ESPAÇO E CIDADE

Outro dia li que uma conhecida incorporadora estava lançando um apartamento com 14m2 privativos na cidade, e os primeiros comentários entre familiares eram de espanto, afinal, como alguém pode viver em 14m2? Há alguns meses, falávamos já atônitos de apartamentos com 27m2, há alguns anos eram 42, 55, 60m2. Mas porque queremos unidades cada vez maiores? Na verdade não queremos, pelo menos não a nova geração. No Brasil ainda nos espantam apartamentos tão pequenos, mas se formos pesquisar nas grandes cidades do velho mundo, isto é bastante comum. Obviamente isto tudo está ligado a um nicho de mercado que eleva o preço para se viver nas grandes cidades a níveis pornográficos, e provavelmente é isto que São Paulo busca. Em contrapartida, em alguns destes meus momentos filosóficos, me pergunto porquê não? Porque precisamos ter tanto para nos sentir felizes? 

Posso estar sendo utópico, aliás como sempre, mas se a cidade nos oferecer uma boa diversidade e qualidade de atividades culturais, gastronômicas, espaços para lazer, formas de locomoção, que possam atingir de maneira igualitária boa parte das classes, porque necessitamos morar em apartamentos maiores uma vez que o utilizaremos basicamente para dormir? Porque não compartilhar os espaços da cidade, ampliar as relações humanas, reduzir o tempo de deslocamentos, movimentar a economia? Pense no que as grandes cidades do velho mundo oferecem, ficamos todos maravilhados com as opções que experimentamos nestes lugares.

Precisa de um lugar pra chamar de seu? Sim, é fundamental, traz identidade, mas este espaço precisar ter mais que 14m2? 

Sou Ricardo Baddini, 46, arquiteto e urbanista, casado, pai de duas filhas, busco aprender diariamente com as novas gerações. Moro hoje em um apartamento de 100m2 mas estou louco para mudar para uma casa de mais de 250m2 fora de São Paulo.