Entenda os 3 fatores principais para uma transferência de votos ser bem sucedida em uma eleição

Entenda os 3 fatores principais para uma transferência de votos ser bem sucedida em uma eleição

Saiba o motivo do Haddad não ter vencido a eleição em 2018, entenda como os prefeitos podem aprender para não cometer este mesmo erro em 2020 e veja o poder de um bom vice.

O fenômeno de transferência de votos é muito relativo e têm que se observar quatro fatores para que isto ocorra: (1) quem ganha os votos, (2) quem os transfere, (3) o tempo para isso se suceder e o (4) motor de mudança.

1- Quem ganha votos normalmente têm que ser uma pessoa nova no cenário político e que não venha de muitas derrotas; 

2- Quem transfere têm que ter grande aceitação, confiança e credibilidade do público;

3- O tempo é relativo. Em caso de campanhas presidenciais é algo de anos, nas municipais é algo de meses. O tempo têm que ser o suficiente para que consiga colocar a ideia na cabeça do eleitor;

4- O motor de mudança é o meio onde isto vai ocorrer, em cidades com características “coronelista” temos grupos que podem ser facilmente influenciáveis, mas, como nem toda cidade é assim e as pessoas estão cada vez mais conectadas, o grande fator são as mídias sociais. Vale ressaltar que existem 3 tipos de transferências de votos:

 Foto Original: Ricardo Stuckert

1) INDICAÇÃO DO CANDIDATO POPULAR

O primeiro seria o fenômeno em que um candidato muito popular e querido pelo público indica uma pessoa para que este público vote. Temos como exemplo o apoio que o Lula deu a Dilma para que ela se elegesse em 2010 à presidência e o apoio que deu ao Haddad para a prefeitura de SP em 2012. Neste caso, o Lula literalmente caminhou ao lado dos dois para que convencesse o povo a votar nas pessoas que ele estava indicando, diferente do que aconteceu em 2018 nas eleições presidenciais quando ele tava preso e não conseguiu acompanhar o candidato do PT à presidência em sua campanha.

Mesmo sendo do mesmo partido, a transferência não foi totalitária por conta do perfil do público: o público do Lula é a pessoa mais carente e simples, o público do Haddad (que elegeu ele em SP) era o jovem universitário e pessoas com grau de instrução mais elevado. Ele não sabia se comunicar com este povo, ele têm uma linguagem prolixa e confusa sendo que para acessar aquele povo precisava falar de forma simples e objetiva, coisa que o ex-presidente fazia bem.


2) TRANSFERÊNCIA NO SEGUNDO TURNO

O segundo tipo é a transferência de segundo turno. Acontece quando um candidato que foi para o segundo turno têm a ideologia parecida com o candidato que não foi. Com ou sem apoio manifestado pelos candidatos perdedores, esta transferência não é totalitária, mesmo com candidatos com propostas semelhantes. Isto ocorre pelo seguinte motivo: não concordar totalmente com a ideologia do candidato/partido à ser votado, o candidato não transmite confiança e credibilidade para aquele público ou o público pode votar branco, nulo ou se abster porque o candidato dele não foi pra briga no segundo turno. Exemplo disso foi o que aconteceu nas eleições presidenciais da Colômbia em 2018, o primeiro turno terminou da seguinte forma:

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O sentimento dos colombianos que votaram no Petro e o inconsciente coletivo de um modo geral foi: “já que Petro e Fajardo estão em partidos com ideologias semelhantes, se eles se unirem, em tese, podem ganhar de Duque, pois, 48,81% é maior que 39,14%. Só que isto não ocorreu de uma maneira fidedigna por "n" fatores, dentre eles é o fato de o Petro ser uma pessoas bem incisiva, populista e que pensa exclusivamente nos mais necessitados (lembra o Lula). O Fajardo, por outro lado, tinha uma postura semelhante ao Ciro: abraça mais a pauta da economia e do desenvolvimento do país.

