Estou no caminho certo?

Estou no caminho certo?

Talvez esta pergunta seja a mais comum e, no entanto, poucos de nós assumem que, no fundo, não sabem. O fato é: como podemos de fato saber? De um lado é possível termos as evidências e isso pode, sim, nos ajudar a compreender que estamos indo na direção adequada.

Neste sentido, coletamos dados concretos que nos ajudam a perceber se nossa ação no mundo está gerando os resultados que acreditamos que devem gerar. Se elas corroboram com nossa expectativa nos sentimos bem, se não ficamos na dúvida.

Porém, muitas vezes quando as coisas estão indo relativamente bem, também nos perguntamos: "estou no caminho certo?" Desta vez a pergunta adquire um sentido mais profundo, não é mais sobre os objetivos traçados, mas sobre o objetivo da vida em si.

Muito se fala em "sentido da vida", porém compreendemos isso como uma meta a ser atingida, ou seja, algo que deve ser criado em nossa mente e, então executado, como um plano para o trimestre. Configuramos então que devemos ter "x" viagens internacionais, "x" amigos e eventos interessantes, "x" tipo de comida para comer e beber e por aí a lista segue. Criamos um ideal de pessoa e tentamos construir este ideal.

Mas e se o sentido da vida não tiver a ver com ideais? Não quero dizer que você não deva ter metas, pelo contrário, elas são necessárias à vida. Porém, quando coloco elas dessa maneira, perceba que as coloco "abaixo" da vida, ou seja, elas são necessárias para a vida, servem à ela e não o oposto.

Este é o ponto importante. Temos invertido os lugares disso ao longo dos anos. Acreditamos que alcançar as metas é para o que a vida serve, e não o contrário: alcançar metas é uma das várias formas de viver a vida. Até porque a vida não precisa de "metas" no sentido que temos hoje. Cada vez mais percebo que as pessoas conectadas com suas vidas são as que menos sofrem ao fazerem escolhas e tomarem decisões. Não se trata de inteligência superior ou de uma grande percepção de mercado, não, ela possuem bem desenvolvido apenas uma "coragem existencial", ou seja, coragem em afirmar aquilo que são, como são.

Embora você possa dizer que também quer "ser você mesmo", pergunte-se se na verdade quer ser você ou um ideal de você. Há uma grande diferença. Ser quem somos envolve aceitar limitações e defeitos e sentir-se em paz com isso, sem o intuito necessário de mudar isso. Afirmar-se significa trabalhar em prol daquilo que realmente faz sentido ao nosso eu, ao invés de nos encher de atividades só porque "todo mundo está fazendo". Dizer não ao comum quando ele não tem a ver com nossa pessoa e dizer sim ao estranho quando ele nos faz sentido. É isso que envolve "ser quem somos".

E, também, isso não deve ser lido de uma maneira romântica onde o mundo se adapta à minha pessoa, pelo contrário: devo aprender a lidar com o diferente, respeitá-lo e também saber como inserir quem sou no mundo. O trabalho continua, a perspectiva muda. Para citar Robert Frost:

Two roads diverged in a wood, and I—
(Duas estradas divergiam no caminho, e eu)
I took the one less traveled by,
(Eu peguei a menos movimentada)
And that has made all the difference.
(E isso fez toda a diferença)

Pois no fim, não há neste plano alguém que possa lhe dizer se você está no caminho certo. Os dados vão mostrar se você atingiu suas metas, com certeza, mas se isso irá tocar o seu coração, ninguém poderá dizer. A não ser o seu próprio corpo e a sua experiência. É apenas aí, onde você sempre esteve que poderá encontrar a resposta, pois ela não está em algum lugar distante de nós, está já aqui com nós. Podemos até, fazer uma outra pergunta: "este caminho que já trilho, tem me mostrado quem sou?" Pois se tomamos uma estrada para continuar fugindo de nós, podemos trilhar muitas milhas, apenas para ter que voltar novamente. Mas se o caminho já nos é conhecido, então podemos apenas trilhá-lo, pois já estamos em casa.


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