciaram e contribuíram para o desenvolvimento da organização e conhecem detalhes dos serviços e produtos como nenhum outro colaborador sem a sua experiência. Esses indivíduos acabam criando uma relação de afeto, que os impede de buscar novas possibilidades profissionais no concorrente, da mesma forma que podem perder toda a motivação se o ambiente passa por mudanças e perde traços que foram atrativos anos atrás.
Em seus passos iniciais, o bom profissional é elogiado por seu desempenho, mas com o passar dos anos o empregador quer mais eficiência, embora nem sempre disponibilize treinamentos, cursos e benefícios significativos que a justifiquem. O funcionário é testemunha da evolução da empresa e percebe que seu crescimento não se equiparou, fica a sensação de encolhimento profissional. O descontentamento e a inércia seriam sintomas de um organismo defeituoso, que exige mas não concede, pois se um quer mais, o outro também. Uma longa convivência gera um profundo conhecimento bilateral entre os indivíduos, onde enquanto um descobre, o outro também se expõe. As imperfeições observadas pelo empregador numa longa convivência são proporcionais às observadas pelo empregado. O novato quer se destacar, mostrar competência e se garantir no cargo, o que aparentemente o torna uma melhor opção, pois se empenha sem exigir. Embora não admitam isso oficialmente, existem grupos que demitem funcionários quando atingem determinado tempo de casa para contratar novatos. É uma política perigosa para a saúde da empresa, pois se o trabalhador é facilmente descartado, ele também a descartará da mesma forma.
Funcionários antigos tendem a se tornar espécie em extinção, onde sua experiência poderá colocar em xeque o entusiasmo dos novatos e já podemos observar tal indício em algumas organizações que recontratam ex-funcionários aposentados. Tanto empregados quanto empregadores precisam reavaliar suas crenças e posições profissionais. Os tempos são outros, não se pode usar hoje, métodos de décadas atrás quando o objetivo é permanecer no mercado de forma competitiva. Se antes a empresa se preocupava apenas em conquistar o cliente, hoje ela também precisa conquistar o empregado, mesmo que tarefa não seja tão fácil com os veteranos.