A Estratégia do Oceano Azul
A Estratégia do Oceano Azul, introduzida por W. Chan Kim e Renée Mauborgne em seu influente livro, representa um marco no pensamento estratégico e na inovação empresarial. A essência da estratégia reside na busca por espaços de mercado inexplorados, denominados "Oceanos Azuis", que permitem às empresas romper com a concorrência intensa dos "Oceanos Vermelhos", os mercados saturados onde a luta por participação de mercado reduz a lucratividade. Vamos desdobrar o conceito da Estratégia do Oceano Azul, explorando suas principais ferramentas, implicações para as empresas e desafios na implementação, ilustrado por casos práticos.
Fundamentos da Estratégia do Oceano Azul
O ponto de partida da Estratégia do Oceano Azul é a constatação de que a competição acirrada em mercados existentes (Oceanos Vermelhos) limita o potencial de crescimento e lucratividade das empresas. Em contraste, os Oceanos Azuis representam mercados não contestados, espaços novos e dinâmicos, onde a competição é irrelevante porque as regras do jogo ainda não foram estabelecidas. A criação de Oceanos Azuis é, portanto, sinônimo de inovação em valor, que busca simultaneamente diferenciar a oferta da empresa e reduzir custos, criando assim novas demandas e tornando a concorrência obsoleta.
A estratégia do Oceano Azul é chamada assim para ilustrar a metáfora entre os "oceanos" do mercado. Nessa metáfora, os "Oceanos Vermelhos" representam todos os setores da indústria já existentes – ou seja, o espaço de mercado conhecido. Nesses oceanos, as empresas competem ferozmente pela quota de mercado, levando a uma batalha sangrenta (daí o "vermelho") onde a única maneira de superar a concorrência é superá-la em aspectos como custo, qualidade e inovação. Essa competição intensa muitas vezes resulta em uma diminuição das margens de lucro e em um cenário altamente competitivo, onde o crescimento muitas vezes é limitado.
Por outro lado, os "Oceanos Azuis" representam o espaço de mercado não explorado, livre de concorrência. Este é um espaço para crescimento e inovação, onde as regras do jogo ainda não foram estabelecidas. Os Oceanos Azuis são caracterizados pela criação de novos mercados, através da oferta de produtos ou serviços que criam uma nova demanda, tornando a competição irrelevante. A tranquilidade e vastidão dos oceanos azuis simbolizam o potencial ilimitado para o crescimento e a inovação que as empresas podem alcançar ao se afastarem dos mercados saturados e ao explorarem novas oportunidades.
Ferramentas e Modelos
A Estratégia do Oceano Azul oferece várias ferramentas analíticas e frameworks para facilitar a busca e a criação desses espaços inexplorados. A Matriz ERRC (Eliminar-Reduzir-Elevar-Criar) é central para repensar as propostas de valor das empresas. Ao questionar quais fatores da indústria devem ser eliminados, quais devem ser reduzidos bem abaixo dos padrões do setor, quais devem ser elevados bem acima dos padrões do setor, e quais devem ser criados para dar início a um novo mercado, as empresas podem desenhar novos espaços de valor.
Matriz ERRC (Eliminar-Reduzir-Elevar-Criar) é uma ferramenta estratégica central na Estratégia do Oceano Azul, desenvolvida por W. Chan Kim e Renée Mauborgne. Ela serve como um quadro de análise que ajuda as empresas a identificar novas oportunidades de criar valor para os clientes de uma maneira que a concorrência se torne irrelevante. A matriz se concentra em quatro ações estratégicas que as empresas podem tomar para reconstruir os elementos do mercado a partir de uma nova perspectiva:
Eliminar: Identifica os fatores que o setor tem tomado como garantidos há muito tempo, mas que podem não mais ter valor para os clientes. Ao eliminar esses fatores, as empresas podem reduzir custos e simplificar produtos ou serviços.
Reduzir: Determina quais fatores devem ser reduzidos bem abaixo dos padrões do setor. Esta ação visa eliminar ou diminuir elementos do produto ou serviço que são menos valorizados pelos clientes ou são superdimensionados em relação às necessidades do mercado.
Elevar: Aponta quais fatores devem ser elevados acima dos padrões do setor. Isso envolve melhorar elementos do produto ou serviço que aumentam significativamente o valor entregue aos clientes.
Criar: Identifica quais fatores devem ser criados e que nunca foram oferecidos pelo setor. Isso envolve inovar para oferecer novas fontes de valor para os clientes, criando demanda e expandindo o mercado.
Ao aplicar a Matriz ERRC, as empresas podem repensar drasticamente sua oferta de valor, diferenciando-se dos concorrentes e criando novos espaços de mercado — os Oceanos Azuis. Essa ferramenta não apenas ajuda a escapar da concorrência acirrada, mas também a encontrar novas oportunidades para crescimento e lucratividade.
Exemplo da Matriz ERRC
Imagine que estamos avaliando uma companhia aérea que deseja se diferenciar em um mercado altamente competitivo. A aplicação da Matriz ERRC poderia ser ilustrada da seguinte forma:
● Eliminar: Refeições gratuitas em voos curtos, que muitas vezes são de baixa qualidade e não valorizadas pelos passageiros.
● Reduzir: A complexidade dos diferentes tipos de tarifas, simplificando a estrutura de preços para torná-la mais transparente e menos confusa para os clientes.
● Elevar: O conforto dos assentos e a experiência geral a bordo, oferecendo mais espaço para as pernas e melhor entretenimento.
● Criar: Um sistema de embarque mais eficiente e personalizado, que reduza o tempo de espera e melhore a experiência do cliente.
