Empresas moedoras de gente
Fonte: Grego (2007)

Empresas moedoras de gente

Dias atrás, conversando com um profissional que recentemente pediu demissão de uma empresa bastante conhecida no mercado, após poucos meses de trabalho por lá, perguntei o motivo da sua saída e a resposta foi: “Eles são moedores de gente”. A expressão, forte e impactante, ficou reverberando na minha cabeça.

Afinal, o que leva uma companhia a ser vista dessa forma pelos próprios colaboradores? E o mais importante: quantas outras empresas, em vez de nutrir seus talentos, acabam triturando a saúde mental e emocional das pessoas? 

Infelizmente, o cenário descrito por esse profissional não é exceção. Só para você ter uma ideia, segundo uma pesquisa realizada pela International Stress Management Association (ISMA-BR), 72% dos brasileiros ativos no mercado sofrem com sequelas oriundas do trabalho.

Mas, o que faz com que uma empresa se torne “moedora de gente”?

Tudo começa com uma cultura baseada no tripé competitividade predatória, líderes opressores e muita pressão emocional. Ou seja, funcionários tratados como recursos descartáveis, sujeitos a metas inalcançáveis e espremidos por prazos desumanos. E quando o inevitável acontece – o esgotamento físico e emocional – a solução não é uma política de acolhimento ou um programa de saúde mental e sim a substituição do colaborador exaurido por outro que, em pouco tempo, passará pelo mesmo ciclo. 

A falta de reconhecimento é outra marca dessas empresas. O esforço é esperado, mas raramente recompensado. Feedbacks servem somente para corrigir falhas, jamais para destacar conquistas. O que cria um ambiente de insegurança constante, onde o medo de errar supera a vontade de inovar ou colaborar. As pessoas se sentem “pisando em ovos” a todo momento...

Porém, o problema não para aí. Outro fator que agrava a toxicidade é a ausência de limites entre vida profissional e pessoal. A famosa "cultura do e-mail a qualquer hora" vira regra, e as tentativas de impor limites são vistas com maus olhos. Em resumo, para muitos líderes dessas empresas, dedicação significa abdicar da vida fora do trabalho. 

E é claro, em uma empresa moedora de gente a rotatividade é encarada como algo natural. Em vez de a alta liderança reconhecer o entra-e-sai como um claro sintoma de que a companhia promove um ambiente tóxico, trata o turnover de pessoal como algo inevitável e aceitável.

Se você trabalha em uma empresa assim, saiba que tem colocado seu equilíbrio emocional, a sua qualidade de vida e até mesmo a própria carreira em risco. Ainda que hoje ganhe bastante dinheiro por lá, os custos indiretos não compensam.

E se você está à frente de uma moedora de gente, lembre-se: empresas que tratam pessoas como peças descartáveis inevitavelmente acabam se desmanchando sob o peso de sua própria desumanidade.

 

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