Eu ainda tenho medo de escrever
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Eu ainda tenho medo de escrever

Mas é isso que me valida para buscar e construir melhor meus textos. Minhas experiências me garantem repertório e a escrita passa por isso também. 

 

Essa é uma frase pulsante em meus pensamentos diários.

Mas você escreve toda hora, formou em jornalismo, tem o hábito da escrita e da leitura, não é?!

Sim, mas o ato de escrever não é matemática aplicada. Confesso que escrever é um dos grandes desafios na minha carreira, não basta saber o que é verbo, sujeito e predicado, quando usar crase, ponto final ou vírgula (aliás, quantos são os mestres da escrita que não tiveram a oportunidade de uma formação gramatical, acadêmica e são surpreendentes), exige as palavras certas, emoção e muito pouco tempo, na maioria das vezes, principalmente quando se trata do jornalismo diário.

Poucas são as pessoas que produzem conteúdo e que tem horas para tecer um texto, buscar clareza, frases que prendam o leitor, algo de impacto que não desvie seu olhar, pelo menos por alguns minutos. Vocês já devem ter ouvido isso, mas vou repetir: é mais transpiração que inspiração.

Escrever exige repertório, técnica e eficiência: exige atender ao público que vai receber a mensagem, um público cada vez mais qualificado, diga-se de passagem, bombardeado por informação a cada milésimo de segundo. Nunca recebemos tanta informação escrita, mesmo que o aumento da produção e visualização dos conteúdos em vídeo seja a constatação do consumo para futuro (isso é um texto para outra hora, mas, lembrem, escrever bem para produzir um vídeo continua sendo algo fundamental).

É complexo garantir o melhor texto, não dá para garantir poder de persuasão, impacto, objetividade e criatividade sempre. Se antes haviam papeis amassados em formato de bolinhas, hoje existem apertar de teclas, deletes e bugs. Mesmo porque a escrita, para além das dicas, exige aspectos que são totalmente subjetivos como experiência, dedicação, leitura, releitura, além de uma técnica milenar humana, a arte de contar histórias.

Como eu não sou boba é claro que não vou dar um conselho, ainda estão criando minhas expertises, e tão logo desejo estar neste patamar, mas deixo aqui algumas dicas de um jornalista brasileiro conhecido por suas técnicas e escrita, pela maneira inteligente de usar as palavras, bem como de impactar o público.

Pedro Bial, em entrevista recente para a revista Você S.A ao ser questionado sobre quais são os elementos mais importantes para construir uma narrativa interessante, disse: “ ...acredito que o principal elemento para construir uma narrativa interessante é que ela seja genuína. Não adianta ter todas as técnicas para construir uma história sedutora se ela não tem verdade. E verdade no sentido de vivência. As palavras são como cheques, você escreve o valor ali, assina, mais precisa ter fundo”.

Portanto, tenha medo, mas faça, use do seu repertório, construa boas histórias, seja verdadeiro e use as palavras que acredita, não existe uma técnica, mas várias técnicas, uma delas apropriar do texto com sentimento, mesmo que seja o sentimento do medo, da página em branco, de errar. O medo pode ser um elemento que te ensina caminhos para o processo da narrativa.

Ando com medo, mas ele não me paralisa, ele me ajuda a contar história.

 

Josué Gomes

Jornalista e Mestre em Comunicação Social

4 a

Que incrível, Cíntia! Me identifiquei muito com o texto, esse medo me acomete sempre que estou diante do documento em branco e me coloca três vezes mais atento com as escolhas que faço. Acredito que a gente se escreve junto com o texto e é nisso que está beleza das palavras. Quando a gente escreve criamos mundos, isso me lembra muito a citação de Paul Ricoeur que li esses dias: "O mundo é o conjunto das referências abertas por tudo tipo de textos descritivos ou poéticos que li, interpretei e gostei." Tempo e Narrativa - Tomo 1, p.137.

Túlio Costa

Revisor de Textos no SESI MG

4 a

Que show, Cíntia! Se eu for me basear nos e-mails corporativos que você me encaminhou, não precisa ter medo nenhum! Seu texto está muito, mas muito acima da média! É lógico que deu para perceber perfeitamente a 'pegada pedagógica' que você usou para nos encorajar. Os textos são os nossos desafios diários. Do jeitinho que você explicou, precisamos nos ater à forma, ao conteúdo, à estratégia e ao objetivo que cada criação nossa precisa ter. Além desses ingredientes, vêm essas pitadas de pressão pelo tempo e pelas circunstâncias em que estamos produzindo. Aiai... DESAFIO é o termo que melhor ilustra a nossa posição criativa. É uma batalha a cada momento que nos deparamos com uma tela em branco. As suas disputas são sempre vitoriosas. Afinal, você tem a leveza necessária para encarar esses momentos momentos com maestria. Basta ler o seu texto para perceber isso... Abraço e boa semana!

Leticia Carvalho

Comunicação Interna | Produção de Conteúdo | Assessoria de Imprensa

4 a

Excelente artigo, Cíntia Neves! Mesmo sendo jornalista, muitas vezes tenho medo de escrever. Essa insegurança, na maioria dos casos, é o medo de ser julgada e de ir contra a opinião dos outros. Mas aprendi, com o tempo, a exercer minha autenticidade. Aprendi também que nem sempre as pessoas partilham as mesmas experiências que eu. Além disso, não são obrigadas a concordar com o que digo. E por último, não menos importante, saber regras gramaticais não significa saber usar as palavras certas. Requer transpiração, inspiração, cuidado e repertório (como você disse). Obrigada por compartilhar esse artigo! 🙏🤗

Frente a tanto medo proponha um pacto fazendo com que ele passe a senti-la deixando-o à vontade para inclusive, por seu intermédio, escrever. No mais é seguir sempre.

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