Então, o que vai ser?
Procuro algum argumento inteligente, sensato, mas termino me sentindo ridícula. Daí prefiro admitir que não estou a fim de caminhar. Logo me lembro das dores, do efeito anestésico e, sobretudo, da energia transbordante quando regresso de cada caminhada.
Às vezes, o diálogo interno é absolutamente infernal. Eu sei que estou, em vão, tentando me baratinar para ficar meia hora a mais no quentinho. Meia hora de prorrogação, pode ser?
Outro dia, estava do avesso, naquele momento crucial em que negociava, comigo mesma, um doce. Primeiro, tratava-se de uma encomenda, o doce tinha dono; segundo, nunca como bobagens com gosto de açúcar e, por fim, tudo bem se fosse uma delicadeza gastronômica da Place Madeleine; longe disso, era um simples doce de leite.
Por fim, ganhou o pecado da gula. É a sensação do oásis em pleno deserto que, em vez de saciar a sede, revela a inversão de prioridades. Quando você não consegue abrir mão ou postergar prazeres tão efêmeros, a vida se torna insaciável. Não sobram argumentos, menos ainda inteligência. Mas, sem os pequenos prazeres, meu caro, então, o que vai ser?