Estamos todos condenados à conexão perpétua
Publiquei na Folha de S.Paulo uma entrevista com a pesquisadora Issaaf Karhawi em que ela diz como a internet e os smartphones nos condenaram à conexão perpétua. Trago também 20 dicas para tentarmos nos desconectar.
Os nascidos nos anos 2000 talvez nem lembrem, mas houve uma época em que bastava desligar o computador para também desligar a internet. Hoje, da hora em que acordamos até a hora em que vamos dormir, passamos o dia acompanhado desse monstro chamado celular.
Sentimos uma necessidade intrínseca de conexão. Esses dias tive um problema com meu plano da operadora e passei mais de um dia com internet somente no wi-fi. Foi desesperador estar no metrô (eu tinha saído de casa sem livro ou Kindle) e ver todos os passageiros mexendo em seus celulares e eu ansioso por saciar meu vício como meus colegas de vagão.
Eu deveria estar contente por me ver forçado a ficar alguns minutos sem atualizar mais um feed inútil e ter a possibilidade de refletir sobre a vida. Mas a verdade é que sentia uma taquicardia inquietante por estar sem fazer nada.
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Será que chegamos num ponto de não retorno? Quanto tempo conseguimos passar realmente longe de alguma conexão? Você pode até estar longe do celular, mas talvez esteja trabalhando num Google Sheets no computador ou vendo uma série da Netflix na televisão. Tudo online.
Cubro tecnologia e redes sociais há alguns anos e esse é um dos assuntos que mais me interessam. Tornar a tecnologia mais humana e menos agressiva é uma das principais missões de nosso tempo. E temos falhado miseravelmente.
O direito à desconexão deveria ser prioridade governamental e realidade por meio de políticas públicas. Deveria ser prioridade das big techs, mas não é. Eu me incomodo muito com uma falha que vejo em quase todas as redes sociais: você clica em uma notificação, ela some por um tempo e de repente reaparece. Você tem que clicar de novo e de novo para finalmente ela sair. Bug ou proposital? Fato é que me irrita e me faz passar mais tempo nas plataformas.
Na mitologia grega, Tântalo foi sentenciado a não poder saciar sua fome e sede. Cada vez que ele se aproximava de um lago ou de uma árvore com fruto, a água secava e o fruto sumia.
Talvez a nossa condenação perpétua à conexão seja o nosso mito de Tântalo.
Assessora Ditec- Diretoria de Tecnologia do Banco do Brasil
1 aTava lendo seu texto lembrando da Skynet… e vejo que já estamos sendo dominados pela internet e suas conexões. Por isso que análises e reflexões como essa são muito válidas. E agora to com esse exercício pra fazer… diariamente!
Professora na ECA-USP
1 aBrilhante, Mateus! Feliz de ter participado dessa reflexão.