Estoicismo a.k.a. Humildade
As definições são muitas.
Sorte, acaso, imponderável, destino, externalidades. O fato é que, observado um horizonte de tempo mais alongado, o elemento externo a nosso controle tem papel preponderante no encaminhamento do negócio, e em última instância, da vida.
Há alguns bons anos atrás, em uma sessão com um mentor de carreira que admiro muito, perguntava a ele sobre dicas para um desafio profissional que àquele momento acabava de receber.
Ele, erudito, articulado e culto que é, me diz: "O principal conselho que posso te dar é que você concentre sua energia nos 25%, 30% das coisas que estão sob seu controle."
Fico surpreso, confuso, atônito. Como assim? Como eu, empoderado às tampas naquela ocasião, poderia restringir minha atuação à somente 1/3 da agenda?
E ele prossegue (tentando aqui transcrever o que minha memória me permite resgatar):
"É duro admitir, mas a realidade empírica de carreiras e das jornadas empresariais demonstra que, no tempo, controlamos a menor parte do que nos acontece. A maior parcela é dirigida por fatores alheios a nossa influência, sejam eles ligados ao acaso, ou a elementos que não estão em nossa direta capacidade de gerir."
Eureka!
Ele me presenteava ali, sem que eu soubesse, com o conceito de Estoicismo, que hoje tão disciplinadamente utilizo em meu dia a dia como gestor.
Somente depois de alguns anos, vim a descobrir essa escola de filosofia prática da Grécia Antiga, que prega a busca da boa vida com foco apenas no que nos é possível controlar, deixando de sofrer por aquilo que não está no alcance humano.
E aqui cabe a ressalva: o que a corrente defende NÃO É que sejamos passageiros da vida, reféns do determinismo, do casuísmo, por mais saibamos que esses elementos estejam aí sem que percebamos.
Pelo contrário.
É um chamado para a ação contínua, objetiva, mas direcionada ao que podemos influenciar.
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Definitivamente não se trata de conformismo.
A psicoterapia moderna, inclusive, se vale dessa crença, propondo que não sejamos passivos em relação à vida, mas que aceitemos naturalmente os eventos que estão além de nosso controle, ou aqueles que já tenham acontecido.
E para isso há que se evocar algo muito importante: hu-mil-da-de.
É osso reconhecer limitações próprias. Soa bonito no discurso na firma ou na entrevista de emprego, mas para ser verdadeiro na prática, tem que ser fruto de um exercício de autoconsciência, de autocontrole contínuo.
Até porque temos dados de todos os lados que sustentam a tese de nossas limitações.
Em intervalos de tempo alongados, a vida empresarial é errática. Tome-se o mundo de investimentos, por exemplo. Juros, ações, moedas, todos têm seus momentos de terra arrasada em algum em ponto da série histórica, em qualquer estatística, a despeito da qualidade de economistas e gestores.
O mesmo se vê no plano pessoal. Qualquer indivíduo há de enfrentar tormentas de saúde, divórcio, ou infortúnios profissionais em alguma fase da vida. Fact of life.
Com essa crença, procuro levar a visão estoica em minha prática de gestão de negócios. Com a humildade de aceitar que meu controle é limitado, e a racionalidade de me preparar para os downtimes que certamente virão.
Minha lista de práticas vai na seguinte linha, o que, a propósito, levamos a cabo aqui na Líber :
Não tenho dúvidas de que é possível fazer um negócio, uma empresa sobreviver sem esse framework, mas que fique claro: sobreviver é bem diferente de vencer.
E aqui sem nenhuma pretensão de querer parecer crer que vitória está restrita a aspectos econômicos.
Mas para sermos de fato built to last, penso que um pouquinho de estoicismo (que aliás só é possível com humildade genuína), há de ajudar bastante.
Global Marketing Director | Strategic Leader | Digital Expert | Entrepreneur
1 aAdorei! ♥️👏🏻👏🏻👏🏻
Muito com o texto Márcio Parizotto!! 👏 👏 👏
Parabéns pela reflexão e obrigado por compartilhar!
Founder & Chief Creative Officer at Evil Twin Music | Creative Director | Copywriter | Culture, Sports & Advertising Enthusiast | Triathlete
1 aExcelente texto Márcio Parizotto. No mundo da música, aonde tudo pode ser mais abstrato, faz muito sentido. Outro valor/filosofia que tb adoro e aplicamos por aqui, inspirado no Aikido/Japão, é o TENKAN: a arte de ter os pensamentos e o corpo flexíveis e treinados o suficiente para dançar (e aceitar) as adversidades e percalços que venham a surgir no mapa longo da vida. :) Abraço!
CBO Diaspora.Black | ForbesBLK | Consultor e Palestrante | Mestre em Administração | Falo sobre: Diversidade, Motivação, Felicidade e Inteligência Emocional
1 aÉ até engraçado, mas tive contato com o estoicismo enquanto aprofundada os estudos sobre mindfulness. O conceito de "prosoche" no estoicismo é exatamente a atenção plena e poderia tranquilamente ser tido tambem como base do mindfulness. Seu artigo é brilhante, e é interessante pensar no exercício diário de humildade para que se possa assumir uma postura que admita e permita o não controle de tudo nos dias atuais. Estou convicto que esse exercício é motor da inovação, é a partir desse lugar de humildade que se busca o novo e as trocas, é também essa visão que possibilita arriscar mudanças e olhar para os erros com visão de aprendizado, afinal, não se tem o controle de todas as variáveis. Não posso deixar de citar aqui tb a importância da diversidade neste contexto, equipes diversas permitem a troca de experiências e a complementaridade dos conhecimentos. Obrigado por dividir isso com a gente.