A experiência (in)crível do Surrealismo no cinema

Um homem afia a sua navalha enquanto fuma um cigarro. Sai pela sacada do apartamento e observa o caminho das nuvens de encontro à Lua. Em um corte brusco, a câmera fecha o enquadramento no rosto de uma mulher, e como as nuvens cortam a Lua, a navalha rasga o globo ocular da moça que tem as pálpebras abertas por um homem. O que acontece depois? Ninguém jamais conseguiria lhe explicar.

Poderia ser o texto acima uma sinopse da obra surrealista - não por coincidência - de Dalí e Buñuel. Me pergunto se, fora do contexto da disciplina de "Técnicas de Documentário" cursada durante o 6° semestre da graduação de jornalismo, eu assistiria a "Un Chien Andalou". De fato, a curiosidade poderia me levar aos primeiros minutos de filme na tentativa de entender o que está acontecendo, mas, ao não satisfazer a minha curiosidade - que prefere ser alimentada por uma narrativa de suspense sem pontas soltas -, acabaria frustrada interrompendo o enredo sem saber o "final".

A linearidade não-linear da trama é um espinho no assento de quem, assim como eu, está acostumado a se satisfazer com estórias previsíveis. É atemporal e objetivamente não cronológico o desenrolar do filme, por isso, é reconhecido até hoje como o start do cinema.

A subjetividade e radicalismo de Chien Andalou - que não possui como personagem um cão - é justamente o que constrói o surreal. Qualquer metido a filósofo psicanalista falharia miseravelmente ao tentar identificar o porquê de cada cena, até porque, segundo os idealizadores, nada do filme tem sentido.

Se alguém me perguntasse se é possível sonhar acordado ou experimentar sóbrio o efeito de alguma droga alucinógena, eu lhe recomendaria assistir a estes preciosos 21 minutos e 26 segundos.

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