A gestão educacional é o maior entrave da educação no Brasil

A gestão educacional é o maior entrave da educação no Brasil

No Brasil, a discussão sobre a melhoria da educação muitas vezes gira em torno da necessidade de mais recursos. No entanto, é importante questionar se a falta de recursos é a única razão pela qual a educação não evolui conforme o esperado. A realidade é que o investimento no setor educacional brasileiro, tanto público quanto privado, aumentou nas últimas três décadas.

De acordo com estudos do Banco Mundial e da OCDE, o setor público brasileiro investe em média cerca de 5,6% do PIB, um percentual próximo ao de países desenvolvidos que apresentam resultados educacionais significativamente melhores. Essa porcentagem também está acima da média dos países da OCDE, que investem cerca de 4,4% do PIB.

No entanto, apesar do aumento do investimento, a melhoria na qualidade da educação brasileira não tem sido proporcional e, se tomarmos como base os resultados das principais avaliações internacionais que o Brasil participa, pode-se dizer que houve até mesmo uma piora nos últimos anos.

É claro que mais investimento em educação é sempre desejável, porém é essencial utilizar os recursos disponíveis com maior eficiência. Para isso, devemos nos concentrar em quatro pilares fundamentais no setor educacional: estruturação curricular, qualificação do material didático-pedagógico, avaliação criteriosa do desempenho dos estudantes e capacitação dos professores.

A abordagem efetiva desses pilares pode contribuir significativamente para melhorar a qualidade da educação no país. De fato, do ponto de vista pedagógico, é preocupante observar o processo ensino-aprendizagem implementado na maioria das salas de aula brasileiras. Ao analisar tecnicamente o processo de trabalho implementado em grande parte das instituições de ensino públicas e privadas, tanto no ensino básico quanto no superior, é evidente que há um descompasso e uma falta de articulação entre o planejamento do ensino, a execução das aulas e a avaliação do desempenho estudantil.

Toda essa desarticulação pedagógica, em parte, é fruto da baixa qualidade dos nossos currículos escolares.

O planejamento de ensino deve estar alinhado com o currículo proposto pela escola ou universidade, mas muitas vezes os currículos apresentam deficiências que impactam diretamente o processo de ensino. Além disso, a baixa qualificação de muitos professores contribui para a falta de preparo em lidar com os desafios decorrentes da má gestão escolar. Isso cria uma situação em que o planejamento não é devidamente executado nas salas de aula.

Como consequência dessa falta de articulação pedagógica, o que foi planejado, muitas vezes precariamente, não é efetivamente ensinado nas salas de aula. Além disso, é comum que as escolas e universidades não tenham processos de gestão para monitorar o que os professores estão realmente ensinando. Isso reverbera na ineficiência dos processos de avaliação.

Esse contexto de desorganização pedagógica reflete o estado de má gestão pedagógica que permeia o setor educacional brasileiro. Infelizmente, assim como em muitos outros aspectos do país, a má gestão também parece ser prevalente na área da educação. Na prática, nem sempre o que os professores estão ensinando nas salas de aula está alinhado com o que foi estabelecido no currículo escolar, que por sua vez, muitas vezes não foi estruturado adequadamente.

Para piorar, as avaliações de desempenho estudantil aplicadas em nossas escolas e universidades nem sempre refletem o conteúdo ensinado e/ou o que é preconizado no currículo.

Se pudéssemos fazer um diagnóstico por meio de uma analogia com a medicina, poderíamos afirmar que isso é uma espécie de "esquizofrenia pedagógica".

Adicionalmente, ao analisarmos especificamente os materiais didáticos do ensino básico, é possível identificar um descompasso entre o que está presente nos livros e o que é estabelecido no currículo escolar - isso ocorre no setor público e privado.

Essa falta de alinhamento entre currículo, materiais didáticos, práticas de ensino e avaliação demonstra claramente a necessidade urgente de uma gestão pedagógica mais eficiente e integrada. É essencial que haja uma coordenação adequada entre todos esses elementos para garantir uma educação de qualidade e consistente.

Para superar essa "esquizofrenia pedagógica", é crucial direcionar investimentos para o aprimoramento da gestão educacional, pois não basta destinar grandes quantias de dinheiro para outras áreas do setor educacional se o problema central reside na gestão do ensino. É necessário canalizar recursos e esforços para fortalecer a capacidade de gestão pedagógica de nossas escolas e universidades, promovendo uma abordagem mais simples, eficiente e estratégica no âmbito educacional.

Em suma, é fundamental voltarmos aos princípios básicos da educação: planejar, executar o que foi planejado e avaliar o ensino. Devemos priorizar uma cultura de gestão pedagógica eficiente, garantindo que o currículo seja bem estruturado e alinhado com as necessidades dos estudantes. Além disso, é importante fornecer suporte e formação adequada aos professores, capacitando-os a implementar o planejamento de forma eficaz. E, por fim, é essencial realizar uma avaliação criteriosa do ensino, que mensure o que foi efetivamente ensinado e o progresso dos estudantes.

Ao retornarmos a uma abordagem básica e focada na gestão pedagógica, estaremos dando os passos necessários para superar os desafios e melhorar a qualidade da educação no Brasil. Devemos buscar a simplicidade, a eficiência e a estratégia como pilares fundamentais para uma gestão educacional bem-sucedida.

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