A expansão de 16,3% da saúde privada e os modelos de remuneração baseada em valor e compartilhamento de riscos
O gráfico demonstra a evolução percentual do número de estabelecimentos de saúde privados entre 2017 e 2019 no Brasil:
- A UF que registrou menor crescimento, este foi de 11,6 %;
- E a maior, impressionantes 28,1 %.
É parte do Capítulo B1 – Estabelecimentos, do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil – Edição 2020 ( gesb.net.br ).
Nos cursos sobre Modelos de Remuneração citamos 11 pontos de atenção que as empresas do segmento (operadoras, hospitais, fornecedores ...) devem incluir na pauta das ações necessárias para migrar do Fee for Service para Modelos de Compartilhamento de Riscos e Remuneração Baseada em Valor.
Um desses 11 pontos se refere aos riscos da Elegibilidade e da Seletividade que existem em qualquer modelo que se oponha a um em que não há controle de demanda, que é a principal característica do Fee for Service – o modelo:
- Mais odiado pelas fontes pagadoras;
- Idolatrado pelo paciente / beneficiário;
- Que foi a base do desenvolvimento dos sistemas de financiamento da saúde no mundo todo;
- E que continua sendo o mais utilizado !
Os modelos de Remuneração Baseados em Valor, na prática, nem iniciaram ainda no Brasil – as iniciativas se restringem a:
- Precificar os produtos de forma diferente, sem parâmetros reais de valor. Tem vários casos em que foram substituídas as tabelas de preços tradicionais (AMB/CBHPM, Brasindice, Negociada) por uma Tabela de Preços de “Pacotes DRG”, sem parâmetro de qualidade assistencial (sem “valor”);
- Inserir parâmetros de qualidade assistencial que penalizam serviços, mas sem bônus, ou seja, um mero estabelecimento de desconto em preço que não incentiva o prestador a melhorar seu nível de serviço – apenas cumprir minimamente algumas metas;
- Fazer isso, na prática, somente na rede própria da operadora ... no fim das contas, aconteça o que acontecer, a fonte pagadora vai “pagar as contas” e “uma ou outra cabeça de administrador é trocada” pelo não cumprimento de uma meta geralmente inviável – não negociada adequadamente.
Já os modelos de compartilhamento de riscos são realidade no mundo e no Brasil, tanto na área pública como na área privada, e são mais viáveis aqui no Brasil para mitigar o problema da característica da nossa saúde suplementar de rede absolutamente fragmentada, e boa parte não regulada ... e estão colecionando resultados até além das expectativas !
Nos dois casos (Remuneração Baseada em Valor e Compartilhamento de Riscos) o monitoramento da Elegibilidade e da Seletividade é um fator chave de sucesso. Estes eventos ocorrem basicamente porque:
- No Fee for Service a conta acaba sendo paga praticamente na sua plenitude. A fonte pagadora pode dificultar/protelar a realização do procedimento, pode negociar preços em forma de pacote ... pode até utilizar a glosa para protelar o pagamento ... mas no fim a conta acaba sendo paga. O serviço de saúde não escolhe o que faz basicamente em função da forma de remuneração, mas em função da sua eficiência para realizar o procedimento, porque a margem de lucro é consequência da realização de cada procedimento;
- Nos outros modelos o preço sempre está vinculado a um padrão (ou de meta de produção, e/ou de meta assistencial pré estabelecida) – em um lote, ou grupo, ou carteira, e o serviço de saúde lucra pela média ... a métrica pode ser perder em um procedimento para ganhar em outro. E serviço de saúde passa então a escolher o que fazer basicamente em função da margem de contribuição decorrente do preço x custo, ou seja, prioriza aquilo que lhe dá melhor retorno custo x benefício.
Então ... no Fee for Service o serviço quer fazer tudo o for possível fazer ... mas nos outros:
- Ou seleciona os pacientes “mais interessantes” (elegibilidade);
- Ou seleciona os procedimentos “mais interessantes” (seletividade).
O gráfico ilustra o que está acontecendo no Brasil:
- Para cada novo estabelecimento público, são criados praticamente 3 novos serviços de saúde privados;
- E já existem hoje (fechamento de 2019) 3 estabelecimentos privados de saúde para cada 1 público (vide post / informe anterior).
(*) Considerar que:
- A maioria absoluta dos estabelecimentos do CNES são serviços de saúde;
- Ao contrário dos serviços de saúde públicos, que raramente se vinculam à saúde suplementar, os privados atuam nos 3 sistemas (SUS, Saúde Suplementar Regulada e Saúde Suplementar não Regulada).
O crescimento do número de serviços privados de saúde implica, entre outras coisas, em aumento da concorrência ... e naturalmente redução de preço.
Redução de preço reduz a margem de lucro do serviço de saúde:
- E reduzindo a margem de lucro ele naturalmente procura realizar os que lhe trazem maior relação custo x benefício;
- Fator fundamental para que ele incremente a elegibilidade e seletividade !
Este é o ciclo ... o aumento do número de estabelecimentos da área da saúde merece ser comemorado, e muito, por todos os atores do segmento ... mas dependendo do lado da mesa em que se está, como qualquer coisa que diga respeito aos negócios, também pode trazer efeitos indesejáveis !!
Vários números do estudo indicam localizações onde os riscos de Elegibilidade e Seletividade são maiores, mas vamos encerrar com o gráfico que demonstra o crescimento do volume de estabelecimentos privados em cada UF:
Além da grande variação entre UFs o que chama atenção é que, com exceção do DF que tem uma explicação diferente (vide post / informe anterior), os maiores índices estão vinculados às UFs onde o SUS comprovadamente é mais ineficiente, e nas que têm fronteira com países da região central e norte do continente ...
... o que na verdade não poderia ser diferente não é ?
