ESG para pequenas empresas: faz sentido?
Nos últimos tempos, tenho sentido a necessidade de olhar a Governança para além do viés que executo no meu dia a dia, e hoje não há como olhar para a Governança sem pelo menos flertar com o ESG. Então, em um exercício de “olhar para o lado”, percebi que para o pequeno empreendedor os pilares ESG parecem assuntos tão distantes e inatingíveis, com cara e cheiro de grandes empresas, de métricas para poucos e inalcançáveis a baixo custo, de muito tempo gasto para pouco resultado diante de tantos desafios diários.
Pequenas não estão com seu radar afiado como os grandes, mas deveriam fazem parte deste movimento. Hoje, o segmento dos micro e pequenos significam 27% do PIB do país, então não há como ignorar a sua existência. E talvez para este empresário falar sobre ESG não signifique de imediato um impacto relevante nos seus resultados, mas a verdade é que sim, cada vez mais o impacto do ESG será visto e sentido por todos.
Talvez o foco do empreendedor esteja em captar mais clientes, na digitalização do seu comércio ou no pagamento de menos impostos e não haja espaço em sua agenda para mais esse enfoque, mas todas as preocupações são relevantes, presentes e melhoráveis quando falamos em ESG.
Num rápido e superficial exercício de reflexão, e sem querer trazer tecnicidade ao debate, pensei que, quando mitigamos riscos, definimos plano de negócios, planejamos a redução de custos, criamos o hábito de olhar para o estratégico, olhamos para o futuro definindo um processo sucessório, estabelecemos acordos entre sócios e regras para uma convivência saudável e duradoura, estamos também falando de Governança. Então, quando olhamos para o G do ESG, estamos dando perenidade e metodologia para crescimento sustentável do negócio através de um sistema que pode ser simples e que muitas vezes já existe e só precisa ser mapeado e melhorado.
Se quando pensamos na nossa comunidade, olhamos para no nosso capital humano, para o impacto da nossa atividade na sociedade, estamos falando do Social, então planejarmos como podemos impactar de forma positiva o nosso entorno deve estar no farol de todo e qualquer empresário. Sabemos que existem pequenas cidades que o Social é basicamente fomentado pelo empresariado, mas essa voz ativa e poderosa precisa se fazer ainda mais empoderada, entendendo o seu valor e o seu alcance. Olhar para o seu RH também é fundamental, pois está nele o material humano que define o futuro do seu negócio, então buscar ser inclusivo e diverso pode parecer uma atitude simples, mas que tem um efeito ímpar.
E se quando falamos do impacto da sacola que distribuo nas minhas compras, da lâmpada que utilizo na minha loja, da forma como gerimos o resíduo do meu empreendimento, estamos falando de Sustentabilidade, o pequeno empresário pode e deve ser um catalizador das boas práticas sustentáveis. Cabe dizer que essas boas práticas afetam diretamente a imagem da empresa na comunidade, pois cada vez mais o consumidor busca empresas que prezem por esse pilar. Em pesquisa da EY Future Consumer Index 2021, 61% dos consumidores brasileiros passaram a observar os valores praticados pelas empresas das quais pretendem comprar.
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Para além destes exemplos de pequenas formas de desenvolver ações ESG, temos as grandes empresas num movimento rápido e contínuo em direção às práticas ESG. Com isso, já é realidade para muitas grandes empresas estipularem pré requisitos ligados ao ESG para contratações B2B. Ademais, instituições financiadoras têm preferido alocar capital em organizações que já internalizaram agenda ambiental, social e de governança.
Novas ações em direção aos pilares ESG e a organização da responsabilidade do negócio não precisa passar por um investimento alto. Por exemplo, ao invés de um Conselho robusto, caro e inatingível para o micro e pequeno empresário, uma mentoria ou consultoria na ajuda a mapear gaps e maturidade do negócio, formalizar processos e implantar formatos de Governança possíveis e efetivos, que não sejam só mais um custo e que retornem em valor, financeiro e reputacional.
A aplicação de uma gestão ESG não é simples, exige tempo e energia para adaptação de inúmeros processos, melhoria contínua e estimulo à inovação, a meta deve ser encontrar o equilíbrio entre a busca de valor no longo prazo com a adoção de práticas ESG sem esquecer dos lucros de curto prazo.
Então sim, o ESG já faz parte dos negócios, do pequeno ao grande e é um desafio integrar todas as esferas sem deixar de olhar para o lucro de hoje e todos os outros dilemas empresariais. Mas a verdade é que hoje e no futuro teremos que lidar com a presença cada vez mais forte dos pilares ESG e enxergá-los uma alavanca de valor, não por modismo, não por tendência, mas por sobrevivência. E, nesta linha, enquanto eu pensava que precisava escrever como vejo a importância de empresas de qualquer tamanho terem o ESG na sua pauta diária, li a notícia de que o SEBRAE criou Comitê para levar o ESG a empreendedores de pequenas e médias empresas. Ponto pra toda a cadeia de consumo, pois teremos este órgão, que é referência para tantos empresários, olhando para o futuro e trazendo essa visão para o cotidiano do empresariado.
E para nós, sociedade, cabe ainda mais avalizar as empresas que estão olhando para estes pilares e validar que, de fato, ESG é para todos, e para agora.
Consultora Fundadora da Almatech® - Comportamento, Governança, Dados para desenvolvimento humano, promoção de governança e gestão.
1 aGabriela Vianna relevantes reflexões, o ESG muitas vezes é visto como algo apenas para os grandes, alguns apresentam como produto, quando, em verdade, ESG é uma nova forma de pensar, paira no clima organizacional, se materializa nas ações, práticas, na cadeia de valor e stakeholders, assim se aplica a todos. 🙏🏻❤️
Advogada Corporativa | Governança, Compliance e LGPD
1 aReflexão muito necessária, Gabriela. E essa novidade do SEBRAE?! Maravilha!