Entre Gatilhos e Terapia: A Busca por Conexões Autênticas em Tempos Superficiais

A escrita, como um bálsamo para a alma, revela-se terapêutica em seus efeitos. Há tempos venho percebendo uma ausência, uma falta de algo especial. Mas o que mais sinto saudade é daquela conexão singular que tínhamos nos tempos do Orkut e, posteriormente, no Facebook. Era uma forma de conexão distinta, talvez até um tanto mais complexa e menos superficial. Perdíamos tempo nos revelando, e cada postagem carregava um significado mais profundo, onde a própria legenda se revestia de elaboração e dedicação.

Atualmente, navegamos pela era do conteúdo, onde os vídeos são curtos e superficiais. Buscamos incessantemente o repetitivo, o clichê. É o chamado ‘gatilho’. Mas vamos aprofundar um pouco mais nesse conceito, explorar como ele age em nosso íntimo.

Antes disso, porém, devemos considerar as três partes que compõem nosso cérebro. Ah, mas não esqueci do assunto central, anotei mentalmente cada detalhe, pois preciso transmitir como escrever pode ser terapêutico. Sinto falta daquilo que vivenciamos em outras plataformas. Como um ser prolixo, empenho-me de corpo e alma para alcançar uma conclusão lógica, por mais árdua que seja a jornada. Peço-lhes paciência, pois a verdade está por vir.

Retomando as partes do cérebro que nos auxiliarão a desvendar todo o enigma…

A primeira é a parte reptiliana, que zela por nossas decisões relacionadas às emoções e necessidades básicas de sobrevivência: dor, fome e reflexos. Nesse reino, agimos instintivamente.

A segunda é o sistema límbico, onde se desenrolam as nuances de nossas sensações em relação ao mundo ao nosso redor. São os pontos de contato primários: o olfato, o tato, o paladar.

E, por fim, temos o neocórtex, a morada da razão. É nesse domínio que nossos pensamentos e conhecimentos são processados e compreendidos.

Mas como essas três entidades se amalgamam e nos conduzem à interação com a publicidade?

Nosso sistema límbico capta uma profusão de informações, que, por sua vez, são enviadas à parte reptiliana, moldando nossas futuras decisões de forma racional por intermédio do neocórtex.

Permitam-me ilustrar com um exemplo prático: a hora do almoço se aproxima, e o seu lado reptiliano envia um sinal de fome. O dia corre agitado, e não há tempo para uma refeição tranquila. Num átimo, sua boca se enche de saliva, pois o sistema límbico recorda o sabor inebriante de um McCheddar quentinho. Por fim, o neocórtex decide que o McDonald’s é a opção mais acertada, afinal, é uma escolha rápida e prática para a correria cotidiana, além de satisfazer a fome com um saboroso deleite. Eis como os gatilhos mentais se constroem.

Aqui entra a imperiosa necessidade de prazer, regida pelo nosso estimado reptiliano, sob a influência do sistema límbico, que anseia por doses homeopáticas de deleite. Num piscar de olhos, tiramos o celular do bolso, e em meros 15 segundos, experimentamos um prazer avassalador ao contemplar a tela do Instagram. No entanto, e se a curiosidade nos levar a assistir ao próximo vídeo? O que nos aguarda? Talvez não seja tão empolgante, mas temos a certeza de que o seguinte será. Tudo bem, dessa vez não foi o esperado, mas acredito que seja hora de reencontrar o foco e deixar o celular de lado. Apenas mais um vídeo, pensamos. E novamente, era o vídeo que precisávamos para vivenciar aquela explosão de sentimentos uma vez mais. Talvez uma hora já tenha se passado, e ainda nos encontramos aprisionados nesse ciclo incessante de desilusão e recompensa.

Esse novo formato é como um relacionamento tóxico, capaz de nos entristecer e desapontar. No entanto, nosso lado instintivo busca o prazer dentro dele mesmo, mantendo-nos cativos por horas a fio.

Mas eu mencionei que escrever é terapêutico. Sim, sinto falta da época em que podíamos nos expressar de forma genuína e profunda, sem restrições ou superficialidades. Afinal, dedicamos muito tempo consumindo gatilhos que nos aprisionam num ciclo repetitivo, que pouco contribui para expressarmos quem somos ou nos conectarmos de maneira autêntica. Por essa razão, decidi escrever este pequeno texto. Pretendo continuar a tecer minhas ideias, pensamentos e conhecimentos que guardo em meu âmago. Dessa forma, poderei organizar as ideias e me conectar de maneira mais íntima e satisfatória com as pessoas ao meu redor.

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