Eu disse SIM!

Meu primeiro casamento foi com um belíssimo e gentil homem, de onde nasceu nossa filha de 4 patas, a Leona. Construímos uma linda amizade repleta de cumplicidade e carisma. E assim dividimos nossa vida por 2 anos, dos quais fui muito feliz. Amigavelmente eu vi meu relacionamento se findar e dar início a uma fase conturbada, depressiva, em que eu só podia ver a escuridão.

Acompanhando o crescimento de meu amado sobrinho – na época com 8 anos – suas lições escolares e meu trabalho eu me sentia vazia, nada me consolava e eu conheci o fundo de um poço cinzento e solitário.

Em meio a este sentimento devastador eu lancei mão da PNL – Programação Neuro Linguística – como um último recurso e iniciei uma viagem em busca de mim mesma. Foram dias intensos e nublados, mas uma força interior, que eu desconhecia, me atava a este recurso de sobrevivência.

Poucas conquistas pessoais depois eu conheci então um grande amor, que veio a se tornar meu marido, homem este que amei intensa e profundamente, e ao elegê-lo como meu epicentro eu me joguei novamente de corpo e alma num relacionamento visando encontrar a metade da minha alma perdida. Foram quase 9 anos de um relacionamento que eu o coloquei em primeiro lugar na minha vida. Construímos uma amizade que creio perdurará por toda a eternidade, pois eu não amaria menos do que um ser humano brilhante, com um intelecto invejável. Desse relacionamento surgiu minha amada filha, Isa Mel, que desejei com todo amor, gerei em meu ventre e que acolho em meus braços como a maior preciosidade do universo, pois com ela conheci o amor mais puro que pude sentir. Contudo, depois de inúmeras turbulências em outros âmbitos este relacionamento chegou ao fim, cumprindo seu propósito em nossas vidas.

Como todo término, não obstante, deixou marcas, cicatrizes estas que levarei comigo com o âmago do aprendizado.

Nesse processo entre as idas e vindas do amor eu venho ao longo do tempo me enamorando, conhecendo um pouco mais dessa mulher que convivo integralmente. Venho conhecendo mais sobre os aspectos que a encantam e que a compõe, o que faz parte de sua essência e o que ela descarta, e passei a deixar ir inúmeras coisas, grandes pesos que eu carregava desnecessariamente: livros, roupas, pessoas, sentimentos, mágoas... comecei a rever tudo o que não fazia parte do que eu gostaria de guardar comigo... e o resultado foi uma leveza sutil...

Busquei novos caminhos, descobri novas coisas sobre a vida e percebi que existe um certo mistério no ar o qual me sinto impelida a investigar e que essa curiosidade nata me faz buscar sempre o encanto de ouvir as outras pessoas, as suas histórias, as suas alegrias, as suas mazelas... isso por si só já me faz feliz, pois participar da vida de outrem me da a oportunidade de me apoderar um pouco de sua vida e de me sentir parte de sua história. E ao emprestar o seu precioso tempo, eu sinto que trocamos um pouco de vida entre nós que e que ao tocarmos a alma um do outro eu me ilumino e ilumino também a outra pessoa...

Doei livros que já passaram pela minha vida deixando meus dias melhores, doei tantas roupas que já não serviam mais na mulher que agora me tornei, deixei irem pessoas que não queriam mais ficar, ressignifiquei sentimentos e pus pra fora minhas mágoas.

Depois dessa imersão profunda dentro de mim mesma eu emergi uma essência mais alegre, mais paciente, mais objetiva, mais consciente, mais autoconfiante, e mais feliz.

Está se tornando irresistível a vontade de me casar novamente, mas dessa vez com a pessoa mais importante da minha vida: EU MESMA. Assumo que falhei nesse aspecto anteriormente não me colocando em primeiro lugar e deixando de ser a protagonista dessa história, porém ao tentar fazer o outro feliz e deixando meus valores serem abalados eu me jogava um pouco mais no precipício existencial. Não me tornei egoísta, muito pelo contrário, eu consigo olhar mais para as outras pessoas agora do que antes e conquisto amizades mais facilmente, de modo que eu me preocupo sinceramente com o coração delas. Todavia eu me atribuo a responsabilidade de me fazer feliz e não só isso, me atribuo o direito de me amar livremente e de fazer novas escolhas todos os dias.

Viva, realmente a vida é uma festa! Eu tenho muito mais motivos para agradecer do que para me resignar ao sofrimento:

Acordar com minha filha ao meu lado é indescritível, poder ficar com ela na cama contando historinhas, saborear a deliciosa comida da mamãe, tomar café da manhã com meus pais e jogar conversa fora aos fins de semana, trocar confidencias com minhas amadas irmãs, rir a toa com elas, brincar com minha afilhada e acolhê-la em meus braços nos seus resmungos, conversar com meu sobrinho e ouvir suas histórias de adolescente, tomar um vinho em casa e rir até doer a barriga... Contar com o aconchego das amizades que enlacei ao longo da minha vida é acolhedor, ter as minhas adoradas tias, vivinhas, e passar um tempo com elas é extraordinário. Tudo isso compõe a simplicidade da minha vida, e essa simplicidade a torna grandiosa, e essa grandiosidade me faz ver que é uma proposta irrecusável e inadiável: VOU TER DE ME CASAR COMIGO MESMA... e munida de impetuosidade, perpetuar o brilho de uma existência única, numa era desbravadora e com muito menos barreiras que outrora.

Comemoro a vida em nome de todas as mulheres oprimidas que não puderam e não tiveram a chance de extrair da vida o melhor e serem felizes.

E por isso mesmo eu disse SIM pra mim, e caso com meus princípios, meus valores, meus ideais e meus sonhos, na certeza de que agora sim eu posso ser feliz e posso ser eu mesma, sem ter de pedir licença!