Entenda a relação do TQM com a filosofia lean no seu trabalho ou empresa.
Sendo um valor relativo para cada pessoa, como que podemos definir o que é qualidade?
Ao analisar o conceito “qualidade” podemos deduzir que mesmo sem estar claramente definido, ele esteve presente em toda história moderna da humanidade.
No inicio da produção humana os melhores artesãos eram aqueles que entregavam os melhores produtos, geralmente mais sofisticados para uma clientela bastante exigente. Para atender tal clientela, era comum o artesão dedicar muito tempo, por vezes até anos para garantir que o produto atendesse as expectativas do cliente. Já os artesãos menos habilidosos, produziam produtos menos requisitados pelas esferas mais altas da sociedade, ou seja, eram tidos como produtos de menor qualidade.
Porém, através do início da era industrial, veio a produção em massa e em seguida com o crescimento da indústria bélica no século 19, o surgimento dos primeiros métodos de inspeção com equipamentos. Assim, tornou se impossível a sobrevivência desses artesãos, devido a alta necessidade de volume de produção, mas principalmente pela eficiência no processo de inspeção, pois um produto com defeito significava não só uma enorme perda financeira, como também mortes no campo de batalha.
E começa a era da criação da qualidade...
Com o passar dos anos vários avanços foram alcançados no sentindo de assegurar que os produtos sairiam como especificados
- 1922, G.S. Radford publicou o primeiro livro relacionado ao controle de qualidade, The Control Quality in Manufacturing, que também foi o primeiro a relacionar a qualidade como uma responsabilidade gerencial.
- 1931, W.A. Sherwhart publicou a obra Economic Control of Quality of Manufactured Product, que percebeu que seria impossível acabar com a variabilidade na fabricação em massa, mas seria possível controla-la com métodos criados por ele como a Carta de Controle de processo.
- 1940, EUA cria através do departamento de guerra um comitê para definir padrões de qualidade, reduzindo os gastos com qualidade de 42 para 12 milhões de dólares anuais.
Todo o avanço na área da qualidade até então era visto como um alto custo necessário para atender os requisitos dos clientes.
Mas na sua opinião, qualidade seria um custo ou investimento?
Já em 1951 entramos na era da garantia da qualidade, onde essa característica começou a ser enxergada não mais como um custo para as empresas, mas sim como um investimento. Um dos grandes responsáveis por essa mudança é o Joseph M. Juran, que em sua obra Quality Control Handbook mostrou como o investimento no controle de processos visando garantir a qualidade traz ganhos ao diminuir os custos evitáveis associados a erros de fabricação, como custo de perda de matéria prima, horas retrabalhadas, recalls e o pior de todos: clientes insatisfeitos.
Tá e onde entra o famoso TQM nisso tudo?
Neste exato momento! Armand Feigenbaum, que praticamente criou o conceito de controle total da qualidade, o qual afirma que para se conseguir uma verdadeira eficácia na entrega de valor ao cliente, o controle precisa começar pelo projeto do produto e só terminar quando o produto tiver chegado nas mãos de um freguês que fique satisfeito. Logo, TQM seria controlar todos os processos envolvidos na criação de valor, desde a pesquisa de mercado, visando descobrir o que o cliente realmente quer, até ao serviço de pós-vendas. Feigenbaum também sugeriu que para se atingir o TQM, as barreiras departamentais deveriam ser extintas, todos os departamentos tinham que trabalhar juntos visando entregar qualidade para o cliente final.
Mas e hoje? Onde posso me orientar para implementar o TQM na minha empresa?
Na era mais moderna da gestão da qualidade, Vicente Falconi em seu livro Controle da Qualidade Total no Estilo Japonês, entrega o seguinte conceito de qualidade: “Produto ou serviço que atende perfeitamente, de forma confiável, acessível, segura e no tempo certo a necessidade dos clientes.” Ou seja, podemos traduzir essa frase em termos práticos como:
Ter tal tipo de definição de qualidade é essencial para definir os desdobramentos das estratégias de controle de processo no chão de fábrica, geralmente baseada no ciclo PDCA, tanto para manter resultados como para melhorar situações atuais.
E se eu quiser trabalhar com a filosofia lean também? Por qual delas eu devo começar, TQM ou lean?
Ao comparar os 11 conceitos do TQC com os 14 princípios do Modelo Toyota vemos muita similaridade. Por exemplo, o décimo primeiro conceito “comprometimento com a alta direção” de Falconi se assemelha muito ao princípio “Faça com que seus líderes conheçam, compreendam e vivam essa filosofia ensinando e servindo de exemplo aos demais, pois só assim tais princípios se transformarão em cultura”. Nessa comparação, podemos verificar que as duas frases têm como objetivo explicitar a grande importância da participação da alta gerencia em todas as etapas e que esse envolvimento sirva de exemplo para os subordinados.
Essa semelhança se deve à origem dos dois conceitos: o Lean e a qualidade total. Ao analisarmos o histórico nota-se que elas foram se desenvolvendo juntas e que uma prática está inserida na outra.
Assim como os conceitos e princípios, encontramos ainda ferramentas usadas nas duas frentes. O diagrama de Causa e Efeito, conhecido também como Ishikawa, é usado como chave na busca por problemas que muitas vezes ficam camuflados. O PDCA, também muito utilizado nas duas vias, tem como objetivo implementar melhorias ou até mesmo manter aquelas que já estão em pratica. Ferramentas como Cartas de Controle, Gráfico de Pareto e Kaizen, assim como muitas outras, são de comum usam e fortificam ainda mais a ideia de que as duas são fontes que desembocam no mesmo rio.
O Lean, assim como a qualidade, nasceram com um objetivo: satisfação do cliente e redução de custos. Por muito tempo não foram comparadas, mas quanto mais profundamente estudado, mais se revela sua semelhança. Ambas tiveram seu aparecimento em um passado recente e vem mostrando que se completam e dão grandiosidade ao seu comum objetivo.
Qualquer dúvida, o Grupo de Estudos em Lean (GLean) da Universidade Federal de Santa Catarina está à disposição para solucioná-las! Acesse nossos LinkedIn, Facebook e continue nos acompanhando com conteúdos semanais!
Autores: Augusto Lira e Bruno Lopes.