A Era do Pensamento Sistêmico: Estamos Preparados?

Ainda em 1993, na conferência "Systems Thinking in Action", Russell Ackoff apresentou uma de suas palestras mais impressionantes (pelo menos no meu ponto de vista). Intitulada "From Mechanistic to Social Systemic Thinking", Ackoff abre essa palestra perguntando: 

“Por que, assim do nada, todo mundo passou a se interessar por sistemas?”

Para Ackoff, a virada para o século XXI está sendo marcada por uma transição de eras. Veja como ele mesmo explica o que quer dizer.

“A teoria mais geral que cada um de nós tem é uma teoria da realidade: um conceito da natureza do mundo, que é referido como nossa ‘visão de mundo’, nosso conceito da natureza da realidade. Agora… poucas pessoas estão conscientes desse conjunto de suposições sobre a realidade. Não há necessidade de ter essa consciência, mas todos vocês têm. Você a absorve por osmose e pelo processo de aculturação e amadurecimento. E a razão pela qual compartilhamos uma cultura é que compartilhamos uma visão de mundo. Este é o cimento que mantém uma cultura unida, caracterizando o que o historiador chama de ‘era’. Uma era é simplesmente um período de tempo em que uma cultura tem uma visão única e compartilhada da natureza da realidade. E, portanto, uma mudança de era é um período em que essa visão de mundo compartilhada está passando por uma transformação." Russel Ackoff

Lembre-se que estamos em 1993. O Manifesto Ágil ainda não havia sido publicado, e os métodos e modelos que serviriam de pretexto para sua criação ainda estavam emergindo das experiências de nomes como Kent Beck, Jeff Sutherland, Jim Highsmith e Alistair Cockburn. 

Também mais ou menos nessa época, em 1991, pesquisadores do MIT publicam o livro The Machine that Changed the World, e com ele tornam o modelo de produção Lean conhecido mundialmente.

O que há de comum nesses dois fenômenos particulares mais próximos do cotidiano de agilistas e de entusiastas da gestão enxuta é a manifestação de uma nova era. 

“É fácil demonstrar que o novo interesse em design, qualidade e aprendizado derivam da transformação em nosso conceito da natureza da realidade. [...] O pensamento sintético está começando a emergir, e, pela primeira vez, as pessoas começam a se perguntar o que acontece quando você junta as coisas ao invés de separá-las.” Russel Ackoff

Assim, um pensamento que produz sínteses está emergindo. Tal forma de pensar representa uma nova estruturação cognitiva para os indivíduos, e é esse o tal do Pensamento Sistêmico que se tanto fala por aí. É a base que nos leva a entender com um outro nível de profundidade não só o Ágil e o Lean, mas toda uma série de fenômenos que hoje compõem o repertórios prático e conceitual de líderes e gestores no mundo todo.  

A simultaneidade de duas formas de pensar e a emergência de uma nova forma de pensar gera dois grandes desafios para quem está na luta por trazer resultados para as empresas. O primeiro está mais do que presente em nosso cotidiano: os chamados conflitos de mindset, choques de cultura e embates metodológicos. 

É sempre importante ser cético. O elemento 'contexto' nos força a considerar que o fato de uma ideia ser nova, ou de estar na moda, não necessariamente significa que é uma boa ideia. Embora haja um lado positivo e saudável na resistência a novas ideias, precisamos saber, dentre essas, o que é de fato bom para ser absorvido. O debate é, então, necessário. O problema é que, quando há visões de mundo antagonistas, a comunicação se torna extremamente difícil. O que é óbvio pra você, pode ser quase que um absurdo para alguém com um modelo mental amparado em diferentes premissas. Sem dúvida, é do choque de formas de pensar que surgirão os conflitos mais desafiadores nos processos de transformação que as empresas tentam conduzir atualmente. O que vai ajudar, nesse caso, é saber não só porque você pensa do jeito que pensa e qual foi o processo que te levou a isso, quanto porque o seu interlocutor pensa do jeito que ele pensa e o que o levou a isso.

O segundo grande desafio tem a ver com um outro tipo de mudança que acompanha a chegada de uma 'era': um novo ambiente. Certamente, não é o caso que primeiro mudamos a forma de pensar e, por isso, em um segundo momento, o ambiente muda. Claro que não. Primeiro o ambiente muda, e é isso que nos obriga a uma nova forma de pensar. Isso acontece porque o ambiente começa a apresentar novos tipos de problemas para aqueles que nele precisam sobreviver. A consequência disso é a emergência da necessidade de desenvolvermos fluência para lidar com toda uma nova 'classe de problemas'. 

Sem fluência no tipo de pensamento subjacente ao fenômenos mais contemporâneos, fica cada vez mais difícil lidar com os problemas que nos são apresentados no mundo atual. O Pensamento Sistêmico é o modelo de pensamento subjacente às transformações que vislumbramos a nossa volta. A fluência nessa forma de pensar se torna, assim, fundamental para o nosso processo de melhoria continuada rumo aos resultados que queremos. 

As implicações são, dessa maneira, profundas no âmbito individual, profissional e social. A grande questão é: estamos preparados para atravessar essa transição de era? O que temos que fazer para começarmos a 'pensar sistemicamente'? Como prosperar em projetos, negócios e na própria vida dado que tudo isso agora está embutido em um mundo bem diferente daquele para qual fomos preparados pelos instrumentos de educação tradicional? 

É por isso que o Pensamento Sistêmico estará no meu radar durante o ano de 2021. E é por isso que eu vou mergulhar em estudos aprofundados sobre esse modelo de pensamento na nova temporada do programa de Life Long Learning do Software Zen: o We (Wise & Effective). A 2a. temporada vai começar agora no dia 11/02 e será totalmente dedicada aos estudos dessa nova forma de pensar. 

Saiba mais sobre o evento de abertura da 2a. Temporada do We nessa página...