Nestas UFs (exceto DF), onde o tema Compartilhamento de Riscos e Remuneração Baseada em Valor ainda é desconhecido, o risco real da Elegibilidade e Seletividade na implantação de modelos alternativos ao Fee for Service é o mais evidente !
Vou aqui tomar a liberdade de divulgar a agenda de cursos em turmas abertas que vou ministrar sobre o tema “Modelos de Remuneração de Compartilhamento de Riscos e de Remuneração Baseada em Valor”, além das aulas nos cursos de pós graduação, por exemplo da Faculdade Einstein:
Tem o curso na Jornada da Gestão em Saúde ( página jgs.net.br ), de 8 horas, chamado
Impactos dos Modelos de Compartilhamento de Riscos e de Remuneração Baseada em Valor nas Operadoras, Hospitais e SUS
Agenda:
- 3 de Abril – Joinville / SC
- 22 de Maio – São Paulo / SP
- 26 de Junho – Belo Horizonte / MG
- 31 de Julho – Brasília / DF
- 21 de Agosto – Curitiba / PR
- 02 de Outubro – Recife / PE
- 30 de Outubro – São Paulo / SP
- 13 de Novembro – Rio de Janeiro
- 04 de Dezembro – Porto Alegre / RS
E este tema também faz parte da Oficina que vamos realizar no GvSaúde ( fgvsaude.fgv.br ) nos dias 03 e 04 de Junho ... a oficina é de 16 horas – 2 dias seguidos – e abrange práticas comerciais da saúde suplementar e do SUS !
--
4 aPrecisamos muito insistir na implantação de novos modelos de remuneração.A a desconfiança entre os serviços de saúde e a ausência de sistema de informação contribui muito para o atraso dessa prática!
Gerente comercial | Gestão da rede credenciada e Relacionamento | Gestão de novos negócios | Gestão estratégica e parcerias
4 aAchei a matéria super construtiva e provocante, não havia chegado a esta ótica .. Mas acho que ainda não avançamos nos modelos de remuneração baseada em valor, pq precisamos passar por etapas ou passos que ainda são desconhecidos por algumas instituições, como os simples pacotes "gerenciados" que já conseguem ao menos trazer uma "certa" previsibilidade as fontes pagadoras .. quando conseguirmos avançar de braçadas nestas etapas iniciais estaremos prontos para transformar este sistema em um sistema mais sustentável!!
Head of Global Procurement Excellence @ Caldic
4 aluciene de vitoAlessandra DouradoMoises LoroWelles Meire Alves Cava
Autor do livro: “Modelo-RSVA\LCA^AIS: Remuneração Sistêmica por Valor Agregado nas Linhas de Cuidados Assistenciais compondo Ações Integrais de Saúde” (ISBN: 978-65-00-58745-6_784pg^dig)
4 aComo subsídio, sobre os “Modelos de Remunerações“ é preciso insistir: 1.Se o alvo for operacionalizar o Sistema-OPS^Sustentável é preciso TER e ATUAR com Métricas Sistêmicas-LCA^AIS – convergindo p/os INDICADORES: a)Custos por Processos-LCA^AIS – que são os Indicadores de Eficiência Econômica porque INTERNALIZA os de Eficiência e Eficácia Técnico-Operacionais das IS(públicas, filantrópicas, privadas e mistas) e b)Receitas por Fontes-LCA^AIS – que são Indicadoras de Eficácia Econômica porque resultam de PV p/os Clientes-IS dados p/Custos por Processos-LCA^AIS das IS(públicas, filantrópicas, privadas e mistas). 2.Assim, se pode visualizar Eficiência e Eficácia Técnico-Operacionais de Saúde Econômico-Financeiras de Perenidade – porque se TÊM: >Custos e PV por UnEqv(unid equiv a 1 consulta médica); >Custos e PV pVida-Ano com AIS; >Custos e PV pDoença na Saúde Curativa e na Saúde Preventiva; >Custos e PV pDoente na Saúde Curativa e na Saúde Preventiva; >Demais Custos e PV Totais e Médios necessários. 3.Sem esse indicadores continua-se-á com as posturas dos PV^Fictícios –derivados de Despesas-OPS- com Reajustes Repassáveis – que não têm como serem aceitos p/sociedade – inclusive órgãos de proteção e defesa do consumidor. 4.Logo, é inescapável ter que se adotra o “Modelo de Remuneração Sistêmica por Valor Agregado-LCA/IS^AIS”, com as especificidades de “solução definitiva” – que pode ser operacionalizado no modo “troca de pneus com o carro em movimento”. Lembrando que as LCA/IS^AIS correspondem as Linhas de Cuidados Assistenciais(médica, enfermagem, multiprofissional direta e multiprofissional indireta) por Instituição de Saúde compondo Ações Integrais de Saúde – nas Ofertas e Demandas, do Mercado de Fatores(Custos por Processos das IS: públicas, filantrópicas, privadas e mistas) e do Mercado de Serviços(Receitas dos Clientes: SUS, OPS e Particular). 5.Esse Modelo é o conteúdo do livro “Administração de Gestões e Governança da Saúde: Conceituação Aplicável e Suas Métricas Sistêmicas”(ISBN: 978-85-911971-7-0_705pg^dig) - que é prefaciado pelo Prof Dr José Otávio Costa Auler Júnior quando Diretor da FMUSP e Presidente do CD-HCFMUSP. É nesse livro que se a conceituação de Cultura-Compliance internalizando Accountability com Ética(como juízo de valores disponibilizadores de protocolos aplicáveis nas LCA/IS^AIS) e Moral(como métricas sistêmicas dos protocolos dados p/Ética aplicável em LCA/IS^AIS). Além disso, têm as distinções sistêmicas entre Gestão, Administração e Governança.