[ENTREVISTA] Berço de ouro não é garantia de harmonia na família e sucesso na empresa.
Nutrir expectativas elevadas em relação aos filhos é mais comum do que se imagina. Muitos empresários, CEOs e líderes de empresas familiares costumam enfrentar conflitos e decepções ao perceberem que a retribuição emocional do filho na vida adulta não ocorre como esperado.
Quando todo o currículo do filho não consegue ser aplicado na prática da empresa, outra frustração passa a permear o imaginário do empresário: “todo o investimento na educação do meu filho foi em vão?!”
Não existe uma família igual a outra, mas a nossa experiência em mais de 400 projetos em empresas familiares comprovou que o distanciamento emocional e a competência do filho na empresa podem ser possíveis consequências da relação com os pais empresários durante a infância.
Quer aprofundar o seu conhecimento sobre esse tema? Acompanhe a entrevista com Aparecida Barreto, Psicóloga e Consultora do Instituto Empresariar.
Como a rotina do pai empresário afeta a infância do filho?
A infância de um herdeiro comumente coincide com o ápice da vida profissional dos pais, na qual empresa costuma estar em uma curva de crescimento acentuada, em busca da solidez no mercado.
Neste momento, a ausência da figura paterna costuma ser recorrente e leva a criança a se indagar sobre o porquê de tantas viagens ou reuniões na empresa, por exemplo.
O tempo é percebido de uma forma diferente na vida de uma criança e angústia gerada pela falta de compreensão em relação à ausência paterna é maior do que se imagina. O desconforto e a carência se intensificam ao longo do tempo e podem resultar em inúmeros conflitos na vida adulta.
Os pais devem ter a sensibilidade de perceber o poder de cada palavra dita. Não cumprir a promessa de estar em casa após o trabalho, por exemplo, pode diminuir a confiança e atrapalhar o desenvolvimento do emocional do filho.
É saudável visitar a empresa ainda na infância?
Envolver as crianças no ambiente de trabalho é uma excelente prática e estimula o sentimento de pertencimento e companheirismo. Desde cedo, elas começam a entender onde o pai está quando não está em casa. Aos poucos, a figura de pai ausente passa a perder espaço para o pai-herói, líder e responsável.
Muitos empresários são receosos em delegar tarefas da rotina do escritório para as crianças, mas essa prática é saudável desde que seja estruturada dentro de um conceito de um método voltado para empresas familiares.
Entregar papeis, conhecer galpões e conversar com funcionários, por exemplo, pode humanizar o clima na empresa e estimular o carinho com as crianças, que provavelmente assumirão os negócios na vida adulta.
Qual o maior desafio enfrentado pelos pais na hora de educar os filhos sobre a empresa?
O maior desafio é “controlar a língua” quando está dentro de casa. É preciso ter uma separação definitiva entre o ambiente familiar e o empresarial. Problemas de trabalho devem ser evitados na mesa de jantar.
O desafio é imenso, afinal, o coração do empresário está cheio de preocupações e responsabilidades. O desabafo com os membros da família é sempre tentador, mas o preço a pagar pode ser alto demais. É preciso definir regras e/ou acordos de convivência entre a família e a empresa familiar para saber o momento certo de abordar determinados assuntos.
As crianças absorvem esses sentimentos e os associam negativamente à empresa. O filho, nesse caso, começa a se perguntar “que lugar é esse que meu pai tá passando que só traz mágoa?”.
Qual a melhor forma de aproximar o filho dos negócios da família?
O caminho de formação do herdeiro varia de família para família, mas aproveitar os momentos de férias e realizar um “tour” pelos setores da empresa é uma experiência interessante. Ele deve ter contato com pessoas diferentes, da portaria à presidência.
Pequenos detalhes ficam guardados na memória da criança. Lembro muito de uma vez em que perguntei a um garoto de dez anos, filho de um empresário e cliente do Instituto Empresariar, o que ele mudaria na empresa, caso fosse diretor, e ele respondeu: “mudaria a limpeza do almoxarifado, porque se eu armazeno um bom produto e o meu cliente chega aqui e vê que tá tudo limpo, ele logicamente vai querer comprar mais!”.
Assim, a criança passa a ter uma maior ligação com os negócios e com a própria família. Nesse caso, o menino passou a sair da escola empolgado para conhecer cada espaço e setor da empresa.
Como inserir o filho na rotina da empresa sem que haja conflito com funcionários?
A melhor forma de mitigar um conflito é evitar que ele ocorra. Quando os funcionários conhecem o herdeiro desde cedo, passam a fazer parte de sua história.
Um erro comum é fazer com que as crianças frequentem a empresa apenas em datas comemorativas. Ora, se você está presente apenas nos momentos bons, que tipo de relacionamento você construirá?
É preciso fazer parte da rotina de forma sistemática para entender e conhecer DE VERDADE a realidade da empresa.
O que o pai empresário deve fazer ao notar que existe conflitos entre os filhos herdeiros?
Normalmente os conflitos entre os filhos herdeiros não começam de um dia para o outro. Em certos casos, a causa surge logo após o nascimento dos irmãos.
Na posição dos filhos, quando o mais velho começa a implicar com o mais novo, por exemplo, ou o mais novo começa a implicar com o mais velho. No fundo, trata-se de uma vontade inconsciente vontade de viver a posição do outro.
O mais novo costuma querer ser igual ao mais velho, que questiona a posição do mais novo. Muitas vezes, o pai não tem essa sensibilidade porque ele está focado no dia a dia dos negócios. Lembra do momento no qual a empresa está na curva de crescimento da empresa? Novamente, ela pode cegar as relações familiares.
Perceber o potencial e as habilidades de cada filho e cruzar com as necessidades da empresa seria o cenário ideal, mas não existe fórmula pronta para solucionar este tipo de conflito. Cada família deve ser estudada profundamente, através de um método que leve em consideração a complexidade das relações.
Qual a idade ideal para que o filho possa se envolver na história da empresa?
O contato entre os filhos e negócio da família deve acontecer o quanto antes. O inconsciente de uma criança ao longo da infância funciona como uma esponja. Os pais devem envolvê-la com amor, afeto e histórias interessantes sobre a empresa.
Pequenas atividades delegadas para os filhos são fundamentais para que eles consigam transformar as histórias em experiência, reforçando o elo com o lugar que é tão importante para família.
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Gerente Administrativo - Sociedade Beneficente São Camilo - Hospital Dr. Alberto Feitosa Lima
6 aFiz meu 1° TCC sobre "Sucessão em uma Empresa Familiar".. . muito prazeroso ler sobre um assunto que gostamos e nos ajudou a aprender um pouco mais... Obrigada.