Expectadores da nossa própria vida...

Expectadores da nossa própria vida...


Desde março de 2020, vivemos uma grande expectativa em relação aos caminhos que seriam traçados pela pandemia ocasionada pela Covid, que em poucos meses passou a ser o centro de todos os acontecimentos mundiais. No início era sobre o que realmente iria acontecer nos esperados quarenta dias da suposta quarentena, depois sobre a descoberta da vacina, depois em relação à aplicação na população e assim por diante. A estratégia da expectativa cabe muito bem em situações de incerteza e isso não faltou no início da pandemia, e podemos dizer que ainda faz parte das nossas vidas em relação ao referido assunto.

Como podemos definir a expectativa e como ela nos influencia? Do latim exspectare, a palavra expectativa é utilizada para designar a condição de alguém que tem esperança em algo que foi baseado em promessas ou visibilidade de se tornar realidade. O sentimento de expectativa só pode existir na ausência da realidade, ou seja, quando o objeto que motiva a expectativa ainda não se tornou viável e real, sendo apenas uma condição presente no desejo de posse do indivíduo, por exemplo. As expectativas não têm os freios que compõem a vida real, desse modo, atropelos, interpretações, sentimentos, nada disso impede a imaginação e a criação dessa composição.

Por outro lado, quem não tem expectativas não sonha, não estabelece metas, não busca realizar aquilo que o propulsiona. Certa vez ouvi de um maratonista (aquele que consegue a marca dos 42km em uma corrida), que nos últimos quilômetros, se corre com o coração, pois o corpo muitas vezes já não responde mais sozinho. Para ter essa motivação, ele se imaginava cruzando a linha de chegada, com as pessoas que amava o recebendo e celebrando a sua vitória pós tanto desgaste. A expectativa tornava-se o combustível necessário durante a jornada.

Existe uma linha muito tênue entre expectativa e ansiedade, tendo em vista que ambos os estados são de pensamentos que antecedem o futuro, e por isso são muito maleáveis às previsibilidades da vida real. Ou seja, quanto menos realista a expectativa, mais vulnerável estará a sintomas ansiosos, pois ela não terá o alinhamento com a realidade, porém são vitais para o crescimento e desenvolvimento pessoal.

No entanto, se basear sempre em fatos palpáveis e reais nos exime do encantamento que nos trás o desconhecimento do futuro. E tudo bem em criar expectativas, sonhos e tudo o que se tem direito, pois a vida extremamente calculada e racional, além de ser previsível, perde todo o seu brilho. Não devemos ser expectadores da nossa própria vida, devemos ser atores e protagonistas, ensaiando, errando e acertando. Na peça da vida, vale fazer castelo de cartas de baralho, mesmo quando o vento sopra forte...e quando desabar? Estar sempre preparado para voltar o texto, corrigir, rir de si mesmo, juntar as cartas e montá-las quantas vezes for preciso...

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