Estilos de Aprendizagem: Mito ou Mania?
A percepção da educação como ciência é um fenômeno relativamente recente, sendo possível encontrar evidências no final do século 19 e início do século 20. No entanto, a educação está presente em nossas vidas há pelo menos 5.000 anos, considerando as primeiras escolas sumérias como um marco inicial.
Até ser reconhecida como uma disciplina científica, a educação foi tratada como luxo, estratégia, política, privilégio, arte, construindo e consolidando alguns mitos que permeiam o imaginário coletivo até hoje.
Um dos mitos mais persistentes é o de que existem "estilos de aprendizagem", isto é, que indivíduos possuem diferentes facilidades para o aprendizado e que a customização da educação para esses estilos promoveria melhores resultados. Segundo esse mito, algumas pessoas aprendem melhor a partir de estímulos visuais, auditivos, táteis ou textuais, justificando, assim, uma estratégia de design e arquitetura educacional voltada para atender a esses estilos.
No entanto, diversas pesquisas demonstram que não existem evidências que corroborem a efetividade de alinhar um formato de educação a um dado "estilo de aprendizagem", muito pelo contrário. Um estudo publicado em 2018 por Polly R. Husmann e Valerie D. O'Loughlin investigou a performance de alunos de graduação em anatomia, com o objetivo de entender se tais alunos adotavam seus estilos de aprendizagem na hora de estudar e, ainda, se os resultados eram positivos. A conclusão não só demonstrou que os alunos não têm o hábito de recorrer aos estilos que dizem ser os seus, mas quando o fazem, isso não contribui para uma melhor performance acadêmica.
Além da ausência de evidências empíricas, o mito dos "estilos de aprendizagem" sofre também de inconsistência de classificação. Não há qualquer tipo de consenso sobre como classificar pessoas de forma precisa em facilidades ou preferências específicas. São numerosos os modelos e frameworks, cada um com suas forças e vulnerabilidades, contribuindo para uma ausência de padrão para mensuração e classificação.
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Diante desse mito, é preciso reforçar que nosso processo cognitivo é multifacetado, complexo e influenciado por diversos fatores, como conhecimento prévio, motivação, atenção e metacognição, dentre outros. O mito dos "estilos de aprendizagem" é nocivo e uma simplificação que não abrange a real complexidade com que os seres humanos processam, aplicam e retêm conhecimento.
Em suma, ainda que você tenha todo o direito de preferir um ou outro formato de conteúdo, saiba que a qualidade da sua aprendizagem não depende disso. Melhor e mais eficiente que tudo é a "multimodalidade" de formatos instrucionais. Em vez de um formato que se encaixe em um estilo, que tal uma grande diversidade de conteúdos? Assim, você não só satisfaz uma preferência, como também oferece múltiplas oportunidades de aprendizagem para acomodar as mais variadas necessidades e contextos.
Gustavo Brito, Chief Learning Officer da Bossa.etc
Sócia, Superintendente de Consultoria Pessoas (Operações, IGA e Atendimento) e de Atração, Seleção e Aprendizagem para Áreas Institucionais.
1 aGostei dessa abordagem!
Managing Partner House of Brains
1 aExcelente artigo
Gestão de mudanças | Desenvolvimento Humano e Organizacional | Treinamento & Desenvolvimento | Gestão de Programas de desenvolvimento | Cultura Organizacional
1 aSem dúvidas, Gus! concordo demais. Mais do que o formato, a motivação e clareza em saber porque, pra que e meus ganhos reais em determinada aprendizagem me fazem querer aprender, independente da via!