Essa abordagem inovadora poderia não apenas diferenciar a companhia aérea no mercado saturado, mas também criar um novo espaço de mercado onde seus concorrentes são menos relevantes.
Outra ferramenta importante é o Canvas da Estratégia, que visualiza a estratégia competitiva de uma empresa em relação a seus concorrentes, com base em fatores-chave de sucesso no setor. Isso ajuda a identificar áreas para inovação em valor.
O Canvas da Estratégia é uma ferramenta central da Estratégia do Oceano Azul, que permite às empresas visualizar a sua estratégia competitiva em comparação com as dos concorrentes. O objetivo é ajudar as empresas a descobrir como podem se diferenciar dos concorrentes e criar novos espaços de mercado. Aqui estão os componentes chave e como a ferramenta é utilizada:
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Componentes do Canvas da Estratégia:
Eixos: Existem dois eixos principais no Canvas da Estratégia. O eixo horizontal representa os fatores-chave de competição no mercado ou as características que são importantes para os compradores dentro de um setor. O eixo vertical representa o grau de oferta dos produtos ou serviços das empresas em relação a esses fatores, indo de baixo a alto.
Curva de Valor: A curva de valor é uma linha gráfica que mostra a performance de uma empresa em relação a esses fatores-chave de competição. Ao desenhar a curva de valor de uma empresa e de seus concorrentes, é possível visualizar como as empresas competem entre si e onde estão investindo seus recursos.
Fatores de Competição: Identifica-se os fatores pelos quais as empresas têm competido. Esses podem incluir preço, qualidade, marca, variedade de serviços, tecnologia, entre outros. Cada indústria terá um conjunto único de fatores que são relevantes para ela.
Diferenciação: Uma vez identificados os fatores de competição, as empresas podem procurar maneiras de diferenciar sua oferta ao alterar sua curva de valor. Isso pode envolver a elevação de fatores onde a empresa se sobressai, a redução ou eliminação de fatores onde ela não compete bem, ou a criação de novos fatores que nunca foram oferecidos antes.
Utilização do Canvas da Estratégia:
● Análise da Situação Atual: Empresas podem usar o Canvas para entender a situação atual do mercado, visualizando a sua estratégia atual e as dos concorrentes. Isso ajuda a identificar se a empresa está competindo em um "oceano vermelho" e onde poderia haver oportunidades para inovação.
● Identificação de Novas Oportunidades: O Canvas ajuda a identificar oportunidades para criar "oceanos azuis". Ao olhar para os fatores que a indústria valoriza, as empresas podem pensar em novas maneiras de atender às necessidades dos clientes ou criar novas demandas.
● Desenvolvimento de Estratégias Inovadoras: A ferramenta incentiva as empresas a repensar e reconstruir seus mercados através da inovação. Isso pode significar a criação de um novo modelo de negócios ou a alteração de aspectos-chave da oferta atual.
● Comunicação Estratégica: O Canvas da Estratégia também é uma ferramenta de comunicação poderosa que permite compartilhar visualmente a direção estratégica com stakeholders internos e externos, alinhando toda a organização em torno da nova visão estratégica
Aplicação Prática e Casos de Sucesso
Exemplos práticos ilustram a eficácia da Estratégia do Oceano Azul. O Cirque du Soleil é frequentemente citado como um caso emblemático, tendo reinventado o conceito de circo ao eliminar elementos controversos, como o uso de animais, e incorporar elementos teatrais sofisticados, criando uma nova forma de entretenimento que atraía um público mais amplo e disposto a pagar preços premium.
A Nintendo, com o lançamento do Wii, também exemplifica a aplicação da Estratégia do Oceano Azul. Ao focar em um console que priorizava jogos familiares e interativos, a Nintendo expandiu o mercado de videogames para incluir uma demografia mais ampla, incluindo idosos e famílias, em vez de competir diretamente no mercado saturado de jogos de alta definição.
Desafios na Implementação
Apesar do apelo da Estratégia do Oceano Azul, as empresas enfrentam desafios significativos na sua implementação. Identificar e desenvolver um Oceano Azul requer uma compreensão profunda das necessidades não atendidas dos consumidores e a capacidade de pensar além das fronteiras do mercado existente. Além disso, a implementação de uma nova estratégia pode encontrar resistência interna, dado que implica mudar práticas estabelecidas e, muitas vezes, requer uma mudança cultural dentro da organização.
Conclusão
A Estratégia do Oceano Azul oferece um roteiro poderoso para as empresas que buscam escapar da concorrência feroz e encontrar novos espaços para crescimento e inovação. Ao focar na criação de valor de forma inovadora, as empresas podem descobrir novos mercados onde a concorrência é irrelevante. No entanto, de acordo com Marcelo Pereira Binder, docente da FGV, a busca por um "oceano azul" pode induzir ansiedade em empresas e empresários devido à sua complexidade para ser alcançado. Ele menciona que existem opiniões que consideram a ideia apresentada no livro como idealista, mas sustenta que aplicar o conceito pode ser benéfico ao permitir que negócios repensem e busquem inovar em sua proposta de valor. Isso representa um exercício valioso para o empresário, embora a conquista do "oceano azul" não seja uma realidade para todos. Ou seja, aquele que consegue aplicar a estratégia tem um enorme diferencial no mercado.
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10 mMario H Trentim, Adorei o artigo. Li Oceano Azul há uns bons anos e foi interessante relembrar sobre a metodologia hoje com uma visão mais madura sobre negócios e carreira. Um dos pontos que você menciona é me chama atenção é a importância da comunicação neste processo: o posicionamento diante de todos os públicos da empresa é crucial para implementar ações de sucesso.