O ponto é que no segundo turno aconteceu o contrário do que todos estavam imaginando. Duque levou a eleição: 

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Note que a transferência de Fajardo não foi completa para Petro. Boa parte dos eleitores dele votaram em Petro, mas, a tabela acima me leva a crer que grande parte votaram no Duque.

Outro ponto interessante de se observar é o aumento em mais de 200% do número de brancos e nulos. O que valida mais uma vez a hipótese de que se o candidato não ganhou o primeiro, não necessariamente o eleitor vai votar na pessoa que ele indicou para o segundo turno. Ele simplesmente pode votar em branco pelo fato da pessoa que ele gosta não ser uma opção, por exemplo.


3) DEMANDA REPRIMIDA

O terceiro é pegar votos de uma demanda reprimida da população. Vamos tomar como exemplo de Araguari, uma pequena cidade do interior de Minas Gerais. Nas últimas eleições presidenciais ela teve a seguinte relação de votos no primeiro turno:

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É notório observar que Bolsonaro teve grande quantidade de votos (mais da metade dos votos válidos). O curioso é observar que no segundo turno foi o Haddad que teve mais ganho de votos, veja os dados:

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Contudo, podemos concluir que mesmo o Brasil vindo de um fenômeno de tirar a esquerda do poder (algo que estava há 16 anos), em um cenário de segundo turno, ao invés de um candidato com agenda de direita ter mais ganho de votos na cidade (em relação ao resultado do primeiro turno), quem ganhou foi o de esquerda, 7.223 contra 3.805 votos a mais. Tudo isso, reforça ainda mais uma “demanda reprimida” de pessoas de Araguari que têm simpatia com pautas esquerdistas ou (centro esquerda).

No meu ver, para que esta demanda seja completamente atingida, precisa-se que a cidade tenha como candidato a prefeito uma pessoa de centro-esquerda que valorize a economia local mas que não se esqueça das necessidades do povo como: educação, segurança e geração de emprego.

Para potencializar esta candidatura, o vice deste candidato deve ser uma pessoa que (1) ou que venha do povão, ou (2) um esquerdista da alta sociedade. Uma pessoa que vem do povão, como líderes de bairros periféricos, podem fazer com que o mesmo consiga votos da base da pirâmide social da cidade, já uma pessoa que venha de uma classe social mais alta, é alguém que consiga que a parte rica da cidade que se simpatiza com a agenda centro-esquerdista vote por diversos motivos, dentre eles a afeição. O candidato a vice-prefeito é o principal cabo eleitoral do prefeito. A pessoa a ser escolhida precisa ter a aceitação, confiança e credibilidade deste público para que esta pessoa seja o fio condutor da transferência de votos.

Exemplo de um ótimo candidato a vice que serviu como um bom cabo eleitoral ao cabeça de chapa foi o José de Alencar com o ex-presidente Lula nas eleições de 2002. A escolha não foi atoa. Lula ganhou grande notoriedade no cenário político nacional tendo uma postura agressiva que tinha como principal objetivo defender os direitos dos trabalhadores. Isso aconteceu nas eleições de 1989, 1994 e 1998. Está postura afastava um dos atores relevantes para que um político ganhe uma eleição: os empresários.

Nas eleições de 2002 a postura mudou. Nos debates deixou de ser agressivo e teve uma postura mais branda (daí o slogan Lulinha paz e amor), deu uma mudada em seu marketing pessoal, e, com o José de Alencar ao seu lado (um dos maiores empresários do estado de Minas Gerais) ele conseguiu um bom diálogo com os empresários, fazendo com que ele fosse eleito.

Seu vice foi o fio condutor entre ele e a classe empresária/elite do país.

Indo um pouco além, no cenário em que o Brasil se encontra e tendo em vista as ideologias dos demais pré-candidatos a prefeitura da cidade de Araguari, acredito que como têm muitos candidatos de direita, este setor está saturado e vai acontecer uma antropofagia de anões, fazendo com que candidatos de esquerda/centro esquerda tenham um oceano azul enquanto os de direita vão ficar digladiando entre si.

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Por Daniel Eloi e TiagoCarossi



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