Etarismo é real mas...

Etarismo é real mas...

Ontem, em meio a uma animada festa, um amigo me sugeriu fazer posts sobre Etarismo.  Segundo ele, eu sou uma história de sucesso.  Eu nunca havia me visto como “um sucesso”.  Para mim, sucesso era sobre alguém que saiu de uma realidade miserável e virou CEO de uma empresa.  Ou alguém que, por algum desfortúnio, perdeu algum membro ou sentido e virou medalhista.  

Mas, pensando um pouco mais fora da caixa, sobreviver com alguma paz de espírito, contas pagas e sanidade mental já é um sucesso nos dias de hoje. E, acreditem, essas três coisas, parecem que diminuem com o passar dos anos.

Eu sempre achei que tive muita sorte.

Comecei a minha vida profissional aos 23 anos. Nada sacrificante.  Me formei e fui trabalhar numa empresa de ponta. Trabalhei até os 29 e, então, tive que me retirar voluntariamente (mas nem tanto) do mercado de trabalho por conta de problemas de saúde de um dos meus filhos.

Os anos foram passando, eu continuava housewife, fazendo alguns “freelas”, de vez em raro.  Não faltou quem dissesse que, depois dos 40, era muito difícil arranjar emprego. 

E foi aí que a sorte começou. 

O “freela” para a Fiocruz virou trabalho terceirizado e, um ano depois, o trabalho terceirizado foi passou a ser na Petrobras S.A.  Eu havia voltado à vida corporativa aos 42 anos, totalmente desatualizada sobre internet e uma completa ignorante sobre finanças, compliance, tributação etc.  Foi desesperador.  Mas, com a obrigação de resistir (lembram dos boletos?), humildade para aprender e dedicação, fiquei, me enfinquei, virando referência no que eu fazia.

Aí, veio a pernada da conjuntura do país.  Rua!  E rua aos 55 anos! No começo, nem me preocupei. Estava tão segura do quanto eu era boa no que fazia que achei que arranjaria outro trabalho em 3 meses.  Bem... Os 3 meses foram 2 anos e meio. As reservas de sobrevivência no fim e o desespero instalado. 

Aí veio a segunda “sorte”. Fui contratada, aos 57 anos, pela Wilhelmsen Ships Service (sempre serei grata por isso). O inglês fluente foi meu cartão de visitas, porque eu não tinha a mínima experiência na área comercial. Novamente, tive muitas dificuldades e precisei até de terapia. Mas fiquei lá por 4 anos e meio, até que outra “sorte” cruzou o meu caminho.

Então, aos 61 anos, fui novamente contratada para trabalhar a serviço da Petrobras.  E não foi só isso. Foi para fazer um trabalho parecido com o que eu fazia anteriormente (lembram da referência?), com gente que eu já conhecia e com a comodidade do home office 100%.

Gratidão para com a vida.

Mas todo esse caminho não foi só sorte, glamour e brilho.  Foi resistência e resiliência também. 

Eu gosto muito da imagem do Rocky Balboa.  Para quem viu algum filme da franquia, já repararam que o Rocky sempre apanhava muito antes de vencer?  A sua marca era a resistência.  Ele apanhava, e apanhava, e apanhava... até começar a cansar o oponente.  E era aí que aproveitava e dava o golpe que iria mudar o jogo. Acho que eu cansei a vida.

Na minha jornada pós-40, tropecei sim no famoso idadismo ou etarismo (na época a gente chamava de preconceito de idade, mesmo), porque sempre trabalhei com gente, pelo menos, vinte anos mais nova.  De lá para cá,  foram diversas “divisões de status”: mais velhos x mais novos, concursados x contratados, docentes x administrativos, "primeiromundistas" x brasileiros...  Nessas horas, parece que a sorte não era tão sortuda assim, não é mesmo? 

A idade é real. O acúmulo de experiências é subvalorizado, mas é necessário (mesmo que as empresas levem algum tempo para perceber isso).  Os avanços da Medicina (e a situação da Previdência Social) indicam que todos nós teremos que trabalhar por muito mais tempo que nossos pais e o que hoje é problema da minha geração, logo se tornará problema de todas as gerações.  Mas isso não é sentença de morte para ninguém.

No meu caso, no meio de toda “sorte”, houve (e ainda há) muita resistência.  Diferenças absurdas de salários, dificuldade no aprendizado de novas tecnologias, inseguranças literalmente implantadas.  Houve muito “choro no banheiro”, mãos trêmulas, corpo dolorido, insônias...  Mas também houve a inconformação com a conjuntura. Por isso resisti.

Aos mais velhos eu digo: querem parar de trabalhar para aproveitar a vida, correr na praia, ficar com os netos ou simplesmente fazer aquele monte de nadas? Façam isso! Mas tem que ser por opção

Para quem não pretende ou não pode, se dá para ir, por que ficar parado?  Por que desistir antes de tentar?  Há dois anos, recebi um diagnóstico de que iria parar de andar em 5 anos. A inconformada aqui então resolveu se cuidar e começou a participar de circuitos de rua. Não corro. Vou caminhando, mas vou. A luta também é exemplo e, às vezes, a gente sobe ao podium. Na categoria sênior, mas sobe. E ainda inspira os mais novos, tá!  

Acreditem mais em vocês do que na sorte, sejam resilientes, cuidem do corpo e da mente, aprendam tudo o que puderem aprender e sejam abertos ao mundo dos mais jovens. Sem essa de que “no meu tempo era melhor”.   Todos os tempos são bons para quem se adapta.

Desejo a todos muita sorte na vida.  E também muita energia e muita esperança de que o futuro é hoje e o hoje tem que ser bom.




Mariana Mello Campos

Co-Founder @ Ginga.Store | LinkedIn Top Voice | Content Producer | CCO as a service

7 m

Que incrível o seu relato, Ana! Você é um exemplo de resistência e determinação. Keep going e compartilhe tudo aqui para a gente te acompanhar!

Juliana Ribeiro

Advogada Corporativa Sênior na EDF Brasil

7 m

Parabéns!! Vc é inspiração!!

Flavia Reis

People Management | Human Resources | Business Partner | HR Specialist

7 m

Oi Ana, que relato inspirador! Adorei. Parabéns pelas suas conquistas e pela sua determinação. 👏 Posso compartilhar?

Alessandro Ribeiro, MSc.

Gerente de Riscos e Informações Estratégicas de Contencioso na Petrobras | Mestre em Gestão Empresarial na FGV | Governança, Riscos e Conformidade | Aprendizagem Organizacional | Gestão e Inovação Jurídica

7 m

Ana Kristina Soares muito obrigado por compartilhar suas experiências e histórias. Gera profundas reflexões da forma como podemos encarar (e superar) os desafios da vida com resiliência e alegria 👏

Paulo Samico

Gerente Jurídico | LinkedIn Top Voice e Creator | Jurídico Corporativo | Criatividade | Inovação | Tecnologia | ESG | Legal Operations | Contratos | Compliance | Consultoria Jurídica | Legal Affairs

7 m

Ana Kristina Soares, você não sabe o quanto me orgulha em ver esse relato aqui! Você sim é uma história de sucesso, você sim tem lugar de fala e você sim é uma grande inspiração para todos nós: mulher de garra, de determinação e de CORAGEM! Quero muito acompanhar sua trajetória aqui no LinkedIn e aprender com o seu olhar. Vamos juntos!

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos