Envolver-se para se desenvolver

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“O analfabeto do século XXI não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender, e reaprender.”Alvin Toffler

Não é novidade para ninguém, que a carreira estável, de longo prazo, numa única empresa, já deixou de existir há muito tempo e os vínculos profissionais estão se transformando rapidamente. As carreiras típicas irão desaparecer ou se transformar drasticamente em poucos anos: assistentes jurídicos, contadores, assistentes administrativos, avaliadores de seguros, operadores de telemarketing, entre outros, terão sua empregabilidade alterada, sem falar naquelas que poderão desaparecer.

Ou seja, o trabalho repetitivo será extinto em breve e as profissões tradicionais estão passando por uma grande reconfiguração para adaptarem-se às novas exigências do mercado de trabalho. Em paralelo, novas funções e carreiras estão sendo criadas, para responderem às novas demandas. Quem imaginaria, a pouco tempo, um cientista de dados? E oportunidades de trabalho para designers da experiência do usuário?  Ou para estrategistas de empreendimento digital?  

De acordo com o Fórum Econômico Mundial em seu relatório “Future of Jobs Report 2018”, algumas profissões que deixarão de existir até 2022, engolindo aproximadamente 75 milhões de empregos são: contabilistas, auditores, escriturários, recepcionistas e outras funções de atendimento, carteiros e operários fabris, entre outras.

Em contrapartida serão abertos aproximadamente 133 milhões de novos empregos até 2022 para: analistas e cientistas de dados, especialistas de Big Data, profissionais de transformação digital, profissionais de marketing digital, especialistas em desenvolvimento organizacional e especialistas em inteligência artificial, entre outras novas profissões.

As empresas, antes hierarquizadas e formais, com sedes majestosas e presença física, estão se tornando espaços de trabalho digital, que oferecem aos seus integrantes as melhores experiências para atender suas expectativas, pois caso contrário, eles rompem o vínculo em busca de outro ambiente que os atendam em seus propósitos.

Consequentemente, o papel dos líderes empresariais também se transforma devido a este novo contexto. Eles, que estavam acostumados a decidir em ambientes previsíveis devem lidar cada vez mais com a crescente complexidade de seus negócios, além das questões inter geracionais, que exigem tomada de decisão cada vez mais rápida, sofisticada e exposta a risco.

Se até bem pouco tempo atrás, um líder estratégico tinha clareza sobre para onde deveria ir e qual caminho seguir, hoje ele deve continuar mirando num ponto de chegada, porém deve estar aberto a experimentar formas de como chegar lá.

Os colaboradores, por sua vez, entre outras coisas, devem exercitar a aprendizagem por meio do erro, estimulados pelo ambiente corporativo, pois só assim, se instala um espaço de inovação.

Frente a esse contexto, fica claro que os métodos tradicionais de capacitação e desenvolvimento de pessoas, não são suficientes para responder ao volume e ritmo de transformações que estamos vivendo, porém, as organizações ainda investem muito dinheiro e tempo no treinamento formal para que os líderes, por exemplo, elaborem fluxos de caixa equilibrados, desenvolvam atitudes comerciais persuasivas ou façam bons feedbacks.

Nada, ou muito pouco se faz, sobre comércio global, relacionamento com stakeholders multiculturais, exercício de cidadania, pensamento complexo, resiliência, aceitação, empatia e engajamento das pessoas por meio de múltiplas plataformas.

À medida que os nativos digitais ingressam no mercado de trabalho e se juntam às equipes já instaladas, as organizações passam a perceber que precisam ajustar muitos processos internos para alavancar os pontos fortes desses “novos entrantes”, em prol da permanência desses jovens nas empresas e do necessário salto quântico rumo ao futuro.

Entender que essa geração traz para o ambiente de trabalho uma nova mentalidade e habilidades até então desconhecidas, é o primeiro passo para que as empresas estabeleçam um mix geracional positivo e vantajoso.

Do ponto de vista do indivíduo, prosperar num ambiente em transformação irá requerer de cada pessoa, um compromisso sólido e indelegável com a mudança de seu modelo metal e de suas características para fazer frente ao que as organizações necessitam e desejam. Afinal, já está claro que quanto mais a tecnologia avança, novas capacidades humanas são requeridas.

Agilidade, a palavra da vez, como atributo subjacente às novas competências, torna-se um requisito que irá aumentar drasticamente nossa capacidade de aprender, desaprender, reaprender e sermos bem-sucedidos como seres humanos e líderes. Desenvolver essas novas competências, significa antes de tudo envolver-se numa jornada de autoconhecimento e reflexão que, para além de contribuir para o crescimento profissional, apontará novos caminhos e possibilidades de vida, provavelmente, nunca consideradas.

O mais importante é, sem dúvida, o compromisso individual para com essa jornada. Ser o protagonista de sua própria transformação, estabelecer seu objetivo, identificar as estratégias e definir metas de atingimento, estando ciente de que essa viagem não terá ponto de chegada, é fundamental para ser bem-sucedido.

Utilizar-se das metodologias formais ou não, com apoio externo ou não, individuais ou em grupos, serão escolhas individuais e intransferíveis. O importante é que cada um alcance, nesse processo, as capacidades requeridas para lidar com as exigências da nova sociedade e, do ambiente corporativo e, acima de tudo, saiba desaprender o que aprendeu e reaprender, tão logo perceba que isso é necessário.

Resenha do artigo de mesmo título, que integra o livro “Gestão de Pessoas – Compartilndo olhares”, do qual sou co-autora e cuja organizadora é Gladys Zrncevich, Editora Liber, 1ª edição, outubro de 2019.

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