ESPIRITUALISMO NO TERREIRO DO PAÇO | Anos 90
As histórias “e cenas” que mentes criativas imaginam que os edifícios antigos albergam...e o edificado no Terreiro do Paço não será exceção...
Naquela “hora morta” a seguir ao almoço, a inusitada placidez e o silêncio daqueles gabinetes, momentaneamente sem as presenças do responsável governamental e do respetivo Chefe de Gabinete.
Bem próximo do quotidiano da cidade a palpitar lá fora, uma Adjunta, dois Assessores e duas Secretárias Administrativas, a propósito de, vá-se lá saber o quê, suscitados por um deles e num impulso de misticismo travesso, sentaram-se numa pequena sala interior do Ministério, à volta de uma mesa pé-de-galo.
E deram as mãos entre si para criarem uma corrente humana.
Algum dos presentes já tinha posto um copo virado em cima da mesa, como é da praxe, e com a luz coada a coisa começou.
Começou e acabou em breves instantes – e não é que, entretanto, o copo deslizou um pouco no tampo da mesa?
Depois todos se levantaram, aparentemente bem dispostos e até com olhares e sorrisos marotos entre si, perante a traquinice improvável acabada de ocorrer.
Sem mais, cada um voltou para o seu gabinete e para as suas atividades de trabalho.
Desde então o episódio ficou arrumado numa daquelas gavetas mentais “lá para trás”, que se julga não existirem, até que um dia, revisitando o passado, o assunto volta à tona da memória.
Enquanto tal, a face distende-se, pressentindo-se um sorriso acompanhando o desfiar da inusitada lembrança.
Mas já não é apenas o recordar da traquinice improvável, agora o despertar consciente do passado surge plasmado em inevitáveis congeminações:
- O que terá representado aquele momento para cada um dos participantes – apenas uma brincadeira sem importância, um corte momentâneo com a pressão do trabalho quotidiano, ou o avivar inesperado de experiências anteriores na, ou nas vidas de alguns deles?
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- E o que terá motivado o (a) proponente da iniciativa: também e apenas uma brincadeira, mera curiosidade exploratória, ou terá havido premeditação associada a algum tormento interior e não descortinável pelos colegas?
Duas convições associáveis que importa sublinhar:
- A natureza indomável do ser humano e de como se expressam os seus grau de liberdade, mesmo em situações altamente improváveis.
- A natureza e substância dos factos têm muito que se lhes diga, bem como a(s) verdade(s) associada(s): quem interpreta e como se interpreta(m) os factos, se há “uma verdade” que predomina e se impõe como “a verdade”, ou se, pelo contrário, “a cada um a sua verdade”.
Por maioria de razão, perante o singular episódio que terá tido lugar há mais de três décadas, ocorre verter uma derradeira reflexão que se mantém atual:
- Os ambientes de trabalho nas organizações, independentemente da sua natureza, devem prever por antecipação válvulas de escape, maleáveis e adaptadas a situações previamente identificadas - na sua ausência, a natureza do ser humano encarregar-se-á de emergir colidindo com formatações organizacionais formais e rígidas, e com os efeitos daí decorrentes.
(Não foi este, seguramente, o enquadramento do episódio aqui e agora evocado - apesar das sensibilidades que sempre se estabelecem e interagem no interior dos gabinetes dos poderes estabelecidos, é possível a qualidade relacional sobressair e impor-se naturalmente, sem sofismas)
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