Eu estou me escolhendo (ou: como parar de tentar caber nos parâmetros dos outros)

Eu estou me escolhendo (ou: como parar de tentar caber nos parâmetros dos outros)


Eu tenho me debatido um tanto desde que descobri que existe um nome pro que eu sou e esse nome é “multipotencial”. Parece que é assim que são chamadas as pessoas que têm mil paixões diferentes, projetos diferentes, trabalham com áreas diferentes... Pessoas-polvo com os seus 438 tentáculos. ⁣

Eu sempre me senti um polvo: escritora; revisora; redatora; social media; ilustradora; colagista; criadora de conteúdo......... Sem falar no que eu ainda planejo fazer. Frequentemente eu me sentia um polvo descoordenado, cada tentáculo pra um lado, e achei que o mundo me levava pouco a sério. Como não levaria? Eu cresci ouvindo que “quem faz de tudo não faz nada bem”, “quem tá em todos os lugares não tá em lugar nenhum”. Faz parte, desde sempre o mundo que eu conheci não é um mundo voltado pra multipotencialidade. É um mundo de quem escolhe fazer uma coisa só - e faz. Faz só aquilo. ⁣

Como é que eu explico pra esse mundo que isso não me basta? Que eu preciso de mais, porque os meus tentáculos são todos parte fundamental do meu corpo e abrir mão de um deles seria uma forma de mutilação? Eu sei lá. Eu venho tentando explicar há anos e até hoje não consegui. Eu venho me encolhendo há anos pra ver se assim consigo caber na lógica deles e até hoje não consegui. E eu ainda me pego incomodada tendo que explicar que eu faço muitas coisas, como se fosse um crime, uma crise juvenil de quem não sabe escolher o que quer. ⁣

Mas eu tô escolhendo - e é isso que eu não quero esquecer. Eu tô ME escolhendo. ⁣

Eu escolho tudo que pulsa em mim. Eu escolho não abrir mão de nada que pulsa em mim. ⁣

Eu escolho respeitar cada um dos meus tentáculos e permitir que eles se mexam como bem entenderem (mesmo que às vezes isso crie uma coreografia meio esquisita pra quem olha de fora). Eu estou me escolhendo - e entre escolher e encolher, que bom que eu tenho ficado com a primeira opção.

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